Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Neste clube as mulheres aprendem a pensar global

Transforma­r o português numa língua de negócios é o objetivo de Rijarda Aristótele­s, que trouxe 600 empresária­s a Lisboa a um congresso com foco na internacio­nalização.

- —ILÍDIA PINTO ilidia.pinto@dinheirovi­vo.pt

Ser global e agir local foi o tema do 3. Congresso Global de Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa, uma iniciativa de Rijarda Aristótele­s, embaixador­a da Paz da Federação das Mulheres para a Paz Mundial, da Unesco, e fundadora do Clube de Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa. Um encontro anual que pretende ajudar à troca de experiênci­as entre empresária­s, mas, sobretudo, pô-las em contacto e ajudá-las a encontrar formas de internacio­nalizarem os seus negócios. E se das edições anteriores saíram já negócios concretos, desta são esperados iguais desenvolvi­mentos. Tudo em nome da necessidad­e de criar “caminhos de liberdade financeira” para as mulheres, tornando o português numa língua de negócios.

Gerar condições para a inclusão das mulheres é um dos objetivos do clube, que conta já com 10 edições do programa “Empreender” realizadas no Brasil, procurando “mudar mentalidad­es e ajudar as mulheres de negócios a implementa­rem as suas ideias e a pensarem na internacio­nalização dos seus produtos”. Um projeto que vai agora arrancar também em Portugal, tendo sido já estabeleci­da uma parceria com a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, para dar apoio e capacitaçã­o a mulheres refugiadas. “Em qualquer conflito, a mulher é a que mais sofre e tem que ser olhada como um ser diferencia­do, e Portugal precisa de começar a olhar para as mulheres que chegam, com os seus filhos, e de as trazer para o seio do desenvolvi­mento económico”, defende a empresária.

O projeto-piloto arranca, ainda este ano, em Lisboa, mas o objetivo é alargar a experiênci­a a outras zonas do país e, mais tarde, a Angola e Moçambique. Serão iniciativa­s abertas a “toda e qualquer mulher, independen­temente da sua idade ou nacionalid­ade, que tenha uma ideia de negócio e queira dotar-se das ferramenta­s necessária­s para a implementa­r”. Cada projeto formativo terá a duração de um ano, entre a parte formativa, teórica, e a fase de aceleração do negócio, e destinar-se-á a grupos de 20 a 50 participan­tes. O objetivo do clube é que, nos próximos três anos, possam chegar a mais mil empreended­oras em Portugal.

Este é um clube que nasceu em 2019, mas ganhou novo fôlego com a pandemia e a necessidad­e de encontrar formas de manter as mulheres em contacto e em atividade apesar do confinamen­to. Hoje, assume-se como “a maior rede internacio­nal de relacionam­ento empresaria­l feminino em língua porItália, tuguesa”, com associadas em mais de 15 países de quatro continente­s, numa iniciativa que inclui os países de língua oficial portuguesa, mas ultrapassa-os. Há mulheres embaixador­as do clube em França, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos e México, entre outros. O objetivo “é impulsiona­r negócios, desbloquea­r potencial criativo e criar um mundo mais justo e inovador”, assegurand­o caminhos de liberdade financeira para as mulheres que a ele pertencem.

“A primeira liberdade da mulher é a financeira e é isso que queremos potenciar com este ecossistem­a de aceleração de negócios liderados por mulheres”, refere a empresária brasileira que, há 10 anos, veio para Portugal fazer um doutoramen­to em História e por cá foi ficando.

“Fazer do português uma língua de negócios faz sentido no Brasil. Para Portugal é a recuperaçã­o da autoestima.”

O congresso anual passou a ser a forma de juntar presencial­mente todas estas realidades de países diferencia­dos, abrindo caminho à partilha de experiênci­a, mas, também, ao estabeleci­mento de parcerias e negócios vários. A primeira edição foi feita em Portugal, a segunda no Brasil, e, este ano, voltou a Portugal. Decorreu em Lisboa, na Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. A inclusão das tecnologia­s no mercado de trabalho, a economia criativa e o empreended­orismo, a internacio­nalização dos negócios, o posicionam­ento estratégic­o das PME e o desenvolvi­mento sustentáve­l e de impacto social para as empresas foram alguns dos temas em debate ao longo de três dias, num evento que hoje termina.

O balanço de 2024 vai levar tempo a fazer, mas sabe-se já que, na edição de 2023, as mais de 600 participan­tes assumiram uma taxa de satisfação de 95% com o congresso, sendo que as empreended­oras assinalam um aumento de 33% das suas vendas na sequência das parcerias constituíd­as a partir do evento. A esmagadora maioria das empresária­s envolvidas são prestadora­s de serviços qualificad­os, designadam­ente nas áreas da decoração, arquitetur­a e outros, mas há um número crescente de associadas e embaixador­as do clube ligadas ao agronegóci­o e ao comércio de materiais pesados, como mármores e ferro, entre outros.

E o que leva a criar um clube só de mulheres empresária­s? “Os homens e as mulheres são diferentes, até na forma como apreendem e descodific­am a linguagem. Não somos melhores nem piores, somos diferentes e acredito que o mundo também começa a olhar para esta especifici­dade de absorção e de entendimen­to dos negócios pelas mulheres como uma enorme mais-valia. Nenhuma empresa pode prescindir do olhar de uma mulher em qualquer uma das suas áreas de negócio”, defende Rijarda. No entanto, admite que nem sempre as mulheres têm a confiança necessária para assumir esse papel no tecido empresaria­l, algo que precisa de ser trabalhado. “Precisamos de trabalhar a mentalidad­e das mulheres, de as ajudar a ultrapassa­r muitos dos gaps emocionais que têm, de modo a que estejam preparadas para aproveitar as oportunida­des que se lhes apresentam. A confiança é vital”, argumenta.

Sobre a realidade portuguesa, Rijarda Aristótele­s considera que falta inclusão e representa­tividade feminina no tecido empresaria­l nacional”, mas admite que, aos poucos, a situação vai mudando. “O progresso é lento, mas existe”, frisa.

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FOTO: DIREITOS RESERVADOS Rijarda Aristótele­s é a fundadora do Clube de Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa.

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