Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Gonçalo Lobo Xavier “Preços não vão crescer tanto este ano”
Diretor-Geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição diz que as margens do setor são inferiores à da indústria.
As margens da distribuição são demasiado altas, ou a forte concorrência no setor não o permite?
As margens do setor da distribuição andam na casa dos 2 a 3% e são esmagadoramente inferiores às da indústria. Isto são factos facilmente demonstráveis pelo INE, pelo Banco de Portugal e por outros estudos e entidades credíveis. A distribuição alimentar é um negócio de volume e não de margens. Os ganhos de eficiência das empresas do setor da distribuição não compensaram a descida das margens de comercialização e penalizaram inclusivamente a evolução das margens EBITDA.
As marcas próprias vão continuar a ganhar peso no cabaz das famílias?
O quadro económico menos favorável tem levado as marcas de distribuição a ganharem peso no cabaz de compras das famílias portuguesas, representando mais de 40% da quota de mercado. Contudo, importa salientar que o crescimento do consumo de marca própria não é sinónimo de rentabilidade para as empresas, dado que os preços dos produtos são baixos, porque a margem é mais baixa e os custos associados são, muitas vezes, suportados pelo próprio fabricante. Quem acaba por beneficiar desta concorrência entre marcas de distribuição e marcas de fabricantes é o consumidor, que encontra ao seu dispor uma maior variedade de produtos, maior liberdade de escolha e, sobretudo, preços mais competitivos para fazer as suas compras para ajustar ao orçamento disponível das famílias.
O que podemos esperar quanto à evolução dos preços dos alimentos nos supermercados este ano?
Os dados mais recentes, divulgados quer pelo Instituto Nacional de Estatística, quer pela Nielsen, têm assinalado o efeito da desaceleração da inflação nos produtos alimentares, o que significa que os preços não vão crescer tanto. Contudo, isto não quer objetivamente dizer que vão descer. É complicado antever a evolução que será vivida nos próximos tempos, e é difícil identificar uma tendência consistente. Muitas matérias-primas continuam a pressionar o mercado e subsiste incerteza quanto aos efeitos da guerra, os constrangimentos vividos no transporte internacional de mercadorias e até outro de tipo de eventos imprevisíveis, como manifestações de agricultores.
“O crescimento do consumo de marca própria não é sinónimo de rentabilidade para as empresas.”