Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Linha de Leixões espera por protocolo para regresso dos passageiros
Seis meses após a CP ter apresentado a proposta de exploração da linha de Cintura do Porto, aguardam-se desenvolvimentos sobre a construção de plataformas provisórias junto ao São João, Arroteia e Leça do Balio.
A Linha de Leixões espera pela assinatura de um protocolo para voltar a receber comboios de passageiros. O documento será assinado em conjunto pela Câmara de Matosinhos, a CP e a Infraestruturas de Portugal (IP). Embora a CP já tenha apresentado, no final de agosto, a proposta de exploração da linha de Cintura do Porto, continua a não haver um calendário para o regresso dos utentes. Além de beneficiar o polo empresarial de Leça do Balio, várias faculdades da Universidade do Porto e o Hospital de São João, a solução contribuirá para aliviar o trânsito na Via de Cintura Interna.
Há seis meses, a CP anunciou que poderia realizar um serviço suburbano com um comboio por hora e por sentido entre Porto-Campanhã e Leça do Balio. Com 34 ligações por dia de 20 minutos cada, seria possível servir 1,6 milhões de passageiros por ano: um terço da procura viria de Campanhã (502 mil utentes); outro terço do Hospital de São João (444 mil); os restantes seriam de São Mamede de Infesta (132 mil), Arroteia, junto à Efacec (115 mil), polo empresarial de Leça do Balio (49,5 mil) e Contumil. Para contabilizar os passageiros, seria necessário instalar 10 validadores.
“Nós estamos prontos para iniciar a operação”, adiantou o administrador da CP Pedro Ribeiro, no festival EntreLinhas, em Ermesinde. A proposta não implica o uso de mais material circulante para a transportadora: em vez de os comboios suburbanos de Aveiro chegarem a Campanhã e inverterem o sentido para chegar a São Bento, passariam a seguir diretamente para Leça do Balio.
Em meados de outubro, a empresa viria a reforçar a proposta de oferta, com circulações a cada meia-hora, escreveu na altura o jornal Público e confirmou, no mês seguinte, o presidente da CP, Pedro Moreira: “Achamos, da nossa análise, podendo eventualmente ter algum erro, que é possível uma frequência maior. Essa frequência maior seria de cerca de meia hora, ainda que não totalmente cadenciada, porque está muito dependente dos serviços que nós fizermos com a Linha do Norte”, segundo declarações à Lusa.
A proposta da CP pretende começar a atrair procura e aproveitar ao máximo a via única da Linha de Leixões – que atualmente serve comboios de mercadorias de e para o porto local e o comboio operário até Guifões. Na segunda fase, seria necessário apostar nos apeadeiros de Guifões e de Araújo, além de construir uma estação em Leixões mais próxima da estação do Metro do Porto do Senhor de Matosinhos.
Conforme a adesão dos utentes, a ligação ferroviária poderá vir a ser duplicada. Em maio de 2021, seriam necessários cerca de 65,5 milhões de euros para esta intervenção, segundo um estudo encomendado pela Câmara de Matosinhos. Passando a ter duas vias, além de novas estações, a Linha de Leixões poderia prolongar-se até ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Com a inflação dos últimos dois anos, o orçamento teria de ser ampliado.
Benefícios locais
A construção de plataformas no Hospital de São João, em Arroteia e em Leça do Balio é determinante para que os passageiros possam entrar e sair dos comboios. A tarefa é da responsabilidade da Infraestruturas de Portugal: a forma mais rápida de reabrir a linha passa pela aposta em plataformas provisórias, como funcionaram, por exemplo, na Aguda, Granja e Miramar durante as obras de renovação da Linha do Norte, perto da zona de Gaia. A IP nada tem dito sobre o regresso do serviço suburbano a este projeto e não respondeu às perguntas enviadas há um mês pelo Dinheiro Vivo sobre o tema.
A futura estação junto ao Hospital de São João também beneficia a zona da Asprela, onde se encontram várias faculdades da Universidade do Porto. “Basta pensar que uma ligação direta entre a Asprela e a estação de Campanhã permitiria poupar muitos minutos de viagem. Se este investimento for articulado com outros meios de transporte, nomeadamente com o metro, poderia formar um importante anel de ligação e ajudar a minimizar o problema da habitação. Os estudantes poderiam viver um pouco mais distantes da FEUP, mas não necessariamente demorariam mais tempo a chegar aqui, que é o ponto mais importante”, sinalizou ao Dinheiro Vivo, em setembro, Rui Calçada, diretor da Faculdade de Engenharia do Porto.
No caso de Leça do Balio, o comboio poderia servir os trabalhadores de mais de uma centena de empresas: “Se existisse a Linha de Leixões isso levaria a uma redução do volume do trânsito automóvel de 20% nas áreas circundantes”, estimou em setembro o presidente do polo empresarial da Lionesa, Pedro Pinto, citado pela Lusa.
Para já, reina o silêncio no Norte: nem Câmara de Matosinhos nem CP responderam às perguntas do Dinheiro Vivo sobre quando voltará a circular o primeiro comboio de passageiros na Linha de Leixões. Não se quer repetir o problema de 2009: o comboio voltou em setembro, após a assinatura de um protocolo, a poucos dias das legislativas desse ano e durou apenas até fevereiro de 2011, devido à baixa procura. Na altura, a ligação ferroviária fazia-se entre Ermesinde e Leça do Balio com comboio do tipo regional.
Com 34 ligações por dia de 20 minutos cada, seria possível servir 1,6 milhões de passageiros por ano entre Campanhã e Leça do Balio.