Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Como poupar para investir e “comprar a liberdade” antes da reforma
Ex-diretora financeira da Microsoft já não precisa de trabalhar. De palestra em palestra tem partilhado a sua história, e agora lançou um livro para inspirar mais pessoas.
Após uma carreira de sucesso, primeiro na consultora Deloitte e depois na Microsoft, que a levou a trabalhar mais de uma década fora do país, Rita Piçarra “reformou-se” do mundo corporativo, aos 44 anos, no verão passado. Não recebe pensão da Segurança Social, mas poupou e investiu o suficiente para já não ter de trabalhar.
A sua história foi contada por ela num podcast que se tornou viral, e que a levou aos estúdios da TVI, onde foi entrevistada por Manuel Luís Goucha, que lhe perguntou o que viria a seguir: “Se calhar vou escrever um livro, disse em voz alta, para ver como é que soava, porque só estava na minha cabeça. E, depois, quando acabou o programa, fui contactada por várias editoras que queriam editar o livro, pareciam entrevistas de emprego”, lembra Rita Piçarra ao Dinheiro Vivo.
Foi assim que o livro “A Vida não pode Esperar – A estratégia para conseguir deixar de trabalhar” passou de uma ideia para o papel e daí até às prateleiras das livrarias, editado pela chancela Contraponto da Bertrand.
“Depois do podcast ter ficado viral, percebi que tinha uma voz e que podia fazer a diferença. Ou seja, as pessoas tinham gostado da minha história, tinham-se identificado, e pensei que se conseguir inspirar alguém a tomar as rédeas da sua vida, então vou fazê-lo. E comecei a fazer palestras e palestras, a ir a todo o lado. Mas percebi que por muitas palestras que faça, não consigo chegar a muitos sítios. Pensei que escrever um livro seria uma boa maneira de chegar a todas as pessoas interessadas.”
Rita Piçarra vive de rendas de imóveis e dividendos de ações, investimentos que foi fazendo ao longos dos anos, sempre com a ideia de conseguir um rendimento anual que lhe permitisse manter o nível de vida e “continuar a poupar e a investir”.
“O plano surgiu em 2006, após o falecimento do meu pai, tinha eu 28 anos. Porque percebi, e esse é o título do livro, que a vida não podia esperar. Nós muitas vezes estamos a trabalhar, a trabalhar, para depois, um dia, na reforma, irmos gozar os nossos anos, os nossos netos, irmos viajar. Percebi, com o falecimento do meu pai e, depois, da minha mãe também, que não podemos dar o dia de amanhã como garantido. A vida não pode esperar que cheguemos aos 66 anos para a começarmos a viver. Eu queria ter uma independência financeira para, no fundo, comprar a minha liberdade, comprar o tempo para fazer aquilo de que mais gosto”.
A autora diz que há quatro pilares de sucesso, que correspondem aos quatro capítulos do livro: ambição, work-life balance, independência financeira e higiene mental. “O primeiro tem que ver com a ambição, com o querer crescer e atingir os nossos sonhos. Quando somos pequeninos perguntam-nos sempre o que é que queremos fazer quando formos grandes, mas quando entramos no mercado de trabalho esquecemo-nos de continuar a fazer esta pergunta. As pessoas entram na rotina diária de ir trabalhar, de não estar contente, de ganhar um salário pequeno, de reclamar que os impostos são muito altos, mas também não tomam nenhum tipo de ação”.
O terceiro capítulo é sobre planeamento financeiro, porque “não adianta ganhar mais dinheiro se vamos gastar mais dinheiro. E, em Portugal, como não se fala de dinheiro, é tabu, e como a esmagadora maioria diz ‘eu vivo no limite das minhas possibilidades’, temos um problema de base”, defende Rita Piçarra. “É necessário ter um controlo das nossas despesas e poupar, poupar que é diferente de não gastar”, sublinha. A autora explica na obra que o dinheiro posto de lado deve ser aplicado em investimentos diversificados.
Mas num país de mil euristas, consegue-se replicar a história da Rita? “Poupar para investir, sem dúvida. Poupar para conseguir uma independência financeira aos 44 anos, acho mais difícil. Não digo que é impossível, mas é mais difícil. Eu tive uma realidade em que estive emigrada 12 anos, em que os salários são diferentes, onde as taxas de impostos são diferentes”, reconhece.
No entanto, diz que todos podem tirar partido do livro, desde alguém em início de carreira, como à beira da reforma. “O livro é para todas idades, e o que espero é que, de alguma maneira, inspire as pessoas a tomarem as rédeas da sua carreira, da sua vida.”