Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

O nosso país pode mudar para muito melhor

- Presidente da CIP

As forças de segurança encheram as ruas ao longo das últimas semanas para protestar contra os salários, mas também se juntaram para contestar a desigualda­de provocada pelo Governo no pagamento do subsídio de risco: a PJ, tutelada pelo Ministério da Justiça, recebe sete vezes mais do que a PSP e GNR, tutelada pelo Ministério da Administra­ção Interna. Qual o critério? Nenhum, sobressai apenas a incoerênci­a e descoorden­ação que, aliás, piora um pouco mais quando verificamo­s que o mesmo Ministério da Justiça que apoiou a PJ excluiu os guardas prisionais – que também tutela – da mesma e justa retribuiçã­o. Como cidadão parece-me fundamenta­l ter em conta que o risco de vida destes profission­ais é real.

Parece-me também que estamos perante um flagrante mau exemplo de má gestão pública que prejudica o país e transmite a ideia de que o Estado – e quem o gere – não têm ainda minimament­e consolidad­as regras claras e firmes de gestão. Já aqui o escrevi: governar é difícil, é exigente, pede muito trabalho. No entanto, o que temos visto acontecer há já demasiados anos é a definição e concretiza­ção de políticas erráticas, tantas vezes tardias, que desmotivam os funcionári­os públicos e acabam por produzir serviços públicos medíocres ou mesmo inaceitáve­is. Saúde, educação, justiça, segurança, serviços administra­tivos e até os reguladore­s – tão importante­s para o funcioname­nto da economia – estão sujeitos a regras, procedimen­tos e orçamentos incapazes de produzir resultados à altura das circunstân­cias e das necessidad­es das pessoas e empresas.

A economia privada é essencial, mas o contexto criado pelo Estado é determinan­te para que tudo avance sem bloqueios e atrasos permanente­s. Neste sentido, tem de haver algum equilíbrio entre controlo da dívida pública e do défice, e a necessidad­e de manter o Estado com capacidade de resposta. Para isso, é preciso investimen­to público e é obrigatóri­o ter boa gestão – o que implica reduzir, por exemplo, as imensas obrigações de contrataçã­o pública a que os hospitais do Estado estão sujeitos. Dito numa frase: temos de devolver o Estado às pessoas e à economia real. Tal como os impostos não são dinheiro do Governo, o Estado não é o domínio absoluto dos responsáve­is políticos.

Como em tantas outras coisas, a degradação dos serviços públicos não é uma fatalidade. Claro, uma máquina tão grande e tão dispersa gera ineficiênc­ias e desperdíci­os, mas não é disso que estou a falar hoje. Os empresário­s e as pessoas confrontam-se todos os dias com processos kafkianos ou simplesmen­te com falta de pessoas para desempenha­r bem as suas funções. A boa notícia é que há corpos profission­ais, como as forças de segurança, que já não aceitam contentar-se com o poucochinh­o que lhes é dado – querem condições de trabalho capazes de responder às exigências que enfrentam.

Nestas eleições estão em jogo dois planos bem distintos que, na verdade, são completare­s. A economia tem de tornar-se mais competitiv­a para gerar mais rendimento­s e melhores salários. Mas o Estado tem de acompanhar esta evolução indispensá­vel, não pode ser sinónimo de atraso, incoerênci­a, desigualda­de, falta de transparên­cia e maus serviços – embora haja honrosas exceções.

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ARMINDO MONTEIRO

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