Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Na encruzilhada das grandes tecnológicas
Uma jovem geração de entidades privadas exerce hoje uma influência sem precedentes e sem paralelo na economia e fora dela. Elas aparentemente estão aqui para ficar e têm fome de crescimento. Referimo-nos a empresas como a Amazon, Apple, Facebook, Google e Microsoft – 34 anos de média etária.
Muitas vezes percebemos que para chegar uns aos outros temos de passar por estas plataformas. E assim é quando escrevemos um artigo no “word” para enviarmos por “gmail” com um computador “Mac” comprado “online”. Mais do que nos servimos destes bens orbitamos entre eles, sejamos consumidores, produtores, cidadãos, decisores privados ou públicos.
As coisas estão invertidas. Não somos nós que utilizamos estas facilidades, são os próprios artefactos e serviços digitais que se tornaram essenciais: são estas tecnologias privativas que se tornaram indispensáveis, tudo o resto fica acessório e contente com migalhas. Estes interesses desenvolveram-se em simbiose com vários governos, moldaram as regras do jogo internacional para exportarem os seus modelos de monitorização informacional, e foram ainda apoiados pela finança, pelas elites da política e da alta burocracia, e ainda promovidos pelo fluxo de ideias em voga como a “globalização” ou a “transformação digital”.
Mas já há quem diga “não”. Oiçamos as vozes do “Sul Global”. Por exemplo, o Presidente Lula e responsáveis de topo da ciência e tecnologia estiveram reunidos estes dias para avançarem com um Brasil capaz no desafio da Inteligência Artificial (IA). No entanto, há também quem diga “assim-assim”. Por exemplo, a diretiva dos mercados digitais (conhecida como DMA) é agora vinculativa para os compromissos das entidades com estatuto de intermediação significativa, ironicamente logo após a almejada alternativa IA europeia (o “Mistral”) ter sido cooptada pela hegemonia norte-americana (Microsoft). Também nesta semana ganhou tração a divulgação do nosso estudo “Os Futuros das Grandes Tecnológicas”, realizado para a Comissão Europeia. Um dos factos revelados é logo este: as cinco maiores tecnológicas norte-americanas investem mais em I&D, durante um ano, do que os orçamento conjuntos que os 27 países da UE conseguem reunir no atual programa-quadro, que é a sete anos. E o orçamento daquelas cresce, o destes estagna.
O nosso trabalho estriba-se na construção de vários cenários até ao ano 2040, mas concluímos: para a Europa ter margem de manobra, não bastará implementar regulamentação antimonopolista às “big techs”. Terá de haver diferentes formas de atuação para que subsistam entidades relevantes no mundo digital que se possam chamar europeias.