Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
E agora Governo?
Opresidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, negou na sexta-feira que tivesse sido convidado para integrar um governo da Aliança Democrática (AD). Mas não duvido que o líder do PSD, Luís Montenegro, quisesse rodear-se de alguém com o seu currículo. Desde que foi diretor-geral dos Impostos, entre 2004 e 2007, nomeado por Durão Barroso, revolucionando esta importante peça da complexa máquina do Estado, Paulo Macedo tutelou o Ministério da Saúde do governo de Passos Coelho, e depois tomou as rédeas da CGD, sempre com sucesso e reconhecida notoriedade. Este é um peso pesado que daria solidez a um governo minoritário, que terá de enfrentar uma oposição que se adivinha cerrada. Os resultados que Paulo Macedo alcançou na CGD comprovam que é um bom gestor público e que, com o trabalho feito, já pode aceitar novo desafio – e este seria mais uma vez duro, à sua medida.
As legislativas de 10 de março revelaram uma subida vertiginosa do Chega a que ninguém pode ficar indiferente, até porque já não me parece que o resultado contabilístico se cinja apenas a mais de 1 milhão de “votos de protesto”. Os outros partidos não podem subestimar este crescimento, que vai adquirindo cada vez mais um corpo sólido – é preciso refletir sobre o que procuram na realidade estes portugueses nesta alternativa política. Vejamos como o próximo governo gere a relação à direita do PSD, e como a oposição escolhe os seus alvos à direita. Só o tempo dirá se as águas vão continuar turvas, até porque tudo depende do posicionamento político do PSD e do PS, essencialmente.
Com ou sem Paulo Macedo num governo da AD, no programa eleitoral, a aliança perspetivou sucessivos excedentes orçamentais – que são desejáveis e que estariam em linha com os brilharetes de Fernando Medina. Mas haverá ou não uma mudança real nos bolsos dos portugueses ainda este ano? O especialista em fiscalidade da EY, Jaime Rocha, diz em entrevista ao DV (que pode ler nesta edição), que os prazos legais praticamente impossibilitam um orçamento retificativo. “Estou a ver [serem implementadas] mais medidas ad hoc, portanto, diplomas que a AD queira elencar, principalmente medidas fiscais e de investimento, não aquelas mais estruturantes, como para a saúde ou educação”, considerou. O que significa, que as classes profissionais que mais protestaram nos últimos anos do governo de Costa poderão continuar insatisfeitas – o que não resolve problemas imediatos da sociedade, como os do Ensino Público, do Serviço Nacional de Saúde, das polícias. Por outro lado, com um certo otimismo, a AD deseja atrair mais investimento, o que é fundamental para o crescimento económico do país. Se a AD quisesse ser mais ambiciosa para os contribuintes e estas classes profissionais, teria de avançar de imediato com um retificativo e arriscar um primeiro embate com o PS, uma espécie de ou vai ou racha, que ditaria logo o futuro de um governo da AD. Esta não será hora de maior instabilidade do que a que já vivemos (até por incertezas externas), nem de confrontos políticos que não tragam soluções imediatas.