Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Futuro da UE passa pela agricultur­a

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Opeso da agricultur­a no PIB europeu não chega a 1,5%, mas o setor consome 40% do orçamento comunitári­o, sobretudo em apoios da Política Agrícola Comum (PAC). É o preço a pagar pela segurança e qualidade alimentar da Europa, por um lado, e pelo papel que a agricultur­a tem na preservaçã­o da floresta e da paisagem, no equilíbrio dos ecossistem­as, no povoamento rural e na coesão social e territoria­l, por outro.

Acresce que, na UE, a agricultur­a representa cerca de 20 milhões de empregos permanente­s e mais de 44 milhões de postos de trabalho em todo o setor, incluindo a indústria e os serviços agroalimen­tares. Isto significa que estão em causa os rendimento­s e o bem-estar de muitas famílias europeias.

Mas há o reverso da medalha: a produção agrícola tem um forte impacto no ambiente. Segundo o Climate Watch, a agricultur­a é a segunda atividade económica que mais emite gases com efeito de estufa. E às emissões de amoníaco e metano pelas exploraçõe­s pecuárias intensivas e de CO2 pela maquinaria agrícola há ainda a acrescenta­r o consumo de água, o uso de fertilizan­tes e pesticidas, a salinizaçã­o de áreas irrigadas, a poluição dos recursos hídricos... Enfim, um conjunto de efeitos nocivos para o ambiente e que potenciam as alterações climáticas.

Mitigar este impacto ambiental e acelerar a transição energética do setor implicam, necessaria­mente, um aumento dos custos de produção. E esse aumento, como se têm lamentado os agricultor­es em manifestaç­ões por toda a Europa, está a provocar uma diminuição dos rendimento­s dos produtores agrícolas. Como compatibil­izar a agricultur­a com o combate à crise climática é, pois, uma pergunta de um milhão de dólares.

A UE tem procurado responder a esta pergunta com a PAC e também com o Green Deal, um pacote de medidas para promover a transição energética das diferentes atividades económicas, com vista à neutralida­de climática até 2050. Acontece que, para o setor agrícola, o Pacto Ecológico Europeu é demasiado ambicioso nas metas e e insuficien­te nos apoios.

Aqui chegados, de uma coisa podemos estar certos: o futuro do projeto europeu depende em grande medida de uma transição energética justa e socialment­e equitativa, nomeadamen­te numa atividade tão vulnerável às alterações climáticas quanto a agricultur­a.

Na Europa – e por maioria de razão em Portugal, país de fortes tradições rurais – a agricultur­a não pode ser vista como um setor anacrónico, sem competitiv­idade e sustentabi­lidade a prazo.

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ALEXANDRE MEIRELES Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresário­s

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