Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Dialogar com franqueza, dialogar sem encenar

- Presidente da CIP

Avisita de um sindicato à sede da CIP não acontece todos os dias, tão pouco regularmen­te, o que na verdade é uma pena. Ganharíamo­s todos, o país ganharia muito, se as trocas de pontos de vista fossem mais regulares e não se limitassem às reuniões que ocorrem no âmbito da Concertaçã­o Social – certamente um espaço privilegia­do para estes encontros, até porque envolve o Governo, mas que não esgota as oportunida­des de contacto entre os sindicados e os restantes parceiros sociais, como é o caso da CIP.

Neste sentido, no verão do ano passado iniciámos negociaçõe­s com os sindicatos e o Governo – ainda fora da Concertaçã­o Social – com um objetivo muito preciso: reforçar o nosso compromiss­o com o país, sublinhar a nossa abertura negocial e procurar celebrar um genuíno Pacto Social capaz de melhorar a competitiv­idade, os salários dos trabalhado­res e a vida de todos os portuguese­s. Como é público, a CGTP rapidament­e declinou qualquer possibilid­ade de negociaçõe­s. E no fim de várias conversas, o Governo e a UGT também não quiseram chegar a acordo connosco.

No entanto, essa vontade, esse espírito e disponibil­idade mantêm-se firmes. No Congresso “Pacto Social. Mais Economia para Todos”, que a CIP realiza na terça e quarta-feira, no Porto, voltaremos a insistir na necessidad­e de um diálogo sério, efetivo e transparen­te entre todas as partes. Será que é desta? O início de um novo ciclo político abre claramente esta possibilid­ade e é isso que nos esforçarem­os que aconteça.

Tal como escrevi no início deste texto, os sindicatos infelizmen­te raramente nos visitam, mas foi o que aconteceu ontem. A CGTP e a sua líder decidiram manifestar-se à porta da CIP. Eis o que diz o comunicado que emitiram: “Será uma expressão nítida da luta de classes: trabalhado­res na rua a reivindica­r aumentos salariais e patrões dentro da sede de uma associação patronal a contabiliz­arem os seus lucros.”

O que ocorreu na realidade? Eu e o diretor-geral da CIP fomos ao encontro de Isabel Camarinha e da sua delegação. Convidámo-los reiteradam­ente a subir. E ficámos à espera. Subiram? Não. Ou melhor, subiu apenas uma parte da delegação, mas sem a líder da CGTP. Foram obviamente recebidos, claro, embora não pelo presidente da CIP. A questão que se coloca é muito clara: por que não subiu Isabel Camarinha? Certamente por vontade própria, mas os factos contrariam então a ideia de que “os trabalhado­res estão na rua a reivindica­r” e “os patrões a contabiliz­ar os lucros fechados numa sala”.

Não estamos todos já muito cansados desta falsa dicotomia? Há segurament­e alguns interesses divergente­s entre empresas e trabalhado­res, mas também haverá muitos pontos em comum – e é preciso começar por algum lado em benefício do nosso presente e futuro coletivo. É preciso confiança, disponibil­idade e compromiss­o. Bem sei que as eleições de 10 de março estimulam alguma, digamos, demagogia. Mas cavar trincheira­s virtuais, coreografa­ndo-as apenas para efeitos mediáticos, é um enorme desperdíci­o de energia. É sobretudo uma oportunida­de perdida. Mantenho-me onde sempre estive: disponível para falar, refletir e negociar. Salários, produtivid­ade, cresciment­o. O Pacto Social é isto mesmo.

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ARMINDO MONTEIRO

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