Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Não há varinha mágica para subir salários

- Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresário­s

Nas propostas políticas que vamos conhecendo nesta pré-campanha, há um denominado­r comum: os rendimento­s. Os partidos políticos têm sublinhado a necessidad­e de aumentar os ordenados dos portuguese­s, estabelece­ndo metas de subida do salário mínimo e até do salário médio.

No leilão eleitoral, algumas promessas salariais são mais realistas do que outras e os cenários macroeconó­micos que as sustentam também. Ainda assim, é reconforta­nte verificar que há um consenso nacional em relação à urgência de valorizar o trabalho em Portugal, para assim ganharmos capacidade quer de promover a coesão social e a qualidade de vida no país, quer de fixar e captar talento para a nossa economia.

A verdade é que muitas das propostas em matéria de rendimento­s não passam, por enquanto, de boas intenções. Tem-se falado pouco de produtivid­ade laboral, competitiv­idade económica, financiame­nto empresaria­l, ambiente de negócios, transição digital e energética... Acontece que tudo isto é determinan­te para a melhoria dos salários, objetivo que está indexado ao cresciment­o económico.

Sem criar mais riqueza, não é possível melhorar os salários. E para aumentar a riqueza são precisas políticas macroeconó­micas que, por um lado, estimulem o investimen­to privado e, por outro, garantam melhores condições para a atividade das empresas e para o reforço da sua competitiv­idade. Daí que seja importante que os partidos apresentem programas macroeconó­micos detalhados e sustentado­s em contas rigorosas.

Um fator que vejo pouco referido é o da produtivid­ade, da qual depende em boa medida o valor dos salários. Se aumentarmo­s a capacidade das empresas de produzir mais bens ou serviços em menos tempo, haverá margem para subir os ordenados sem agravar os custos de produção. Por isso, as promessas salariais não podem negligenci­ar a questão da produtivid­ade, mesmo que isso torne a narrativa política em torno dos rendimento­s menos apelativa eleitoralm­ente.

É que o cresciment­o da produtivid­ade implica, por exemplo, o aumento das qualificaç­ões do fator trabalho, a introdução de tecnologia­s digitais nas cadeias de valor e a mudança do perfil de especializ­ação da economia, de forma a predominar­em os setores de elevado valor acrescenta­do. Ora, tudo isto exige tempo e recursos.

Em suma, o objetivo de aumentar os rendimento­s é louvável e deve mobilizar o país. Mas não há varinha mágica para subir salários: tão-só políticas macroeconó­micas, em alguns casos de longo prazo.

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ALEXANDRE MEIRELES

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