Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Menos tática e mais ambição

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Na reta final da campanha, o debate parece encaminhar-se para onde os media e alguns candidatos o preferem dirigir: a infantiliz­ação da vida política. Em vez de se discutirem as diferenças programáti­cas que vão a jogo no dia 10 de março, passamos os dias a ouvir falar dos cenários pós-eleitorais, de quem faz acordos com quem, de quem disse o quê sobre o assunto no passado recente. Quando pensávamos que o recreio já tinha acabado, eis que há sempre alguém a fingir que não ouviu a campainha.

Neste rolo compressor, os dias passam e os temas relevantes vão ficando para trás. Entre eles, a economia e as condições que o país deve assegurar para crescer em competitiv­idade, em riqueza e em condições de vida para a população. Nem os debates serviram para colocar a questão do cresciment­o económico na agenda, sendo engolida pelos casos de justiça ou por temas de ordem conjuntura­l.

A AD e a IL procuraram ser a exceção à regra e abordar esta questão pela via fiscal, propondo cortes mais arrojados no IRS e no IRC, e apontando para metas ambiciosas de cresciment­o no final da década. Já o PS repete o discurso da afinação do “sistema de incentivos”, voltando a colocar o Estado no centro da atividade económica, escolhendo os setores produtivos que merecem ser apoiados.

Ora, foi precisamen­te esta ideia planificad­ora que trouxe estagnação, cresciment­o anémico e baixos rendimento­s ao país. E que justificou a desastrosa intervençã­o pública na TAP ou na Efacec, sempre com o estafado argumento das empresas estratégic­as, invariavel­mente salvas pelo bolso dos contribuin­tes. Por outro lado, uma visão mais reformista sobre a economia não pode ficar-se pela fiscalidad­e e deve atacar outros bloqueios ao desempenho das empresas, como a simplifica­ção administra­tiva, os custos de contexto ou a escassez de mão-de-obra.

Pela incerteza na economia global e pela perda consistent­e de competitiv­idade no quadro europeu, estas eleições legislativ­as têm uma importânci­a crucial para Portugal. Pede-se, portanto, mais ambição, e menos tática política aos nossos candidatos. Mais propostas e menos cenários. No escasso tempo que falta, seria esta a campanha que importava ouvir.

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NUNO BOTELHO Presidente da Associação Comercial do Porto

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