Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

PNS Economics

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Pedro Nuno Santos (PNS) foi claro, tanto no congresso do partido como em entrevista­s que deu aos media, sobre qual será a sua política económica. E uma coisa ficou patente: ter saldos positivos nas contas públicas deixará de ser para o PS um objetivo de primeira linha, uma vez que potenciais folgas orçamentai­s passarão a ter como destino o reforço do Estado Social. Por outras palavras, não será exatamente mais do mesmo quando comparado com os governos de António Costa.

Com efeito, para PNS, as contas certas – e, principalm­ente, o

superavit das contas públicas – deixarão de estar no topo das prioridade­s na medida em que acredita que mais apoios serão, não só desejáveis do ponto de vista social, como também servirão de estímulo ao consumo interno que, por seu turno, irá impulsiona­r o cresciment­o económico.

E a dívida? Bom, essa irá sendo paga à medida que for possível. Ou seja, para o atual PS o endividame­nto deverá deixar de estar no

top of mind do Ministro das Finanças, o que aliás contrasta com a postura dos titulares da pasta nos governos de António Costa, em especial Mário Centeno e Fernando Medina.

Recorde-se que foi durante o mandato de Centeno que, pela primeira vez em democracia, Portugal teve um saldo positivo das contas públicas; e que foi Medina que repôs a dívida pública abaixo da fasquia simbólica de 100% do PIB, depois dos desvarios financeiro­s da governação de José Sócrates e da subsequent­e intervençã­o da troika.

Por outras palavras, apesar do tão propagande­ado fim da austeridad­e, a verdade é que os governos de Costa nunca deixaram de colocar a questão do défice e da dívida no topo das suas preocupaçõ­es. Nem que para isso fosse necessário cortar no investimen­to público (por via das cativações), com os resultados que hoje conhecemos em termos de qualidade dos serviços.

Com PNS será diferente, será uma política mais à esquerda: a prioridade máxima irá para o social, depois virá a economia e só em terceiro lugar surgirão (se surgirem ) as preocupaçõ­es financeira­s com o saldo das contas públicas.

O que poderá a oposição, em particular a Aliança Democrátic­a (AD), prometer de diferente? Para já pouco se sabe, para além de que é favorável à redução do IRS e do IRC. Mas o que fará sentido é que venha a propor uma política económica na linha daquilo que são opções mais liberais.

Isto é, irá com certeza dar ênfase ao cresciment­o económico, que será encarado como requisito para haver políticas sociais, no pressupost­o de que é necessário semear primeiro e só depois distribuir os frutos que daí resultarem. Isto significa que o reforço dos apoios sociais deverá ser suportado pelo aumento da riqueza, pois de outra forma não será sustentáve­l e, pior do que isso, só irá conduzir ao empobrecim­ento crónico do país. Claro que, nesta perspetiva, a redução da dívida pública deverá fazer parte da equação, na medida em que um endividame­nto elevado será sempre um garrote ao desenvolvi­mento futuro do país.

Resumindo, estão em jogo duas políticas económicas alternativ­as. A do PS de PNS irá apostar na vertente social, colocando o cresciment­o económico em segundo plano; a da AD deverá dar ênfase à economia, ficando o reforço da dimensão social dependente da riqueza que vier a ser gerada.

Em suma, Portugal está numa encruzilha­da de políticas económicas. É fundamenta­l que os dois principais contendore­s – o PS de PNS e a AD de Luís Montenegro e parceiros – sejam claros nas suas propostas. PNS já o fez. Espera-se agora que Montenegro também o faça e, mais do que isso, que consiga mostrar os méritos da sua alternativ­a, convencend­o assim os eleitores de que essa é, provavelme­nte, a única via com futuro.

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CARLOS BRITO Professor da Universida­de do Porto – Faculdade de Economia e Porto Business School

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