Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Até qualquer dia...
Pelas várias implicações, o foco na evolução da população residente em Portugal é absolutamente crítico. É tema ao qual tenho dedicado particular atenção e reflexão, partilhadas neste espaço de opinião. Em janeiro de 2023, alertei para o facto de as estatísticas demográficas exigirem uma ação imediata. Hoje, o alerta mantém-se, mas com uma pertinência redobrada. O assunto tem merecido a atenção da opinião pública, graças às estimativas do Observatório da Emigração.
É inconcebível que Portugal tenha hoje uma das taxas de emigração mais altas na Europa e no mundo. É certo que tivemos em décadas do século passado outras vagas de emigração. Porém, hoje temos um perfil totalmente distinto, sendo, sobretudo, jovem e mais qualificado. Por isso, mais bem preparado, com maior capacitação de adaptação à mudança, num mundo em que os desafios são muitos e as transformações são permanentes e disruptivas.
É um talento que joga a favor dos países onde os nossos jovens se instalam. Ao invés, Portugal assiste a um talento desperdiçado, com reflexos negativos e amplamente limitadores do potencial de crescimento e desenvolvimento da economia portuguesa.
Este êxodo de jovens qualificados pressiona, no sentido descendente, a evolução do saldo natural, face à menor proporção de mulheres em idade fértil residentes no país.
Não podemos “condenar” a saída destes jovens. As suas aspirações são muito legítimas. O que é de condenar é a escassez de medidas, em larga escala, que promovam a sua retenção no nosso país e estimulem quem está lá fora a regressar. As pessoas são a solução e não o problema.
Seguramente, não estão apenas em causa os níveis de remuneração bruta praticados pelas empresas em Portugal, mas o seu valor líquido, que a elevada carga fiscal reduz de forma substancial. Portugal está entre os países da OCDE onde a fiscalidade sobre o trabalho é das mais elevadas e progressivas.
A falta de oferta de habitação é outro grave problema.
Finalmente, só com crescimento económico robusto, com empresas que criem produtos de maior valor acrescentado e com políticas públicas que permitam que o rendimento chegue às pessoas é que podemos inverter esta tendência.
“Não estão apenas em causa os níveis de remuneração bruta praticados pelas empresas em Portugal, mas o seu valor líquido, que a elevada carga fiscal reduz de forma substancial.”