Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
A mobilidade urbana constrói pontes entre ilhas
Pensar nos dias de hoje em mobilidade urbana exige responsabilidade política e um planeamento estratégico que vá muito além das infraestruturas e dos transportes. É preciso imprimir neste plano uma verdadeira revolução que dê resposta às necessidades mais prementes e imediatas dos cidadãos e da economia nacional, integrando fatores urgentes de sustentabilidade ambiental, o comércio e serviços, a habitação, a coesão territorial e social, e tendo também como objetivo potenciar a melhoria das condições de vida e económicas das populações, aumentando a sua capacidade de se deslocar. Este é um tema sério. Apesar de o poder local ser determinante para a mudança, do ponto de vista estrutural cabe ao próximo governo comprometer-se seriamente nesta transformação – que eu diria que, no fundo, é uma integração global do país. E, para isso, é preciso olhar primeiro ao que ficou por fazer, antes de seguirmos para as habituais promessas eleitorais.
Pedro Nuno Santos, enquanto ministro das Infraestruturas, ficou longe da revolução prometida pelo PS para a ferrovia, como pode ler no artigo das páginas 6 e 7 desta edição. Muitas das atuais promessas eleitorais já estão com atraso, caso disso é a aprovação do Plano Nacional Ferroviário. O que ficou por fazer já se teria traduzido na melhoria das condições de vida das populações e já teria tirado muitos carros e camiões (no transporte de mercadorias) das estradas, poupando também o ambiente. Exemplo disso seria a melhoria da Linha do Norte, a construção da Linha de Trás-os-Montes, a eletrificação das Linhas do Douro, Oeste, Alentejo e Leste, o lançamento da construção de uma nova travessia ferroviária sobre o Tejo (que ligue norte e sul do país), e de ligações de superfície nas grandes áreas metropolitanas.
Mas é preciso também melhorar a integração rápida entre as várias redes de transportes públicos, para não excluir áreas que hoje estão totalmente isoladas e que condicionam fortemente a mobilidade das suas populações, o comércio e serviços, o acesso a habitação. Por esta via se contraria também os efeitos migratórios para as grandes cidades.
De facto, o TGV e o novo aeroporto são projetos dos mais estruturantes para o país, mas um governo não se pode esquecer de promover a coesão territorial através de uma rede de transportes públicos que promova maior igualdade nas deslocações das populações e desmotive a utilização do transporte individual.
Os últimos oito anos de governação socialista não são o único culpado. Seria fácil apontar-lhes o dedo só porque estão mais próximos na memória dos portugueses. Mas tanto nesta área como em outras estruturais, como a Habitação, a Saúde, a Educação, a Justiça, o desinvestimento em muitos aspetos fundamentais é compartilhado pelo PSD. Mas há muitos avanços também que, obviamente, se devem a estes dois partidos. Acontece que hoje a mobilidade urbana impacta em todas os setores e permite atenuar problemas no acesso à habitação, na criação de mais emprego, no acesso à saúde e à educação. A mobilidade urbana constrói pontes entre ilhas, aproxima territórios e pessoas, promove um acesso mais igualitário a oportunidades de emprego e de educação, melhora as condições económicas.