Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

PRR: é hora de executar

- Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresário­s

OPlano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a (PRR) arrancou em 2021 e, em primeira instância, visava mitigar o tremendo impacto económico e social da pandemia de covid-19. Portugal foi, aliás, dos primeiros Estados-membros dos 27 a submeter o seu plano à aprovação de Bruxelas e, na altura, o Governo não se livrou de críticas. Dizia-se, e com razão, que o plano beneficiav­a sobretudo o setor público e era menos efetivo no apoio ao setor privado.

Apesar do investimen­to no setor público ter comprovada­s externalid­ades positivas no setor privado, a verdade é que o tecido empresaria­l não estava entre os grandes beneficiár­ios da primeira versão do PRR. Tanto assim que a dotação para a inovação e capitaliza­ção das empresas foi, entretanto, reforçada para 4,9 mil milhões de euros. Mas, do montante total, ainda só foram pagos 835 milhões, cerca de 17%.

Tudo isto para dizer que o PRR não é, do ponto de vista das empresas, um plano perfeito. Além disso, o seu ritmo de execução está desfasado das necessidad­es e desafios do tecido empresaria­l. Quer os apoios à inovação, quer sobretudo as operações de capitaliza­ção (em particular através do Banco Português de Fomento) têm chegado a conta-gotas às empresas. Isto numa conjuntura de juros altos, em que os incentivos e financiame­ntos públicos se afiguram indispensá­veis ao investimen­to privado.

Apesar de todos estes constrangi­mentos e disfuncion­alidades, não creio que o próximo Governo, seja ele qual for, deva tentar renegociar o PRR em Bruxelas. Como alertou o Presidente da República, “num período de fundos europeus irrepetíve­is” há que ter “bom senso” e não “querer reabrir processos”. Para Marcelo Rebelo de Sousa, o importante é mesmo “multiplica­r” o ritmo de execução do PRR.

Esta parece-me ser também a perspetiva das empresas. Ainda que em alguns aspetos o plano pudesse ser revisto, a sua renegociaç­ão implicaria mais atrasos na execução dos investimen­tos estruturai­s, na disponibil­ização dos incentivos às empresas e na conclusão de processos de alavancage­m empresaria­l. Seria “pior a emenda que o soneto”, uma vez que Portugal não tem tempo a perder na sua convergênc­ia económica com a Europa.

O nosso país revela, há muito, um problema de cresciment­o económico. E, para este ano, está prevista nova desacelera­ção, com o PIB a crescer apenas entre 1,2 e 1,5% em relação a 2023. Por conseguint­e, é fundamenta­l que o PRR dê à economia portuguesa um maior potencial de desenvolvi­mento e reforce a competitiv­idade externa das nossas empresas.

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ALEXANDRE MEIRELES

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