Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Emigração jovem é futuro condenado
Portugal ter a pior taxa de emigração da Europa deveria ser motivo de choque generalizado na opinião pública. Sobretudo, quando isso significa que quase um terço da população jovem escolheu sair do país, procurando fora o que não encontra cá dentro. Infelizmente, com honrosas exceções, a indignação geral não centra atenções neste problema, preferindo entreter-se com casos superficiais, que vão do recrutamento folclórico do Chega, ao anúncio publicitário de uma marca de móveis.
No entanto, se há tema em que vale a pena insistir é este. Uma sociedade que desperdiça os seus jovens está a condenar o futuro. E Portugal, seja porque há décadas enfrenta um preocupante declínio demográfico, ou porque tem evidentes carências de capital humano qualificado, não pode dar-se ao luxo de perder uma geração inteira, recém-formada e a iniciar o seu percurso de vida ativa.
A campanha eleitoral que está em curso é uma boa oportunidade para discutir seriamente este problema e trazer novas soluções. Nalguns casos, esse esforço construtivo está a ser feito, como se viu nas propostas apresentadas pela AD, para definição de uma taxa máxima de 15% no IRS até aos 35 anos de idade – atacando o problema da carga fiscal; ou da isenção de IMT na mesma população – visando facilitar o acesso à habitação. Registei, também com agrado, a chamada de atenção feita por Luís Aguiar Conraria a um problema óbvio nas nossas universidades: estamos a formar pessoas para benefício de outros países. Há que olhar com coragem para esta questão e criar um mecanismo de discriminação positiva, seja por via das propinas ou não, para os jovens que optem por prosseguir carreira em Portugal. De resto, o próprio Governo já avançou com algo semelhante, com o prémio salarial para licenciados que ficam a trabalhar no país.
É certo que estas ou outras medidas só surtirão efeito com um quadro de crescimento económico sólido, capaz de oferecer às novas gerações as oportunidades de crescimento e de mobilidade social que encontram noutras paragens. Ainda assim, é refrescante perceber que há pensamento a surgir nesta matéria. Bom seria que toda a sociedade civil, empresas, associações e academia assumissem esta causa como uma prioridade nos próximos anos e a tratasse como verdadeira emergência nacional.
“Bom seria que toda a sociedade civil, empresas, associações e academia assumissem esta causa como uma prioridade nos próximos anos e a tratasse como verdadeira emergência nacional.”