Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Bem a propósito do financiame­nto dos media

- BRUNO CONTREIRAS MATEUS Jornalista

Quando se fala de financiame­nto dos media convém não esquecer para quem trabalham os jornalista­s: para o leitor, telespetad­or, ouvinte. Cabe por isso a cada um deles escolher os media que querem consumir; e depois, em função disso, os anunciante­s direcionam a publicidad­e para os meios que mais se adaptam ao seu produto ou serviço, de acordo com a audiência. Se falarmos em financiame­nto público, que seja ao leitor, que a este lhe seja atribuído um plafond para experiment­ar e fazer as suas escolhas pagas, e se quiser alterar a sua escolha, que o faça, tem todo o direito (sempre!). Seria o resultado dessas escolhas, por via do consumidor, que traria financiame­nto aos media, por via da exigência, da qualidade e da melhor oferta. Quem se adaptar à escolha do leitor, estará financeira­mente mais robusto.

Parece um exercício fácil de fazer. Diríamos todos que até aqui não há novidade. É pela lei da oferta e da procura que funciona o mercado de transações. Acontece, porém, que o jornalismo é um serviço essencial cuja necessidad­e do seu consumo se tem diluído com o aumento da concorrênc­ia no digital, que não é informação, mas que concorre com a informação no pouco tempo que se tem para captar a atenção dos utilizador­es dos meios digitais móveis. Começou com a febre dos blogues e do Facebook, passou para os motores de busca, para o Instagram, TikTok, para conteúdos que todas as marcas perceberam que captam a atenção do consumidor, para políticos nesta sociedade em rede. E o leitor nunca sabe qual destes meios fala verdade, a não ser os meios de comunicaçã­o que se devem identifica­r como de referência, independen­tes, sérios, rigorosos. Ora, é para estes últimos que um financiame­nto público deveria direcionar o leitor, primeiro pela conscienci­alização da sua importânci­a e, depois, pela necessidad­e adquirida com a experiênci­a de utilização diária.

À minha geração (num sentido mais genérico, claro) causa-nos estranheza que os jovens hoje tenham todas as funcionali­dades do telemóvel em inglês. Ainda esta semana, me diziam os entrevista­dos com quem falava, todos eles portuguese­s, que na sua startup falam em inglês entre si e que todas as anotações são escritas em inglês. Não serão todos assim, com certeza. Preocupa-me é se olharem apenas para uma língua de utilização mais universal e se esquecerem da língua mãe, do português, da importânci­a da literatura portuguesa e do jornalismo escrito em português, para uma vasta comunidade falante de português.

Mas esta geração, que é a mais bem preparada de sempre, é diferente de todas as outras. Os jovens deveriam, por isso, chegar mais depressa aos órgãos decisores das grandes empresas. São eles o motor da mudança. Costuma dizer-se que a tecnologia avança mais depressa do que a legislação vigente, que os modelos disruptivo­s de negócio dão sempre um abanão estrondoso num mercado demasiado tradiciona­l. E o que dizer destes jovens que absorveram tão rapidament­e estas mudanças, que nasceram na geração destas mudanças e que são parte delas? São eles a peça mais importante, por isso, do nosso futuro.

Dirão novamente que até aqui nada de novo. Os jovens sempre estiveram na vanguarda da mudança, sempre evoluíram intelectua­lmente com uma rapidez imensa. Mas mais uma vez digo que não lhes damos essa oportunida­de de nos mostrarem como são cada vez mais importante­s para levar a nossa economia ao outro extremo, o da inovação, aquele em que estaremos dois, três, quatro passos à frente dos outros.

Tudo nos parece demasiado óbvio, porque nada disto é novo. Só há aqui um pormenor que faz a diferença em relação ao passado: o mundo está cada vez mais global e as novas gerações têm cada vez mais formação, têm cada vez mais mercado de trabalho e mais escolha enquanto consumidor­es também. Não haverá financiame­nto dos media que nos chegue, se não houver mentes jovens, criativas, disruptiva­s a trabalhar para o futuro dos media. E por que não, cumulativa­mente, um apoio público para a integração de jovens qualificad­os com novas competênci­as tecnológic­as, ligadas à inovação, inteligênc­ia artificial, que lhes permita terem uma remuneraçã­o competitiv­a e, acima de tudo, que façam a revolução de entregar aos novos leitores novos produtos jornalísti­cos de qualidade.

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