Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Bem a propósito do financiamento dos media
Quando se fala de financiamento dos media convém não esquecer para quem trabalham os jornalistas: para o leitor, telespetador, ouvinte. Cabe por isso a cada um deles escolher os media que querem consumir; e depois, em função disso, os anunciantes direcionam a publicidade para os meios que mais se adaptam ao seu produto ou serviço, de acordo com a audiência. Se falarmos em financiamento público, que seja ao leitor, que a este lhe seja atribuído um plafond para experimentar e fazer as suas escolhas pagas, e se quiser alterar a sua escolha, que o faça, tem todo o direito (sempre!). Seria o resultado dessas escolhas, por via do consumidor, que traria financiamento aos media, por via da exigência, da qualidade e da melhor oferta. Quem se adaptar à escolha do leitor, estará financeiramente mais robusto.
Parece um exercício fácil de fazer. Diríamos todos que até aqui não há novidade. É pela lei da oferta e da procura que funciona o mercado de transações. Acontece, porém, que o jornalismo é um serviço essencial cuja necessidade do seu consumo se tem diluído com o aumento da concorrência no digital, que não é informação, mas que concorre com a informação no pouco tempo que se tem para captar a atenção dos utilizadores dos meios digitais móveis. Começou com a febre dos blogues e do Facebook, passou para os motores de busca, para o Instagram, TikTok, para conteúdos que todas as marcas perceberam que captam a atenção do consumidor, para políticos nesta sociedade em rede. E o leitor nunca sabe qual destes meios fala verdade, a não ser os meios de comunicação que se devem identificar como de referência, independentes, sérios, rigorosos. Ora, é para estes últimos que um financiamento público deveria direcionar o leitor, primeiro pela consciencialização da sua importância e, depois, pela necessidade adquirida com a experiência de utilização diária.
À minha geração (num sentido mais genérico, claro) causa-nos estranheza que os jovens hoje tenham todas as funcionalidades do telemóvel em inglês. Ainda esta semana, me diziam os entrevistados com quem falava, todos eles portugueses, que na sua startup falam em inglês entre si e que todas as anotações são escritas em inglês. Não serão todos assim, com certeza. Preocupa-me é se olharem apenas para uma língua de utilização mais universal e se esquecerem da língua mãe, do português, da importância da literatura portuguesa e do jornalismo escrito em português, para uma vasta comunidade falante de português.
Mas esta geração, que é a mais bem preparada de sempre, é diferente de todas as outras. Os jovens deveriam, por isso, chegar mais depressa aos órgãos decisores das grandes empresas. São eles o motor da mudança. Costuma dizer-se que a tecnologia avança mais depressa do que a legislação vigente, que os modelos disruptivos de negócio dão sempre um abanão estrondoso num mercado demasiado tradicional. E o que dizer destes jovens que absorveram tão rapidamente estas mudanças, que nasceram na geração destas mudanças e que são parte delas? São eles a peça mais importante, por isso, do nosso futuro.
Dirão novamente que até aqui nada de novo. Os jovens sempre estiveram na vanguarda da mudança, sempre evoluíram intelectualmente com uma rapidez imensa. Mas mais uma vez digo que não lhes damos essa oportunidade de nos mostrarem como são cada vez mais importantes para levar a nossa economia ao outro extremo, o da inovação, aquele em que estaremos dois, três, quatro passos à frente dos outros.
Tudo nos parece demasiado óbvio, porque nada disto é novo. Só há aqui um pormenor que faz a diferença em relação ao passado: o mundo está cada vez mais global e as novas gerações têm cada vez mais formação, têm cada vez mais mercado de trabalho e mais escolha enquanto consumidores também. Não haverá financiamento dos media que nos chegue, se não houver mentes jovens, criativas, disruptivas a trabalhar para o futuro dos media. E por que não, cumulativamente, um apoio público para a integração de jovens qualificados com novas competências tecnológicas, ligadas à inovação, inteligência artificial, que lhes permita terem uma remuneração competitiva e, acima de tudo, que façam a revolução de entregar aos novos leitores novos produtos jornalísticos de qualidade.