Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Israelita Tamar prepara abertura de mais dois hotéis boutique com histórias do Porto
Grupo tem na Saboaria a sua joia da coroa, enquanto estuda oportunidades para reforçar presença no país. Douro e Alentejo estão no radar dos três empreendedores de Jerusalém.
O grupo israelita Tamar tem em construção dois novos hotéis boutique no Porto, cuja abertura deverá ocorrer ainda em 2024. Com esses projetos, passará a explorar quatro unidades hoteleiras na cidade, cuja linha unificadora é a valorização das histórias da urbe. Junto às velhas Escadas dos Guindais, nascerá o Arnaldo, numa referência ao escritor e jornalista portuense do século XIX Arnaldo Gama, eternizado numa estátua colocada nas proximidades. Terá 45 quartos. Na Rua da Fábrica, está a ser reabilitado um edifício que dará origem a um hotel de 44 quartos. Chamar-se-á Fábrica, numa alusão à Real Fábrica do Tabaco, que em tempos idos funcionou nesta artéria portuense.
Os três jovens israelitas que detêm o grupo Tamar – Uri Maeir, Hillel Gassenbauer e Amir Madeson – têm ainda outros projetos em curso no país. Em Lisboa, concretamente em Alcântara, preparam-se para transformar um velho edifício num aparthotel de cinco estrelas. Como adianta Uri Maeir, o processo de licenciamento foi demorado, mas a obra deverá arrancar ainda este ano. Em Tentúgal, compraram uma propriedade que pertenceu à família real, onde pretendem ter uma oferta de alojamento e de promoção artística. A ideia é “convidar artistas a apresentar performances e abrir as portas à participação de todas as pessoas”, diz. Este é um investimento que será realizado faseadamente.
E não quer ficar por aqui. Neste momento, está a olhar para o Douro e Alentejo. Segundo Uri Maeir, “estamos muito bem em Portugal”. Aliás, tanto Uri como Amir vivem no Porto, quando, há pouco mais de seis anos, encontraram “um local a que pudessem chamar casa”. Desde aí, têm analisado oportunidades de reabilitação de edifícios com alma e história. O capital para desenvolver estes projetos chega maioritariamente de family officers israelitas. Uri Maeir escusa-se a revelar os valores investidos até à data, apenas esclarece que cada edifício tem o seu próprio grupo de investidores. As obras são realizadas com financiamento bancário.
Sob o aroma do sabão
A Tamar não revela os valores investidos até à data, apenas esclarece que cada edifício tem o seu próprio grupo de investidores.
O último projeto do grupo Tamar (e o segundo em operação) a abrir portas foi o hotel boutique Saboaria, na muito antiga e estreita Rua do Bonjardim, no Porto. A unidade segue o princípio estabelecido pelos três empreendedores de investir em edifícios que aportem história. Aqui, recuperaram a memória da antiga Saboaria do Bolhão, muito reconhecida pela produção do famoso sabão Offenbach. Segundo conta o grupo, os dois edifícios que hoje constituem a Saboaria foram propriedade de várias famílias nobres ao longo dos séculos e, já no fim de oitocentos, o empresário galego Vítor Maria Martins fundou a Saboaria do Bolhão junto ao antigo logradouro deste edificado.
Sob os aromas do sabão e com clara aposta na criação de um ambiente de tranquilidade mesmo no centro do Porto, a Saboaria integra 28 apartamentos divididos por três pisos e dois edifícios, sendo que no centro deste edificado pontifica um pequeno jardim com uma piscina aquecida e onde também está instalado o SPA da unidade. As áreas dos estúdios variam entre os 30 e o 75 metros quadrados, alguns com amplas salas de estar, varanda com vista para o jardim ou um enorme jacuzzi instalado no quarto. Estas pequenas casas têm uma kitchenette, equipada com placa de indução,
forno, micro-ondas, máquina de café e minibar, a que se soma a particularidade de terem tapetes de ioga para os hóspedes usufruírem de momentos de relaxe e bem-estar. Entre os serviços disponíveis, há aulas de ioga e workshops de sabão artesanal.
Uri Maeir recusa o título de luxo, mas a Saboaria foi pensada por muitos criadores, entre arquitetos e designers, e envolveu um historiador. O projeto, que transformou “uma completa ruína, com telhados a cair” num espaço que ambicionava “ser único”, acabou por o obter o 1. lugar na edição de 2023 dos prémios SIL-Imobiliário, na categoria de reabilitação urbana. O património existente deu a linha de condução ao projeto. Os autores replicaram as incrustações em ferro fundido nas portas, instalaram mosaico hidráulico a preto e branco inspirados nos pavimentos originais e a cor das carpintarias manteve-se numa espécie de verde pardo, que lembra as antigas oficinas de madeira.
O jovem empreendedor não revela as receitas que está a gerar a unidade, nem a rentabilidade obtida pelos investidores, vai apenas adiantando que a taxa de ocupação ronda os 75%, com os norte-americanos, franceses, espanhóis, britânicos e portugueses a serem predominantes na procura. No Laranjais, o primeiro projeto de alojamento turístico do grupo Tamar no Porto, o negócio corre de igual forma. Esta unidade, que também resultou da requalificação de um edifício na Rua do Almada onde, segundo reza a história, existiu um campo de árvores – daí a designação – tem 24 apartamentos para o segmento alto.
Uri Maeir e Hillel Gassenbauer renderam-se ao Porto e a Portugal. Desde 2017 que se instalaram na cidade nortenha e até já constituíram família. Foi aqui que encontraram o que procuravam. Como sublinha Uri Maeir, “estávamos à procura de um lugar que pudéssemos chamar casa e surgiu a oportunidade de viver neste país, calmo e seguro, onde podíamos desenvolver a nossa paixão pela reabilitação”. Amir Madeson continua a viver em Jerusalém, a terra natal destes três amigos de infância, acompanhando mais de perto os investidores. Vem com frequência ao país, até porque estes empreendedores continuam a ver oportunidades e acreditam que o potencial turístico se manterá por muitos anos.