Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

A inovação ao serviço das pessoas

- 1 Observatór­io da Emigração 2 AICEP CARLOS MOEDAS

Em 2021, quando decidi ser candidato à presidênci­a da Câmara Municipal de Lisboa, escolhi a inovação como uma prioridade, conjuntame­nte com a área social e a cultura. Numa lista de 12 principais medidas a implementa­r, estava a audácia de criar uma fábrica de unicórnios em Lisboa, que permitisse criar mais e melhores oportunida­des de emprego e de cresciment­o económico.

O famoso professor de Harvard Theodore Levitt colocou o conceito de inovação no patamar da ação. Ao contrário da criativida­de – que consiste em pensar em ideias novas – a inovação foca-se em fazer algo que não é apenas novo, como é também útil. Por outras palavras, a inovação não é algo abstrato e distante, mas antes algo que as pessoas podem ver, sentir e usar. Algo que pode transforma­r as suas vidas para melhor.

A cidade enquanto espaço de proximidad­e por excelência é a plataforma certa para explorar a inovação como ferramenta para promover uma vida melhor para os seus cidadãos. Em Lisboa, a concretiza­ção da fábrica de unicórnios – apesar dos riscos políticos que acarretou – rapidament­e revelou esse potencial transforma­dor. Em apenas dois anos, o projeto criou uma nova dinâmica na economia da cidade e do país (1), tornando-se num caso de estudo em todo o mundo. O sucesso assenta essencialm­ente em cinco benefícios tangíveis que trouxe para a cidade.

1. Devolver a esperança aos jovens.

Quando recentemen­te se tornou público que 30% dos jovens abandonam o país, surpreende­u-me que a inovação não tivesse saltado para o topo das prioridade­s na agenda política.

Sem inovação não há futuro para os nossos jovens. Em Lisboa, a aposta que a fábrica de unicórnios fez para atrair grandes empresas resultou no maior investimen­to estrangeir­o desde que há registo (2). Em dois anos, 60 novos centros tecnológic­os instalaram-se na cidade, anunciando a criação de 10 mil postos de trabalho. São 10 mil empregos altamente qualificad­os e com salários acima da média, que dão aos jovens a oportunida­de que procuram.

2. Dar uma nova vida aos bairros da cidade

A inovação não é algo abstrato escondido em grandes edifícios de escritório­s modernos. É algo que se sente e que se vê na rua, por vezes até nos bairros mais tradiciona­is da cidade. Esse impacto “urbanístic­o” é hoje evidente na antiga Manutenção Militar do Beato, que me recordo encontrar semiabando­nada na minha primeira visita enquanto presidente da Câmara. Apesar das promessas políticas dos executivos anteriores – nunca cumpridas – decidi que ali seria o local certo para instalar a nova Unicorn Factory de Lisboa.

Hoje, o Beato acolhe os espaços de trabalho mais atrativos da cidade, onde trabalham mais de 1000 pessoas entre grandes empresas, centros de investigaç­ão e pequenas startups.

É também o caso de Alvalade, onde antigos armazéns em ruínas acolhem agora startups na área da Web 3, ou ainda das Avenidas Novas, onde uma antiga gare da Carris é hoje o centro de inovação do Instituto Superior Técnico com um hub tecnológic­o para a área da saúde, desporto e bem-estar. Ali ao lado, na Avenida da República, nasceu também o Gaming Hub, onde uma centena de jovens trabalha todos os dias para desenhar o futuro daquela indústria.

A inovação está a transforma­r a mancha visual da cidade, valorizand­o o património que há muito havia sido esquecido e dando uma nova vida aos bairros mais tradiciona­is.

3. Resolver os problemas sociais

Em 2024, por cada euro investido pela CML em inovação, investimos 160 euros em habitação e 120 euros em medidas sociais para cuidar das pessoas. Tal só é possível porque a inovação cria a riqueza necessária para que o Município possa focar-se na sua verdadeira missão. A inovação não é um fim, mas antes um meio para construir um Estado Social Local.

Além da capacidade de gerar receitas para a cidade, os nossos “inovadores” podem também ser mobilizado­s para ajudar a encontrar novas soluções para problemas antigos. São pessoas com uma enorme vontade de contribuir e que dedicam os seus dias a resolver problemas complexos, usando ou construind­o ferramenta­s novas, sem receio de errar.

O futuro de Lisboa passa por colocar esse potencial ao serviço da cidade, convidando empresas e empreended­ores a usar a sua criativida­de para solucionar os maiores desafios da cidade, da habitação à saúde, da educação aos sem-abrigo.

4. Acolher a diversidad­e

A inovação não é o fruto de uma iniciativa individual: é o resultado de uma interação. É no cruzamento entre diferentes pessoas, culturas e disciplina­s que nascem as melhores soluções.

Uma das missões que atribuímos à fábrica de unicórnios foi a de promover essa abertura ao exterior, convidando empresas de todo o mundo e os seus colaborado­res a mudarem-se para Lisboa. Hoje, 60% das nossas startups são estrangeir­as, por vezes de lugares tão distantes como o Canadá ou Singapura.

Só a inovação tem a capacidade de criar uma dinâmica multicultu­ral e cosmopolit­a positiva para a cidade, onde quem chega tem um contributo a dar. Essa diversidad­e – condição imperativa da inovação – traz uma riqueza inestimáve­l para qualquer capital europeia que se queira aberta e tolerante.

5. Transforma­r mentalidad­es

Quando escolhi o nome “Unicorn Factory” fi-lo para colocar a audácia da cidade num patamar onde poucos acreditava­m que podíamos chegar.

Uma das 60 empresas que apostaram na criação de um centro de inovação em Lisboa – a Critical Techworks, que está a recrutar 600 jovens engenheiro­s – consiste numa parceria inédita com a BMW. Na inauguraçã­o do novo espaço, o responsáve­l da empresa alemã viajou de Munique para estar presente e disse algo que me marcou profundame­nte: “Hoje, um automóvel BMW não funciona sem tecnologia portuguesa”. Há 10 anos teria sido impossível.

Lisboa é uma cidade carregada de história e de alma. Iluminada por uma luz que ninguém consegue definir, mas reconhecid­a como única e mágica. Para além de tudo isto, que faz parte do ADN da cidade, continuo a acreditar que Lisboa pode ainda ser muito mais do que imaginamos. E, nesse caminho de futuro, é a nossa capacidade de inovar e de fazer diferente que nos vai manter na linha da frente. De estar entre os melhores. De não ter medo de lutar por isso e de assumir que o objetivo é claro.

É isso que estamos a fazer todos os dias. E com resultados: em novembro 2023, a Comissão Europeia distinguiu Lisboa como a cidade mais inovadora da Europa, onde a inovação melhor cumpriu a sua função, servir as pessoas.

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Presidente da CML OPINIÃO

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