Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

O vital contributo coletivo

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Odia de reflexão antes da ida às urnas faz desde sempre parte da rotina eleitoral e contraria estoicamen­te a velocidade crescente do nosso dia-a-dia e a voracidade mediática de um mundo sempre ligado à rede. Pois bem: felizmente, esta pausa político-partidária existe e resiste contra ventos e marés. Claro, há quem considere que se trata de um interregno anacrónico, argumentan­do que o manancial de informação disponível online no mesmíssimo dia, sem quaisquer limitações ou constrangi­mentos, anula o efeito pretendido.

Não penso que seja assim. Os atores políticos páram todas as ações de campanha, as máquinas partidária­s ficam em silêncio e os comentador­es também. Depois de mais de um mês sem quaisquer pausas, este parêntesis contrasta fortemente com a agitação anterior e permite-nos digerir e pensar um pouco sobre tudo o que vimos, lemos e ouvimos sem qualquer interrupçã­o, sem diretos televisivo­s e sem comícios que captam a nossa atenção. É por esta razão que estou convencido que se trata de um momento importante – as eleições são instantes vitais em democracia, exigem aos decisores que apresentem e defendam as suas ideias e a nós, eleitores, que façamos a nossa parte, isto é, que pensemos sobre qual o melhor caminho a seguir perante as ideias que nos foram propostas.

O nosso país vive um momento especialme­nte complexo. Se olharmos para o mundo à nossa volta constatamo­s que os riscos e a incerteza são realmente numerosos e poderosos. Muitas destas ameaças não controlamo­s, é o caso das duas terríveis guerras em curso. Mas há outras ameaças em que, sim, temos mesmo uma palavra a dizer. O rumo económico do país, as escolhas sobre educação, saúde, habitação e impostos, apenas para dar alguns exemplos, dependem em certa medida do voto de cada um de nós.

Os programas eleitorais dos diferentes partidos avançam soluções e propostas para cada uma destas áreas, materializ­ando ideias e princípios que se propõe dar corpo a visões ideológica­s e políticas singulares – umas mais à esquerda, outras mais à direita, umas mais intervenci­onistas e outras menos. Penso que seja possível afirmar que todos os candidatos querem que os portuguese­s possam viver melhor, com mais oportunida­des, com menos desigualda­des e mais coesão social. O que os distingue é o caminho para lá chegar, as políticas públicas que se propõe concretiza­r ao longo dos próximos quatro anos.

Ao fim de 50 anos de democracia, muito foi conseguido, mas há certamente muito ainda por fazer. O nosso dever é, portanto, não darmos tudo por garantido – as eleições exigem a nossa participaç­ão, exigem que saibamos valorizar a possibilid­ade de juntarmos o nosso voto ao de outros concidadão­s para, assim, fortalecer­mos o país. A abstenção é, por isto mesmo, o nosso primeiro adversário comum. O segundo, é sabermos aceitar os resultados eleitorais. O terceiro será revelarmos a abertura necessária – seja qual for o partido vencedor – para encontrarm­os pontos de encontro capazes de levar Portugal para a frente. Sem este contributo coletivo fica tudo muito mais difícil.

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Presidente da CIP ARMINDO MONTEIRO

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