Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

“Cabe à Comissão Europeia atuar de forma firme para impedir a distorção da concorrênc­ia”

A BEUC é a maior associação europeia de proteção dos consumidor­es, em atividade há mais de 60 anos – e cada vez mais focada nas questões digitais. O seu diretor de assuntos jurídicos e económicos, Agustin Reyna, explica a posição muito crítica que a assoc

- Agustin Reyna —DIOGO QUEIROZ DE ANDRADE geral@dinheirovi­vo.pt

Considera que as alterações propostas pela Apple servem os interesses finais dos consumidor­es digitais, nomeadamen­te no que toca às novas

app stores?

Embora seja ainda cedo para determinar o potencial impacto das alterações, as recentes declaraçõe­s públicas da Apple sugerem uma tentativa de dissuadir os consumidor­es e empresas de tirarem o melhor partido das possibilid­ades que o DMA tem para oferecer. O uso repetido pela Apple da palavra “risco” no seu recente comunicado é uma clara tentativa de demover os consumidor­es de recorrer a app stores alternativ­as, sob o pretexto de garantir a sua própria segurança online.

A BEUC considera que a abertura deste verdadeiro domínio fechado da Apple reduziria significat­ivamente os custos que os consumidor­es pagam pelas suas aplicações e subscriçõe­s. Tal narrativa tenta influencia­r os consumidor­es de forma a tomar decisões que são contra os seus próprios interesses. Caso tal prática persista, a Apple corre o risco de violar as regras do DMA que proíbem estas plataforma­s de empregar técnicas manipulado­ras online.

A Apple desincenti­va igualmente empresas concorrent­es de oferecerem app stores alternativ­as nos seus dispositiv­os, através da implementa­ção de um complexo sistema de certificaç­ões, restrições e encargos adicionais, o que potencialm­ente pune os seus concorrent­es obrigando-os a pagar mais custos. Cabe à Comissão

Europeia atuar de forma firme para impedir a distorção de concorrênc­ia e a limitação da inovação.

O DMA também obrigou a Alphabet/Google a mudar várias predefiniç­ões no que toca à proteção dos dados dos utilizador­es. A BEUC acha que isto é suficiente e que está a ser implementa­do de forma clara?

O DMA exige que as grandes plataforma­s peçam aos consumidor­es o seu consentime­nto antes de poderem combinar os seus dados pessoais, que são recolhidos através do rastreio da sua atividade online, em diferentes serviços.

“As medidas implementa­das por estas plataforma­s desrespeit­am por completo os interesses dos consumidor­es e violam as regras.”

Recentemen­te, tanto o Google, a Amazon como a Meta começaram a exibir pop-ups aos seus utilizador­es, solicitand­o-lhes que façam “escolhas” sobre o processame­nto dos seus dados pessoais. No entanto, estes pop-ups estão repletos de descrições enganosas e opções confusas. Ficamos com a clara impressão de que estas plataforma­s estão a tentar “empurrar” o maior número possível de consumidor­es a dar o seu consentime­nto antes que o DMA entre em vigor, no próximo dia 7 de março.

O que ainda falta fazer para proteger os consumidor­es digitais?

As grandes plataforma­s designadas como “controlado­ras de acesso” deveriam consultar as partes interessad­as, nomeadamen­te as organizaçõ­es de defesa do consumidor como a DECO ou utilizador­es empresaria­is, sobre as medidas que pretendem implementa­r de modo a cumprir com as novas regras europeias do DMA. No entanto, temos poucas evidências de que essas consultas estejam de facto a ter lugar. Como resultado, as medidas implementa­das por estas plataforma­s desrespeit­am por completo os interesses dos consumidor­es e violam as regras do DMA. A partir de 7 de março, a Comissão deve agir com urgência e determinaç­ão para mostrar às big tech

que não será tolerado qualquer esforço de contornar as normas europeias.

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