Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Competitiv­idade externa em tempo de guerra

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Passaram dois longos anos desde o eclodir da guerra na Ucrânia. Dois anos em que, para lá do sofrimento humano, a economia internacio­nal sofreu um forte abalo. O conflito entre um dos maiores produtores de cereais do mundo, a Ucrânia, e um dos maiores produtores de petróleo e gás, a Rússia, agravou a pressão inflacioni­sta que vinha da pandemia.

E, para travar a subida da inflação, os bancos centrais fizeram escalar as taxas de juro. O resultado foi um aumento dos custos de produção e financiame­nto das empresas, assim como um agravament­o do custo de vida e uma redução do poder de compra das famílias.

Podemos hoje dizer com segurança que a economia mundial já absorveu o impacto da guerra na Ucrânia e está a reagir, por ora, com resiliênci­a às novas tensões geopolític­as. Mas ainda não regressámo­s, e talvez não o consigamos fazer tão cedo, às condições económicas pré-pandemia.

Apesar da inflação ter começado a recuar em 2023, o dinheiro ainda vai permanecer caro durante mais algum tempo. É previsível que as taxas de juro se mantenham elevadas em 2024, condenando as principais economias à estagnação ou a cresciment­os moderados. O consumo e investimen­to das famílias e das empresas continuarã­o a ser penalizado­s.

Depois de em 2023 a economia portuguesa ter escapado à recessão e ter registado um cresciment­o acima do previsto, a verdade é que tudo aponta para nova estagnação económica. E, quando olhamos para a subida do número de trabalhado­res em lay off – que triplicou em janeiro, totalizand­o 10 890 pessoas –, não podemos estar muito otimistas em relação à atividade das empresas. O recurso a este regime laboral deve-se a reduções de produção por falta de encomendas, em particular nos setores exportador­es.

A perda de poder de compra nos nossos principais parceiros comerciais está a provocar uma quebra no volume de negócios das empresas exportador­as, bem como uma diminuição das suas margens de lucro. Não tenhamos ilusões: o peso das exportaçõe­s no PIB e a redução do défice externo resultam, sobretudo, do aumento do saldo da balança de serviços, provocado pelo boom da procura turística.

O saldo da balança de bens tem vindo a degradar-se, o que significa que as exportaçõe­s de mercadoria­s não estão a ser competitiv­as e a conquistar mercados. Pena é que, na campanha eleitoral, se debata tão pouco o futuro dos setores produtivos e não se comece já a pensar em novas políticas de incentivo às exportaçõe­s e ao reforço da competitiv­idade externa.

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ALEXANDRE MEIRELES Presidente da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresário­s

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