Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
O super-homem de Nietzsche: já lá chegámos
No mundo atual, é impossível não se falar e pensar em inovação: está em todo o lado e sente-se a toda a hora. A realidade que conhecíamos há dez anos foi completamente revolucionada e vivemos agora numa nova dimensão tecnológica, com ferramentas, produtos e sistemas que transformaram por completo o mundo da forma que o percecionávamos.
Acabados de entrar em 2024, podemos afirmar que estamos também a entrar numa nova era. Temos como exemplo a Apple, que acaba de lançar os Vision Pro, comprovando o salto que a tecnologia está a dar. Aqueles que poderiam ser uns simples óculos, juntam agora a realidade e o mundo virtual, com as aplicações digitais a invadirem o espaço físico onde nos encontramos. O que pode parecer assustador e difícil de compreender é, na verdade, entusiasmante. Percebemos que a inovação não tem (nem nunca teve) a porta fechada e temos pela frente um novo mundo de possibilidades e de evolução.
Esta inovação de uma das maiores tecnológicas a nível mundial é apenas um dos muitos exemplos que têm surgido e que representam agora as novas interfaces de comunicação, onde o mundo virtual se mistura com o real. Esta relação homem-máquina, fomentada pela Inteligência Artificial Cognitiva, traz novas oportunidades e tem o potencial de aumentar a compreensão humana. Simultaneamente, contribui para o desenvolvimento de sistemas inteligentes o suficiente para aprenderem, pensarem e agirem como humanos.
A IA, em primeiro lugar, surgiu como uma ferramenta que fazia falta à sociedade ao contribuir para uma maior fluidez na utilização dos dispositivos. À medida que a exploramos, percebemos também que tem permitido um aumento cognitivo dos indivíduos além do que se pensava ser possível até então. Emergem, assim, os conceitos de “super-homem” e de superinteligência que não são mais do que o exceder as nossas capacidades. Mas o que irá acontecer se excedermos essas capacidades?
É neste âmbito que se fala, cada vez mais, do neocórtex e de como o nosso próprio cérebro continua a adaptar-se ao ecossistema em que vivemos, com a possibilidade de se descobrirem e incorporarem novas capacidades. Com a familiarização crescente com a realidade aumentada a que já começamos a assistir, será interessante perceber como uns “simples” óculos poderão impactar a nossa perceção de realidade daqui a um ou dois anos.
Toda esta nova interação e relação entre a IA e o cérebro humano desbloqueia novas formas de comunicação e de agir com o mundo. Foi nesse sentido que a Unbabel, em conjunto com o Centro de IA Responsável, desenvolveu o Halo – uma interface neuronal não invasiva que permite uma comunicação silenciosa, quase como se fosse telepatia. Recorrendo à IA e a grandes modelos de linguagem natural, torna-se possível comunicar sem falar – uma inovação imprescindível para muitos, principalmente pelos pacientes de Esclerose Lateral Amiotrófica, que podem agora começar a transmitir as escolhas que pensam e que não conseguem reproduzir verbalmente. Caminhamos exatamente na direção das interfaces de comunicação que quebram barreiras e proporcionam possibilidades muito semelhantes à telepatia. Este novo tipo de relacionamentos faz-nos acreditar que ainda podemos vir a interagir com o meio ambiente de formas que ainda não conseguimos perceber, assimilar e que ainda nem sequer somos capazes de percecionar. Com o desenvolvimento tecnológico, surgem inovações – e novas soluções – para os mais diversos problemas.
Qualquer transformação e evolução é, no entanto, sinónimo de adaptação, de oportunidades e também de desafios. Colocam-se agora questões como: quais serão os modelos de estrutura social que estamos prestes a desbloquear? A automatização de processos e de tarefas quotidianas vem impactar toda a conjuntura profissional e pessoal dos seres humanos e existirá uma mudança de rotinas, de valores, de capacidades e de experiências que ainda não conseguimos compreender. Como será esta nova sociedade?
O que por agora compreendemos é que estamos, de facto, numa nova era onde a inovação se vê, se ouve e se sente. Há uns anos, tudo isto que vivenciamos não passava de ficção científica, estando agora subtilmente presente nas nossas vidas e no nosso quotidiano. Com a rapidez a que novas tecnologias têm surgido e o ecossistema tem mudado, relembramos a filosofia do super-homem de Nietzsche, capaz de ultrapassar as normais sociais e as suas próprias limitações: será que já lá chegámos?
“Caminhamos exatamente na direção das interfaces de comunicação que quebram barreiras e proporcionam possibilidades muito semelhantes à telepatia. Este novo tipo de relacionamentos faz-nos acreditar que ainda podemos vir a interagir com o meio ambiente de formas que ainda não conseguimos perceber, assimilar e que ainda nem sequer somos capazes de percecionar.”