Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Preços do alojamento, uma faca de dois gumes
Oano passado foi o melhor de sempre para o turismo português com receitas de 25 mil milhões de euros. E para este ano perspetiva-se mais. Não é para mim de espantar, por isso, que a Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) da semana passada tenha batido o recorde de 79 mil visitantes (mais 16 mil do que em 2023) e que, ao superar também a Web Summit, se tenha tornando no evento com mais visitas no nosso país. Prova de que há muito para mostrar e experienciar por esse Portugal fora – e não só, porque também houve um aumento dos expositores estrangeiros. Interessados em usufruir também não faltam.
No ano passado, com o disparar dos preços do alojamento e da restauração no litoral, em regiões como o Algarve e Lisboa, em pleno verão, muitas entidades vieram afastar a nuvem de que grande parte dos portugueses não consegue acompanhar estes aumentos. De facto, o poder de compra nacional está longe dos endinheirados norte-americanos, que aqui chegam cada vez em maior número, ou da maioria dos europeus – alemães, franceses, britânicos – e a economia nacional precisa deles. E é também verdade que o nosso Portugal já tem alojamentos de qualidade em toda a sua extensão geográfica, há muita oferta e é preciso torná-la o menos sazonal possível. E nisto os portugueses são fundamentais. Só que o que era antes acessível até à classe média, é cada vez menos hoje (e amanhã, como será?). É o que empurra também muitas famílias para destinos fora do país, e nem precisam de viajar de avião, basta ver as matrículas de carros portugueses junto às praias do sul de Espanha, por exemplo, onde fazer férias pode sair mais barato do que na vizinhança algarvia.
Entendo os argumentos que justificam o peso do turismo na economia nacional e também do ponto de vista do investimento empresarial, por força da necessidade de pagar melhores salários e aumentar a qualificação dos trabalhadores, e de uma melhoria significativa das infraestruturas e da oferta ao cliente. Se custa dinheiro, reflete-se no preço. Ainda na semana passada dizia o presidente da Associação da Hotelaria de Portugal, Bernardo Trindade, que “não temos de ficar acantonados numa perspetiva de depressão nacional em torno dos preços do alojamento. O preço do alojamento é importante que ele seja alto porque, em primeiro lugar, qualifica os destinos – porque faz concorrer com outras realidades com que competimos – e dão margem para que os hoteleiros possam, de alguma maneira, financiar todas as remodelações que só quem anda na hotelaria sabe que são de uma exigência permanente”. Por seu lado, o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, Pedro Costa Ferreira, defendeu à Lusa que “os preços altos não são em si mesmo um problema nem uma má notícia, podem ser uma virtude e uma boa notícia até, certamente têm é um desafio acoplado”, que é o de manter a qualidade.
Já vimos que a questão dos preços do alojamento pode ser uma faca de dois gumes. Não podemos ignorar os sinais.