Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
As duas boas razões para os jovens votarem desta vez
Ainda era candidato à liderança do PS quando Pedro Nuno Santos (PNS) afirmou que o país continua a perder milhares de jovens qualificados para a emigração, porque “não temos ainda uma economia capaz de os absorver”. A afirmação tem tanto de importante para o futuro (e PNS pede maior sofisticação para subir salários), como de crítico para o governo de António Costa – do qual ele próprio fez parte e é corresponsável – e que nunca chegou a ter políticas suficientemente robustas para reter esta geração que é decisiva para o futuro do país e para a economia nacional. É uma questão que os jovens devem reclamar que seja marcante na campanha eleitoral para as legislativas de 10 de março. Todos os partidos têm já propostas direcionadas para os jovens – a maioria serão melhor explicadas mais tarde –, o que demonstra bem (e é salutar) a crescente preocupação, mas é preciso que seja este eleitorado a decidir quais as políticas que quer implementadas.
Nesta semana, a coligação que junta PSD, CDS-PP e PPM apresentou no programa económico da Aliança Democrática (AD) uma política fiscal centrada em três eixos, com redução prevista de cinco mil milhões de euros, ao longo da próxima legislatura, no IRS, IRC e tributação na habitação. Não sendo o IRS Jovem propriamente uma novidade, chamou-me a atenção uma proposta: a AD deu-lhe o “nome de guerra” de Programa de Apoio à Compra da Primeira Casa pelos jovens, bem direto para bom entendedor, e, pelo que já conhecemos, consiste na isenção do IMT e Imposto de Selo para jovens (falta esclarecer o teto máximo) e, porque o Estado não é bom coproprietário, numa “garantia pública para viabilizar o financiamento bancário da totalidade do preço de aquisição por jovens” (mais uma vez, desconhecem-se os limites e até sequer se seria praticável em Lisboa, atendendo aos elevados preços das casas). Seria um importante incentivo à compra de casa sem entrada inicial. É preciso, no entanto, conhecer em concreto esta e as propostas de outros partidos que eliminem os entraves no acesso à habitação pelos jovens, tanto na aquisição como no arrendamento.
Há duas questões fundamentais que abrem a porta de saída do país: baixos salários e o difícil acesso à habitação. Se a subida do salário mínimo nacional tem sido um esforço reconhecível da governação de António Costa, não é neste parâmetro que se revê a geração mais qualificada de sempre. Os salários devem acompanhar níveis elevados de competências profissionais; e estas competências devem ser aproveitadas pelas empresas para aumentar o valor do seu negócio. E, para isso, como nos diz (em entrevista nesta edição) o presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE), Alexandre Meireles, tem que se promover uma transição geracional sustentável, onde convivam prosperamente o peso da experiência aliada a uma mentalidade mais disposta a arriscar em novos modelos de gestão – o melhor dos dois mundos.
As duas boas razões para os jovens votarem podem estar precisamente nos salários e habitação, no curto prazo. Mas para se alcançar um objetivo mais ambicioso ainda, tem de se somar a este esforço um outro de reforço do investimento na educação, saúde e justiça, para que os desequilíbrios na sociedade não se transfiram de uma esfera para outra, sempre com grandes custos para o crescimento económico e social do país.