Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Inovar e liderar num mundo movido a IA
AInteligência Artificial (IA) entrou, definitivamente, no léxico global, à medida que os rápidos avanços e a democratização no acesso a ferramentas inovadoras têm levado a IA a cada vez mais salas de aula, empresas, laboratórios de investigação e, também, às nossas casas.
Os avanços e a escala da inovação tecnológica – sobretudo da IA – que hoje acontecem não têm precedentes na nossa história e, por isso mesmo, abrem caminho a um mundo movido a inteligência artificial que possa ser mais produtivo, com mais valor gerado, mais criativo e ágil.
O impacto da IA nas economias e sociedade ainda é incerto, mas vários dados e estudos sustentam o entusiasmo global. De acordo com a McKinsey, a IA poderia acrescentar 2,7 biliões de euros à produção económica da União Europeia, até 2030. E, já no presente, o investimento está a demonstrar resultados. Na Europa, por cada 0,91 euros investidos por uma empresa em IA, o retorno médio é de 3,06 euros, de acordo com um estudo da Microsoft em parceria com o IDC.
Esta é uma forma de medir o pulso à evolução tecnológica que sentimos no dia a dia. Mas há outras formas. Em tempo, por exemplo. O último Work Trend Index refere, a este respeito, que 29% dos utilizadores da tecnologia Copilot conseguiram ser mais rápidos num conjunto de tarefas profissionais.
Também podemos medir os avanços da IA de outras maneiras, como no olhar maravilhado das crianças que estão a usar pela primeira vez ferramentas de IA generativa, como o Microsoft Reading Coach, para construir as suas próprias histórias, enquanto melhoram níveis de leitura. Ou nas possibilidades que estão a ser concretizadas no campo da medicina, como o desenvolvimento do maior modelo de inteligência artificial baseado em imagens para apoiar o diagnóstico precoce de cancro. A evolução dos algoritmos está a concretizar-se, em passos de gigante, todos os dias.
Do potencial global à liderança europeia
Por qualquer perspetiva que se olhe, o potencial é inegável. A tecnologia dá-nos hoje – e cada vez mais – a oportunidade de resolver problemas complexos, de melhorar o reconhecimento de padrões e a capacidade de antecipação, de aumentar a produtividade e apoiar a tomada de melhores decisões. E, por outro lado, de reimaginar os modelos de trabalho existentes com novos níveis de automação e realização de tarefas em coprodução com ferramentas de IA.
Porque o potencial é transversal, falar da inovação é, naturalmente, um debate que se traz para o domínio global, mas que é imperativo para transformar a economia nacional. É compreensível que tal aconteça porque, na sua génese, e apesar dos riscos de ampliação de disparidades (caso a inovação não seja feita de forma equitativa e responsável), o desenvolvimento e adoção de ferramentas tecnológicas com recurso a IA da próxima geração estão a impactar as várias economias e sociedades.
Não obstante, é também fundamental aproveitar este momentum e os holofotes que estão postos na IA generativa para refletir sobre o papel que a Europa e especificamente Portugal poderão desempenhar nesta revolução tecnológica.
É um facto que a presente conjuntura tem colocado a Europa à prova. Depois da pandemia, a pressão elevada da inflação e das taxas de juro condicionam o crescimento económico. Há um desafio hercúleo a superar no caminho de um crescimento sustentável – e capitalizar o potencial da IA pode ser a oportunidade certa para o conseguir.
Referi, há pouco, o estudo da McKinsey sobre os 2,7 biliões de euros que a IA poderia acrescentar à economia europeia até 2030. Mas podemos não ficar por aqui. Se a Europa conseguir acelerar a inovação digital e o desenvolvimento das competências nestas ferramentas tecnológicas, os ganhos podem ser bastante superiores, adicionando mais 900 mil milhões de euros.
Neste caminho, o bloco europeu deve promover um ecossistema de IA próspero e verdadeiramente difundido, em que as ferramentas inovadoras possam estar acessíveis a qualquer tipo de empresa, das gigantes multinacionais às PME.
Este é um ecossistema de IA que, apesar do ritmo veloz da inovação, precisa ser construído com sólidos alicerces, numa estratégia tecnológica que abrace os diferentes decisores e stakeholders.
Condições como uma abordagem IA-first ou a orientação para o cliente surgem como prioritárias nestes primeiros passos estratégicos das empresas que adotam ferramentas de IA. Mas outros fatores também pesam (e muito) na balança do sucesso, como a democratização do acesso às ferramentas tecnológicas dentro de cada organização e em modelos operacionais integrados para todas as unidades de negócio – e não apenas para um grupo restrito de “eleitos” ou numa perspetiva única de experimentação.
Acelerar competências
Os modelos operacionais de IA eficazes prosperam com a evolução tecnológica e com as estratégias, modelos e orientações certas, sem dúvida. Não podemos, contudo, esquecer o papel preponderante dos humanos que trabalham com a IA. É na parceria humano-IA que as possibilidades do amanhã serão (ou não) forjadas.
Para isso, precisamos de apostar na formação de competências, com celeridade. A boa notícia é que, de acordo com o Work Trend Index Annual Report da Microsoft, 82% dos líderes empresariais reconhecem que são necessárias novas competências dos trabalhadores para que a IA possa crescer.
O que está a ser feito para assegurar estas competências? É necessário, por um lado, facilitar o acesso a ferramentas de IA generativa junto de crianças e jovens, preparando a força de trabalho do futuro.
Por outro lado, é preciso também criar condições para formar e requalificar as pessoas que já estão nas empresas. E isso só pode acontecer num ambiente que incentive experiência e conhecimento, com acesso ao desenvolvimento de competências, aprendizagem contínua e certificações. Apenas com esta aposta nas competências humanas e digitais de amanhã é possível desbloquear todo o potencial e valor que as ferramentas de IA trazem para as empresas, economias e sociedade. Tudo isto dentro de uma lógica de inovação responsável.
É por tudo isto que anunciámos, esta semana, o lançamento do AI Innovation Factory, numa parceria com a Accenture, a Avanade e a Unicorn Factory Lisboa, com o objetivo de ser um catalisador de inovação junto das empresas e startups nacionais. O novo programa será personalizado para as organizações que se inscrevam e tem como objetivo acelerar e maximizar o retorno da adoção responsável da Inteligência Artifical no país. Além disso, a AI Innovation Factory vai proporcionar treino e formação, permitindo às organizações participantes adquirir as competências necessárias para tirar o maior partido da IA.
A inteligência artificial está a afirmar-se como a tecnologia definidora da nossa geração, mas a incerteza e os riscos também são vastos. Os passos de gigante que damos neste admirável mundo novo alimentado por IA têm de ser orientados pela ética, segurança, transparência e confiança. A expansão e consagração da IA e dos seus benefícios para as pessoas, organizações e sociedade disso dependem, tal como o papel de liderança da Europa nesta revolução dos algoritmos.