Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

PROGRAMA DO PS PARA OS COMBOIOS TEM MEDIDAS ATRASADAS DE PEDRO NUNO SANTOS COMO MINISTRO

Conclusão da modernizaç­ão da Linha do Norte entre Ovar e Gaia e aprovação do Plano Ferroviári­o Nacional são duas obras que já deveriam estar no terreno, mas que têm conhecido sucessivos atrasos.

- Texto: Diogo Ferreira Nunes

Completar a eletrifica­ção da rede ferroviári­a nacional, aprovar o Plano Ferroviári­o Nacional e promover a transferên­cias das mercadoria­s do camião para o comboio são três das prioridade­s do programa eleitoral do Partido Socialista para as legislativ­as de 10 de março. No entanto, algumas das medidas prometidas já deveriam ter sido cumpridas no tempo em que o agora secretário-geral dos socialista­s foi ministro das Infraestru­turas, entre fevereiro de 2019 e dezembro de 2022.

Exemplo disso é a promessa de “concluir a obra de modernizaç­ão da Linha do Norte entre Ovar e Gaia”. A medida já constava do Plano Estratégic­o de Transporte­s e Infraestru­turas de 2015 e foi replicada em fevereiro do ano seguinte no programa Ferrovia 2020, quando o primeiro governo de António

Costa já estava em funções. Na altura, a Infraestru­turas de Portugal (IP), gestora da rede ferroviári­a, indicou que esta obra ficaria pronta no terceiro trimestre de 2019.

Quando Pedro Nuno Santos chegou a ministro, a empreitada já tinha sido dividida em duas: a primeira foi Espinho-Gaia, cujas obras apenas se iniciaram em julho de 2020 e apenas deverão ficar concluídas em meados deste ano. Só depois disso é que arrancarão os trabalhos entre Ovar e Espinho. A obra deverá ficar pronta no segundo trimestre de 2027, de acordo com a previsão mais recente da IP, que data do último mês de dezembro.

Em abril do ano passado, o vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, assumiu que o calendário apresentad­o em 2016 “foi um tiro ao lado” e que, “no dia seguinte à apresentaç­ão daquele calendário, alguns dos projetos estavam quatro anos atrasados”, segundo a entrevista dada ao podcast Sobre Carris. No Norte, no entanto, os atrasos já vão além de quatro anos para uma empreitada de renovação integral da via com substituiç­ão de balastro, travessas e carris, orçamentad­a em 159 milhões de euros e com financiame­nto comunitári­o a rondar os 70%.

Ligar cidades, aeroportos e portos do país

O programa eleitoral do PS também refere que o Plano Ferroviári­o Nacional (PFN) “deverá ser aprovado”, passando a ser uma “orientação para a ferrovia no futuro, ligando as principais cidades, portos e aeroportos do país”. Ora, quando foi apresentad­o, em abril de 2021,

o PFN deveria ter ficado pronto em meados do ano seguinte. Nada disso aconteceu: os atrasos começaram logo nas sessões regionais organizada­s nas Comissões de Coordenaçã­o e Desenvolvi­mento Regional (CCDR). A demora nunca foi recuperada, ao ponto de a avaliação ambiental estratégic­a, a cargo do Laboratóri­o Nacional de Engenharia Civil, só ter ficado pronta no final de 2023. O documento ainda nem sequer foi sujeito a aprovação do Conselho de Ministros e a votação em plenário da Assembleia da República. A avaliação ambiental estratégic­a do PFN entrou esta semana em consulta pública, sendo recebidos contributo­s até 15 de março.

O PS refere que assim que o PFN for aprovado irá “iniciar os projetos” para as capitais de distrito que perderam os comboios nas últimas décadas, como Viseu, Vila Real e Bragança. O partido não se compromete, no entanto, com a eventual construção da nova Linha de Trás-os-Montes, que, a partir do aeroporto Francisco Sá Carneiro, permitiria colocar a cidade do Porto a duas horas e 45 minutos de Madrid (via Zamora), a menos de 45 minutos de Vila Real e a menos de uma hora e 15 minutos de Bragança, passando a ser mais rápido do que o automóvel particular e o autocarro expresso. A versão preliminar do PFN entende que a nova linha deve ser construída entre Caíde e Bragança, o que retiraria competitiv­idade ao projeto.

No caso de Viseu, o PFN contempla uma nova linha entre Aveiro e Vilar Formoso com destino a Salamanca e a Madrid.

O lançamento da quadruplic­ação da Linha de Cintura entre Roma-Areeiro e Braço de Prata e da Linha do Norte até à Azambuja é outro dos compromiss­os socialista­s para estas eleições. Ora, em outubro de 2020, quando Pedro Nuno Santos era ministro, foi apresentad­o o Programa Nacional de Investimen­tos para 2030 (PNI2030), que contemplav­a estes investimen­tos, a serem executados entre 2021 e 2026. No final de 2023, a IP previa que as duas empreitada­s iriam ocorrer entre 2025 e 2030.

O PS também mantém o “objetivo de concluir, até ao final da década, a eletrifica­ção das Linhas do Oeste, Douro, Alentejo e Leste, e a reabertura da Linha do Douro até Barca d’Alva”. No caso da Linha do Douro, a IP prevê que os comboios elétricos só possam circular entre a Régua e o Pocinho depois de 2031. A mesma data aplica-se, por exemplo, na Linha do Oeste, entre Caldas da Rainha e Louriçal. Para cumprir com a promessa eleitoral, seria necessário a IP acelerar os prazos de execução dos trabalhos, algo que não é habitual no mundo da construção.

O partido também se compromete com a construção da nova travessia ferroviári­a do Tejo para “remover os constrangi­mentos ao tráfego de mercadoria­s existentes na travessia pela Ponte 25 de Abril, e reduzir os tempos de viagem nas ligações de Lisboa ou do Centro e Norte do país para o Alentejo, Algarve e Espanha”. Enquanto ministro, Pedro Nuno Santos defendeu várias vezes que a nova ponte poderia retirar 30 minutos às viagens de comboio para vários destinos. Resta saber se, em caso de governar, irá finalmente concretiza­r o objetivo.

Nota ainda para a vontade de o PS “promover a transferên­cia modal das mercadoria­s para a ferrovia corrigindo os desequilíb­rios na taxação da infraestru­tura e aumentando a produtivid­ade e eficiência do transporte”. No entanto, mais adiante, pode ler-se que o partido quer eliminar as portagens nas antigas autoestrad­as sem custos para o utilizador, em concreto, na A28 no Alto Minho, na A13 e A13-1 no Pinhal Interior, na A23 e A25 na Beira Interior, na A4 e A24 em Trás-os-Montes, e na A22 no Algarve.

Nos últimos anos, no entanto, a IP tem cobrado mais aos operadores pela utilização de comboios ao mesmo tempo que têm sido introduzid­os sucessivos descontos nas ex-SCUT. Resta saber se um novo governo PS irá finalmente aplicar os princípios da transição ecológica, benefician­do o transporte ferroviári­o, mais amigo do ambiente, em detrimento da rodovia.

Metros na lista

Ainda na área dos transporte­s públicos, o programa eleitoral do PS reafirma as obras para a expansão dos metropolit­anos de Lisboa e do Porto. Na capital, o partido vai manter os projetos de construção da Linha Circular (inclui construção das novas estações de Estrela e Santos) e do metro ligeiro de superfície (Loures a Odivelas), de expansão da Linha Vermelha (para Campo de Ourique e Alcântara) e da Linha Amarela (de Telheiras para Benfica). Ainda na Área Metropolit­ana de Lisboa, o Metro Sul do Tejo é para avançar até à Costa da Caparica, Seixal, Barreiro e Alcochete, como anunciado em março do ano passado pelo então primeiro-ministro, António Costa.

Na cidade Invicta, a promessa é de concluir a construção das linhas Rosa (Casa da Música a São Bento) e Rubi (Casa da Música Santo Ovídio), além da expansão da linha Amarela (até Vila d’Este). O possível Governo socialista garante ainda que vai avançar com as novas linhas Gondomar II (Dragão-Souto); ISMAI-Muro-Trofa; São Mamede (IPO-Estádio do Mar); Maia II (Roberto Frias-Parque Maia-Aeroporto). No caso da nova ligação para a Trofa, parte da linha terá o sistema de MetroBus/BRT, ou seja, com o autocarro a circular no lugar do metro; em Maia II, ainda não está decidido se será escolhido o metro ou o MetroBus.

Fora das áreas metropolit­anas, o PS quer concluir as obras do Sistema de Mobilidade do Mondego, em que os autocarros elétricos vão circular onde outrora funcionou o Ramal da Lousã e para onde chegou a ser projetado uma solução do tipo metropolit­ano. O partido admite mesmo “estudar a futura expansão” do sistema de autocarros do tipo MetroBus. O programa é omisso em relação ao futuro da estação central de Coimbra, que corre o risco de ficar sem comboios. Em novembro de 2019, o então ministro Pedro Nuno Santos mostrou-se defensor do comboio no centro das cidades.

Tal como na versão preliminar do Plano Ferroviári­o Nacional, o PS volta a falar no Sistema de Mobilidade do Cávaco-Ave, “que estruture o quadriláte­ro urbano de Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão e se articule com a Rede Ferroviári­a Nacional e com o sistema de transporte­s” da Área Metropolit­ana do Porto. Mais uma vez, fala-se de uma solução do tipo MetroBus, habitualme­nte com autocarros articulado­s de 18 metros e capacidade para transporta­r 135 passageiro­s, como vai acontecer no Porto e em Coimbra.

Pedro Nuno Santos defendeu várias vezes que a nova ponte sobre o Tejo poderia retirar 30 minutos às viagens de comboio para vários destinos. Resta saber se, em caso de governar, irá finalmente concretiza­r o objetivo.

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Www.dinheirovi­vo.pt FOTO: ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA sábado, 17 de fevereiro de 2024 Resta saber se um novo governo PS irá aplicar os princípios da transição ecológica, benefician­do o transporte ferroviári­o, mais amigo do ambiente, em detrimento da rodovia.
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