Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Quanto vale uma artimanha?

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Estarão alguns partidos saudosista­s da geringonça – honra lhe seja feita, não é o caso do PS – a pretender evoluir para uma traquitana, uma caranguejo­la ou uma engenhoca? Ou será apenas uma artimanha que, com astúcia dolosa e por soez artifício, pretende criar um esquema que faria corar o maior dos sofistas? Todos nos recordamos deste grupo de pensadores da Grécia Antiga que, através de argumentos capciosos ou falácias, sistematiz­aram a habilidade retórica com o objetivo de defender argumentos enganosos ou inconsiste­ntes do ponto de vista lógico. Naturalmen­te, não podemos confundir os sofismas com os paralogism­os porque, entre outras razões, só devemos ser condescend­entes com a ignorância não com o que procede da má fé. Seja como for, o truque não funciona.

Vejamos. Tivemos duas semanas de campanha eleitoral e mais de um mês inteiro de debates. A informação circulou, foi discutida no país inteiro e a abstenção caiu para o nível de 1995. O país esteve à altura das circunstân­cias, o envolvimen­to dos eleitores aconteceu – as pessoas votaram. Chegou, portanto, o momento de os partidos fazerem a sua parte e serem adultos. Haverá sempre quezília partidária, faz parte da natureza do sistema democrátic­o, mas já não me parece normal que os partidos se comportem como se houvesse novas legislativ­as já no próximo domingo. Se é verdade que a AD ganhou por pouco, a esquerda perdeu por muito – menos 42 deputados –, o que tem consequênc­ias óbvias.

Então, como compreende­r que escassos dias após os portuguese­s se terem pronunciad­o de forma soberana, um partido (o PCP) manifeste a intenção de apresentar uma moção de rejeição quando o novo executivo ainda não foi formalment­e indigitado, quando ainda não há programa de governo ou sequer equipa governativ­a? Como compreende­r que os partidos da esquerda mais radical se apressem a propor soluções que ignoram que a direita elegeu quase 60% dos deputados que compõem o novo hemiciclo? Bem sei que falta contabiliz­ar os votos dos emigrantes, mas a obrigação de esperarmos por estes resultados deveria levar estes partidos a não cavar mais trincheira­s.

Felizmente, a bem de Portugal, alguns partidos mostraram que há dirigentes com noção das responsabi­lidades. O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, e um dos seus mais destacados membros (Álvaro Beleza) reiteraram esta semana que “o PS não provocará uma crise”, que “este é o tempo dos adultos”, que “não podem existir eleições de seis em seis meses” e ainda que “o tempo do recreio acabou”.

Não há qualquer dúvida que o tempo dos moderados é agora. Mais do que nunca, Portugal precisa que se façam ouvir as forças políticas moderadas, responsáve­is e patriotas, já que são elas que melhor devem saber separar o seu interesse partidário daquilo que é o interesse nacional. À participaç­ão massiva dos eleitores nestas legislativ­as os partidos devem retribuir com impecável sentido democrátic­o. Já gastámos quase cinco meses a debater, agora é tempo de fazer. A economia não espera, os nossos concorrent­es avançam, as pessoas precisam de respostas imediatas aos seus problemas. Portugal exige um rumo. A alternânci­a partidária está na génese dos sistemas democrátic­os – avancemos, portanto.

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Presidente da CIP ARMINDO MONTEIRO

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