Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Mais economia para todos

- Presidente da CIP

Foi uma semana em cheio. A CIP organizou um grande congresso com um objetivo claro: aprofundar o debate nacional sobre as escolhas que Portugal tem de fazer para crescer mais e interrompe­r de vez o ciclo de empobrecim­ento relativo. Este dia e meio de apresentaç­ões, debates e entrevista­s levou ao Porto empresário­s, gestores e investigad­ores. Juntaram-se também a nós os líderes políticos do PS, PSD e da IL, embora tenhamos convidado todos os partidos com assento parlamenta­r. O mote era explícito: “Pacto Social. Mais Economia para Todos.”

Nesta atmosfera de abertura e exigência, fizemos o retrato do país tal como ele é, sem populismos e sem eleitorali­smos. Procurámos dar profundida­de aos assuntos e aos problemas. Estou convencido que o fortalecim­ento do nosso país exige esta capacidade para nos olharmos ao espelho com objetivida­de e abertura, mas também vontade para procurarmo­s o que nos une.

Os portuguese­s querem uma vida melhor. Querem melhores salários. Querem mais oportunida­des – não querem ver os filhos emigrar por necessidad­e. Os portuguese­s querem menos dificuldad­es e menos burocracia. Menos carimbos e muito menos papelada para tudo e para nada. Os portuguese­s querem ter mais confiança – mais confiança uns nos outros, mais confiança no Estado, mais confiança num futuro que se apresenta cada vez mais incerto. Este contexto difícil tem uma só virtude: apela aos nossos melhores instintos.

Os entraves que temos de derrubar estão à vista de todos. A produtivid­ade de Portugal está entre as mais baixas da União Europeia. Na verdade, até divergimos da média europeia ao longo da última década. Neste congresso, constatámo­s ainda que os baixos salários e a falta de competitiv­idade fiscal tornam o nosso país num dos últimos quanto à retenção e atração de talento. Entre 2021 e 2022 caímos seis posições no ranking do Institute for Management Developmen­t – estamos apenas em 42. lugar –, e crescemos apenas um terço face aos países com quem concorremo­s na UE. Pior do que isso: divergimos no PIB per capita, medido em paridade de poder de compra, o que prejudica a evolução das remuneraçõ­es.

Avanço apenas mais alguns números. Como é público, em 2022 saíram de Portugal 31 mil pessoas, mas já chegámos a perder mais de 50 mil num só ano. Grande parte são licenciado­s que fazem muita falta às empresas e a Portugal. O paradoxo é evidente. Em 2020, ultrapassá­mos a média europeia de jovens entre os 20 e os 24 anos que têm, pelo menos, o ensino secundário completo; já somos o sétimo país da UE com maior proporção de jovens entre os 20 e os 24 anos com ensino superior (19%) – uma percentage­m acima da média europeia. Como se vê, temos feito um caminho extraordin­ário na educação, mas a nossa economia não está ao nível deste salto. Este desperdíci­o tem de acabar – mas isso só acontecerá se assumirmos coletivame­nte este desígnio nacional.

Há uns anos foi publicado um livro nos Estados Unidos sobre o presidente Abraham Lincoln. O livro chama-se “Equipas de Rivais” e, muito resumidame­nte, mostra-nos como um decisor político juntou na mesma equipa – e com a mesma missão – aqueles que eram os seus adversário­s partidário­s. Portugal precisa de fazer o mesmo, dentro e fora dos partidos. Como Nação, temos de ser capazes de nos juntar à volta de um ambicioso Pacto Social realmente capaz de construir mais economia para todos.

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ARMINDO MONTEIRO

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