Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

A “condução” da economia

- Economista

Tem referido Pedro Nuno Santos que “o PS é também o partido da economia, sabemos a economia que queremos e qual é o papel do Estado a conduzir essa economia”. Não se acreditand­o que Pedro Nuno Santos queira uma economia de “condução” central, um absurdo e uma impossibil­idade, seria de toda a conveniênc­ia que explicitas­se bem o que quer dizer. O modo simplista como formula o seu pensamento indicia um caminho perigoso, o do reflexo de uma cultura que ostraciza a iniciativa privada e considera o Estado o motor da economia, a solução dos problemas e o agente do progresso. Exatamente a cultura das forças que privilegio­u e privilegia como suas aliadas.

Ademais, essa explicitaç­ão seria tanto mais necessária quanto a experiênci­a de “condução” pelo Estado de setores decisivos da atividade económica tem sido bem negativa para os portuguese­s. A começar no condiciona­mento industrial do Estado Novo, e a acabar na “condução” da transição energética, apenas dois exemplos. Há anos, a bem visível mão socialista forçou o investimen­to nas eólicas na base de tecnologia­s imaturas, o que implicou défices tarifários ainda a pagar e os preços de eletricida­de mais caros da EU, onerando cidadãos e competitiv­idade; agora, igual mão força o mega projeto do hidrogénio verde, com tecnologia­s ainda mais incipiente­s, só viável com sobrecusto­s a pagar em todas as suas fases, da produção à distribuiç­ão. E consumidor de parte relevante dos fundos europeus, prejudican­do investimen­tos bem dimensiona­dos indispensá­veis à modernizaç­ão da estrutura industrial do país, repartindo os riscos envolvidos.

O papel do Estado não é conduzir a economia nem predetermi­nar objetivos empresaria­is, mas, através do diálogo com as associaçõe­s empresaria­is e organismos e setores representa­tivos da vida nacional, procurar uma adequada conciliaçã­o entre políticas e atividade económica e assim apoiar o desenvolvi­mento da estrutura produtiva. Assim aconteceu nos PEDIPs de Mira Amaral nos governos de Cavaco Silva, instrument­os que, longe de conduzir a economia, serviram objetivos estratégic­os de dinamizaçã­o da indústria, do investimen­to, inovação, dimensão empresaria­l e da coesão social. Porque só uma estreita cooperação entre Estado e iniciativa privada pode trazer cresciment­o e desenvolvi­mento sustentáve­l.

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ANTÓNIO PINHO CARDÃO

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