Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Na vida e na hora da morte, André Jordan sempre perto da “sua” Quinta do Lago

O empresário, por muitos considerad­o um dos grandes impulsiona­dores do turismo em Portugal, morreu aos 90 anos em sua casa no Belas Clube de Campo, em Sintra.

- —FILIPE GIL filipe.gill@dn.pt Com Susete Henriques e agências

O empresário dinamizado­r de vários projetos turísticos, André Jordan, morreu ontem, sexta-feira, aos 90 anos. O presidente da Associação dos Hotéis e Empreendim­entos Turísticos do Algarve (AHETA), Hélder Martins, lamentou a morte indicando à agência Lusa que se trata “de uma perda inestimáve­l para o turismo algarvio, pois era um homem que fez muito pelo Algarve”. O presidente da maior associação empresaria­l de hoteleiros da região adiantou que os encontros com André Jordan “eram uma lição de vida, porque para ele a palavra quantidade nunca existia, mas sim, a qualidade”. “Era um homem que continuava a interessar-se pelo turismo e pelo Algarve em particular, é uma grande perda”, acrescento­u.

André Jordan nasceu em setembro de 1933 na Polónia, no mesmo ano em que, na Alemanha, Hitler chegava ao poder. O ditador marcou a sua vida para sempre: fez a sua família sair da terra Natal (Lwów, hoje Lviv e parte da atual Ucrânia) e percorrer meio mundo para rumar ao Brasil, em 1940, e mais tarde, em 1971, vir para Portugal para criar a Quinta do Lago, no Algarve. Jordan tinha dupla cidadania, brasileira e portuguesa.

Numa entrevista ao DN, em dezembro de 2020, explicou as suas raízes numa frase: “A Polónia é a minha terra, o Brasil a minha pátria e Portugal a minha casa”. No final da década de 1980, após a venda da Quinta do Lago assumiu em Londres o cargo de administra­dor executivo da Bovis Abroad, empresa do Grupo Bovis dedicado aos negócios imobiliári­os internacio­nais, com projetos em Espanha, Portugal e no Caribe, incluindo o famoso La Manga Club, no sul de Espanha. Em 1995, adquiriu a Lusotur, proprietár­ia de Vilamoura, o maior complexo residencia­l e de lazer na Europa, empresa que foi vendida a investidor­es espanhóis em 2006. Na região de Lisboa, fundou o projeto Belas Clube de Campo – onde vivia –, no concelho de Sintra. André Jordan esteve também envolvido em várias organizaçõ­es e iniciativa­s de caráter cívico, cultural e educaciona­l em vários países, conforme se pode ler no site oficial do grupo que liderava.

Paixão pelo jornalismo

Na mesma conversa com o DN, numa altura em que se vivia os confinamen­tos intermiten­tes devido à pandemia do covid-19, André Jordan, na altura com 87 anos, disse que a pandemia assustava-o, mas “a morte não”. E recordou os tempos em que foi com o pai viver para o Brasil. “Foi buscar-me a Nova Iorque para ir viver com ele no hotel Copacabana Palace, que era um dos centros da vida no Rio de Janeiro. Foi lá que conheci a movida da cidade. Havia de tudo, de políticos a artistas, da prostituiç­ão a artistas, da prostituiç­ão tanto masculina como feminina, aos jornalista­s”. Aliás, Jordan foi jornalista no Brasil durante alguns anos, e reforçou a ligação à profissão: “Tenho saudades, adoro jornalismo, tenho mesmo paixão pelo jornalismo.”

Nascido em família judaica, foi educado como católico, resumia o assunto afirmando-se simplesmen­te como “um homem de fé”. Pai de quatro filhos e nove netos, olhava para Portugal com especial atenção: “O país mudou, mas os portuguese­s não. Os valores portuguese­s da lealdade, da solidaried­ade humana, continuam. Por outro lado, o não tomar decisões e não se unirem pelas causas também continua”, explicou ao DN.

Apelidado por muitos como o “pai do turismo” em Portugal, passou os últimos anos a trabalhar a parte da publicidad­e e estratégia do grupo com o seu nome, entre leituras acompanhad­as pela televisão sintonizad­a ora no canal de música erudita Mezzo, ora na CNN Internacio­nal.

Por vontade do próprio, o restos mortais de André Jordan ficarão sepultados no cemitério de Almancil, no Algarve, nas imediações da “sua” Quinta do Lago.

 ?? FOTO: JORGE AMARAL / GLOBAL IMAGENS ?? André Jordan lidava com figuras como Jorge Sampaio, a infanta Margarida
de Espanha ou o príncipe Eduardo e Sophie Rhys Jones.
FOTO: JORGE AMARAL / GLOBAL IMAGENS André Jordan lidava com figuras como Jorge Sampaio, a infanta Margarida de Espanha ou o príncipe Eduardo e Sophie Rhys Jones.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal