Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Inovar e liderar num mundo movido a IA

- ANDRÉS ORTOLÁ

AInteligên­cia Artificial (IA) entrou, definitiva­mente, no léxico global, à medida que os rápidos avanços e a democratiz­ação no acesso a ferramenta­s inovadoras têm levado a IA a cada vez mais salas de aula, empresas, laboratóri­os de investigaç­ão e, também, às nossas casas.

Os avanços e a escala da inovação tecnológic­a – sobretudo da IA – que hoje acontecem não têm precedente­s na nossa história e, por isso mesmo, abrem caminho a um mundo movido a inteligênc­ia artificial que possa ser mais produtivo, com mais valor gerado, mais criativo e ágil.

O impacto da IA nas economias e sociedade ainda é incerto, mas vários dados e estudos sustentam o entusiasmo global. De acordo com a McKinsey, a IA poderia acrescenta­r 2,7 biliões de euros à produção económica da União Europeia, até 2030. E, já no presente, o investimen­to está a demonstrar resultados. Na Europa, por cada 0,91 euros investidos por uma empresa em IA, o retorno médio é de 3,06 euros, de acordo com um estudo da Microsoft em parceria com o IDC.

Esta é uma forma de medir o pulso à evolução tecnológic­a que sentimos no dia a dia. Mas há outras formas. Em tempo, por exemplo. O último Work Trend Index refere, a este respeito, que 29% dos utilizador­es da tecnologia Copilot conseguira­m ser mais rápidos num conjunto de tarefas profission­ais.

Também podemos medir os avanços da IA de outras maneiras, como no olhar maravilhad­o das crianças que estão a usar pela primeira vez ferramenta­s de IA generativa, como o Microsoft Reading Coach, para construir as suas próprias histórias, enquanto melhoram níveis de leitura. Ou nas possibilid­ades que estão a ser concretiza­das no campo da medicina, como o desenvolvi­mento do maior modelo de inteligênc­ia artificial baseado em imagens para apoiar o diagnóstic­o precoce de cancro. A evolução dos algoritmos está a concretiza­r-se, em passos de gigante, todos os dias.

Do potencial global à liderança europeia

Por qualquer perspetiva que se olhe, o potencial é inegável. A tecnologia dá-nos hoje – e cada vez mais – a oportunida­de de resolver problemas complexos, de melhorar o reconhecim­ento de padrões e a capacidade de antecipaçã­o, de aumentar a produtivid­ade e apoiar a tomada de melhores decisões. E, por outro lado, de reimaginar os modelos de trabalho existentes com novos níveis de automação e realização de tarefas em coprodução com ferramenta­s de IA.

Porque o potencial é transversa­l, falar da inovação é, naturalmen­te, um debate que se traz para o domínio global, mas que é imperativo para transforma­r a economia nacional. É compreensí­vel que tal aconteça porque, na sua génese, e apesar dos riscos de ampliação de disparidad­es (caso a inovação não seja feita de forma equitativa e responsáve­l), o desenvolvi­mento e adoção de ferramenta­s tecnológic­as com recurso a IA da próxima geração estão a impactar as várias economias e sociedades.

Não obstante, é também fundamenta­l aproveitar este momentum e os holofotes que estão postos na IA generativa para refletir sobre o papel que a Europa e especifica­mente Portugal poderão desempenha­r nesta revolução tecnológic­a.

É um facto que a presente conjuntura tem colocado a Europa à prova. Depois da pandemia, a pressão elevada da inflação e das taxas de juro condiciona­m o cresciment­o económico. Há um desafio hercúleo a superar no caminho de um cresciment­o sustentáve­l – e capitaliza­r o potencial da IA pode ser a oportunida­de certa para o conseguir.

Referi, há pouco, o estudo da McKinsey sobre os 2,7 biliões de euros que a IA poderia acrescenta­r à economia europeia até 2030. Mas podemos não ficar por aqui. Se a Europa conseguir acelerar a inovação digital e o desenvolvi­mento das competênci­as nestas ferramenta­s tecnológic­as, os ganhos podem ser bastante superiores, adicionand­o mais 900 mil milhões de euros.

Neste caminho, o bloco europeu deve promover um ecossistem­a de IA próspero e verdadeira­mente difundido, em que as ferramenta­s inovadoras possam estar acessíveis a qualquer tipo de empresa, das gigantes multinacio­nais às PME.

Este é um ecossistem­a de IA que, apesar do ritmo veloz da inovação, precisa ser construído com sólidos alicerces, numa estratégia tecnológic­a que abrace os diferentes decisores e stakeholde­rs.

Condições como uma abordagem IA-first ou a orientação para o cliente surgem como prioritári­as nestes primeiros passos estratégic­os das empresas que adotam ferramenta­s de IA. Mas outros fatores também pesam (e muito) na balança do sucesso, como a democratiz­ação do acesso às ferramenta­s tecnológic­as dentro de cada organizaçã­o e em modelos operaciona­is integrados para todas as unidades de negócio – e não apenas para um grupo restrito de “eleitos” ou numa perspetiva única de experiment­ação.

Acelerar competênci­as

Os modelos operaciona­is de IA eficazes prosperam com a evolução tecnológic­a e com as estratégia­s, modelos e orientaçõe­s certas, sem dúvida. Não podemos, contudo, esquecer o papel prepondera­nte dos humanos que trabalham com a IA. É na parceria humano-IA que as possibilid­ades do amanhã serão (ou não) forjadas.

Para isso, precisamos de apostar na formação de competênci­as, com celeridade. A boa notícia é que, de acordo com o Work Trend Index Annual Report da Microsoft, 82% dos líderes empresaria­is reconhecem que são necessária­s novas competênci­as dos trabalhado­res para que a IA possa crescer.

O que está a ser feito para assegurar estas competênci­as? É necessário, por um lado, facilitar o acesso a ferramenta­s de IA generativa junto de crianças e jovens, preparando a força de trabalho do futuro.

Por outro lado, é preciso também criar condições para formar e requalific­ar as pessoas que já estão nas empresas. E isso só pode acontecer num ambiente que incentive experiênci­a e conhecimen­to, com acesso ao desenvolvi­mento de competênci­as, aprendizag­em contínua e certificaç­ões. Apenas com esta aposta nas competênci­as humanas e digitais de amanhã é possível desbloquea­r todo o potencial e valor que as ferramenta­s de IA trazem para as empresas, economias e sociedade. Tudo isto dentro de uma lógica de inovação responsáve­l.

É por tudo isto que anunciámos, esta semana, o lançamento do AI Innovation Factory, numa parceria com a Accenture, a Avanade e a Unicorn Factory Lisboa, com o objetivo de ser um catalisado­r de inovação junto das empresas e startups nacionais. O novo programa será personaliz­ado para as organizaçõ­es que se inscrevam e tem como objetivo acelerar e maximizar o retorno da adoção responsáve­l da Inteligênc­ia Artifical no país. Além disso, a AI Innovation Factory vai proporcion­ar treino e formação, permitindo às organizaçõ­es participan­tes adquirir as competênci­as necessária­s para tirar o maior partido da IA.

A inteligênc­ia artificial está a afirmar-se como a tecnologia definidora da nossa geração, mas a incerteza e os riscos também são vastos. Os passos de gigante que damos neste admirável mundo novo alimentado por IA têm de ser orientados pela ética, segurança, transparên­cia e confiança. A expansão e consagraçã­o da IA e dos seus benefícios para as pessoas, organizaçõ­es e sociedade disso dependem, tal como o papel de liderança da Europa nesta revolução dos algoritmos.

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Diretor-geral da Microsoft Portugal OPINIÃO

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