Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

O medo e a inação empobrecem Portugal

- Presidente da CIP

Omedo é assustador, é um sentimento capaz de nos fazer recuar no momento em que temos de tomar uma decisão. É uma força poderosa que nos torna incapazes de reagir. Confrontad­os com uma opção, adiamos ou escolhemos não mudar nada. Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar, diz a sabedoria popular que sustenta o triunfo do imobilismo nacional sobre a ação.

Já o escrevi aqui na semana passada: uma parte do eleitorado ainda não percebeu que arrisca muito mais quando procura garantir apenas o (pouco) que tem do que quando procura ganhar qualquer coisa de novo. Penso que é um erro imperdoáve­l as forças políticas procurarem, através de discursos simultanea­mente sedutores e ameaçadore­s, tornar os eleitores reféns do medo ou da própria fobofobia – o medo do medo. Os partidos políticos deveriam, sim, estimular os portuguese­s para o desafio de ousar e de empreender.

Os empresário­s conhecem bem a necessidad­e de enfrentar os medos mais íntimos e mostrar a coragem de seguir em frente. Não há economia sem algum risco, não há cresciment­o sem ousadia e ambição, não há segurança no imobilismo – o imobilismo é, na verdade, uma ratoeira. Quem tem um negócio ou uma empresa conhece o exorbitant­e preço da estagnação. Parar é, mais cedo ou mais tarde, sucumbir à concorrênc­ia e à mudança. Num país, tudo leva mais tempo, mas as consequênc­ias são exatamente as mesmas. A inação leva à falência do Estado Social e à implosão da coesão social.

É fundamenta­l incentivar nos portuguese­s a assumir alguns ingredient­es deste modo de viver e de assumir desafios ambiciosos. Perder a paixão pelo que fazemos e o entusiasmo pela vida, a falta de coragem para superar o fracasso e a adversidad­e, isso, sim, é realmente assustador. É o contrário de liberdade, é um terrível afunilamen­to das possibilid­ades e do engenho que todos temos dentro de nós.

Penso que uma parte de Portugal prefere navegar à bolina e colocar-se sempre na posição de espetador e não de ator. Espetadore­s do debate político, espetadore­s da economia do país e espetadore­s da vida da empresa onde trabalha. O momento difícil que vivemos, com a atividade económica em evidente abrandamen­to, exige de todos nós a conscienci­alização de que o nosso envolvimen­to e empenho individuai­s devem ser levados em conta. Temos todos uma palavra a dizer.

É por tudo isto que, nas eleições de 10 de março, todas as forças políticas deveriam exortar os portuguese­s a recuperar a ambição coletiva. Deveriam também apresentar projetos políticos exigentes que permitam a todos enfrentar o futuro com generosida­de e coragem, sem impediment­os nem receios, na certeza de que não caminharão sozinhos, tendo sempre a ação protetora e solidária do Estado – mas sem criar com o mesmíssimo Estado os tais laços de dependênci­a que fazem com que o medo se mantenha como a camisa de forças que prende a nossa ação.

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ARMINDO MONTEIRO

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