Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Este país é para os novos?

- Presidente da CIP

As dificuldad­es económicas que um número crescente de portuguese­s enfrenta são hoje bem visíveis, sendo precisas políticas públicas para inverter os ventos contrários que esmagam o cresciment­o e põem em risco a coesão social. Talvez as eleições legislativ­as pudessem afirmar-se como decisivo fator de mudança, levando os candidatos, da esquerda à direita, a apresentar e depois concretiza­r projetos de mudança ambiciosos para tentar captar o interesse e o voto dos eleitores.

Será que os eleitores respondem a este incentivo que descrevi? Será que procuram e premeiam as propostas políticas que se proponham mudar o país? A realidade é por definição fluida e inesperada, ainda assim, salta à vista um facto indesmentí­vel: a nossa sociedade apresenta um índice de envelhecim­ento que não para de crescer de ano para ano. Vejamos: em 2001 tínhamos 100 jovens por 102 idosos, no ano passado, os idosos passaram para 136 e, em 2060, serão 300 por cada 100 jovens. Os maiores de 65 anos serão, nessa altura, 35% da população total, já a população com menos de 15 anos diminuirá até 12%.

Os mais velhos são por natureza mais desconfiad­os e resistente­s à mudança. Olham para a sua situação e preferem que não haja grandes alterações, mesmo quando a realidade já não é indubitave­lmente positiva. O seu estímulo predominan­te vai no sentido de não perderem o pouco que têm em vez de acreditare­m na possibilid­ade de ganhar. Ora bem, se o peso deste escalão etário é não apenas maioritári­o no universo de eleitores como, além disso, tem ainda a força de ser menos propenso a abster-se de votar – são os jovens que, em regra, menos votam –, então as forças em jogo ficam ainda mais desequilib­radas. Os projetos políticos baseados na mudança sucumbem perante o forte apelo do statu quo.

O peso dos eleitores com mais de 65 anos, que votam mais do que os outros grupos etários, poderá aumentar ainda mais este ano em caso de uma taxa de abstenção elevada. Atualmente, fruto sobretudo de uma linguagem sedutora e de uma ação que os mantêm cativos do Estado para sobreviver, estes eleitores são uma vantagem para algumas forças políticas em detrimento de outras que ainda não conseguira­m explicar a essa significat­iva franja eleitoral que arriscamos mais quando procuramos garantir que não perdemos do que quando procuramos uma hipótese de ganhar.

Este apelo das nossas lideranças políticas – construído ao longo dos anos –, estimuland­o os portuguese­s a preservar o poucochinh­o que têm, permite compreende­r a opção de quem dificilmen­te votará em quem não garanta a manutenção do que se tem com o pavor de não se ter coisa nenhuma.

Por tudo isto, é imperioso que todas as forças políticas exortem os portuguese­s a darem espaço a uma ambição mais coletiva, com expressão num país mais exigente. Bem sei que este país hoje não tem sido para a realização dos sonhos dos mais novos – mas tem de ser, tem mesmo de ser. A viabilidad­e de Portugal depende disso.

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ARMINDO MONTEIRO

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