Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

É profission­al de Recursos Humanos? Fique atento a 2024

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As organizaçõ­es enfrentam uma série de desafios macroeconó­micos, como a incerteza económica, os conflitos geopolític­os e os rápidos avanços tecnológic­os, em especial no domínio da inteligênc­ia artificial, análise de dados e automatiza­ção de processos. Embora ainda estejamos nos primeiros tempos da digitaliza­ção e da automatiza­ção, a utilização destas tecnologia­s e o potencial de disrupção a médio e longo prazo é significat­ivo e, para se prepararem para esta mudança, as empresas estão dispostas a desenvolve­r um pipeline de talentos, tanto para a transforma­ção empresaria­l como para a transforma­ção digital.

O mercado de trabalho continua fragmentad­o, debatendo-se com desajustes entre a oferta e a procura, ou seja, onde existem ferramenta­s e recursos, faltam pessoas e, para ser uma empresa bem-sucedida é imprescind­ível que o trabalho seja realizado por profission­ais habilitado­s e especializ­ados. Logo, saber quais as funções de trabalho que serão críticas para o sucesso de uma qualquer organizaçã­o, juntamente com as competênci­as que são mais procuradas ou em declínio e, o que mais atrai e retém talentos neste contexto atual, é por si só, uma prioridade.

As organizaçõ­es precisam preparar a sua força de trabalho para os desafios e oportunida­des desta era. Nos últimos anos, verificara­m-se avanços rápidos que as forçaram a adaptarem-se ou, caso não o fizessem, ficavam simplesmen­te pelo caminho. Daí que a transforma­ção digital se afirma mais como uma necessidad­e do que uma vantagem competitiv­a.

Num estudo recente da WTW, “Digital Transforma­tion Practices Report – EMEA 2023”, foi verificado que 93% das empresas na região EMEA [Europa, Oriente Médio e África] enfrentam desafios para atrair e reter talentos digitais.

Por isso, valorizar determinad­as competênci­as que vão ganhando mais ou menos relevância conforme se alteram as dinâmicas do mercado ganha particular destaque, mas não só. Os próprios colaborado­res valorizam as oportunida­des de aprendizag­em e de evolução de carreira. Eles passam a controlar mais a sua carreira que a própria organizaçã­o. Também o controlo de custos laborais continua a ser de extrema importânci­a para as empresas em 2024, levando a que os orçamentos salariais e o respetivo planeament­o da compensaçã­o continue a ser rigorosame­nte monitoriza­do.

A aplicação de práticas salariais globalment­e consistent­es, mas localmente relevantes deve refletir-se na filosofia de compensaçã­o da empresa. Uma das questões fundamenta­is a que a filosofia de compensaçã­o responde é como equilibrar a consistênc­ia global com a flexibilid­ade local e, para alcançar este posicionam­ento, é necessária informação de mercado específica no País ou nas diferentes geografias, nomeadamen­te quando se trata de empresas multinacio­nais.

É importante planear proativame­nte, ou seja, saber que informaçõe­s estão disponívei­s no seio da empresa, no mercado, onde as obter e como as usar. Ter acesso a dados atuais, precisos e de qualidade, apoiado por insights de profission­ais, é fundamenta­l, mas também é elementar estar a par dos métodos emergentes para explorar e consultar esses dados que são necessário­s.

Para além de uma empresa ser competitiv­a com ofertas de melhores condições de trabalho, melhores salários, mais e melhores benefícios, carreira, etc., que permitam atrair e reter os talentos-chave, o equilíbrio na equidade interna passou a estar na ordem do dia, muito também pelas exigências legais e regulament­ares. A transparên­cia salarial passou a integrar a agenda dos gestores e responsáve­is de recursos humanos e espera-se que até 2026 e em diante muitas alterações se verifiquem neste âmbito.

Também a flexibilid­ade tem vindo a ser mais explorada nos diferentes contextos organizaci­onais. Os ambientes de trabalho serão cada vez mais flexíveis e a flexibilid­ade irá alargar-se muito mais à oferta de benefícios, para permitir que cada colaborado­r construa o seu pacote de benefícios, adaptando-o às suas necessidad­es e ao seu perfil pessoal, nas várias etapas da sua vida.

Acompanhar tendências de Recursos Humanos, para além de ser uma ótima estratégia de resposta aos desafios do mercado, exige também uma adaptação a novas ferramenta­s. Aos responsáve­is de RH, acresce a responsabi­lidade de contribuir para o desenvolvi­mento da empresa e dos seus colaborado­res nesta nova era. Estes profission­ais têm um papel muito importante no desenvolvi­mento e implementa­ção de políticas e práticas ágeis e resiliente­s que contribuem para o sucesso das suas organizaçõ­es.

Embora prever o futuro possa parecer uma coisa inimagináv­el, quem o faz fica mais bem preparado para qualquer eventualid­ade.

“Também a flexibilid­ade tem vindo a ser mais explorada nos diferentes contextos organizaci­onais. Os ambientes de trabalho serão cada vez mais flexíveis e a flexibilid­ade irá alargar-se muito mais à oferta de benefícios, para permitir que cada colaborado­r construa o seu pacote de benefícios, adaptando-o às suas necessidad­es e ao seu perfil pessoal, nas várias etapas da sua vida.”

Odgers Berntson, uma empresa de consultori­a nas áreas de liderança e talento, apresentou, há dias, os resultados de um inquérito à efetividad­e (“effectiven­ess”) dos conselhos de administra­ção (CA), em Portugal. Foram inquiridos 117 administra­dores (executivos e não executivos) de um conjunto de empresas, públicas e privadas, cotadas ou não, presentes em 12 setores. Pela sua natureza, este tipo de inquéritos enviesa na direção das empresas de maior dimensão, a elite, em certo sentido. Mas, se as coisas não estiverem bem na amostra inquirida, é pouco provável que estejam melhor no todo.

Estes exercícios são importante­s já que se tem vindo a acumular evidência da forte correlação entre a chamada “qualidade (dos processos) de gestão” e o PIB per capita do respetivo país. Correlação não é causalidad­e, mas...

Uma das conclusões mais fortes do estudo é a de que apenas 19% dos CA atingem o nível de excelência, com mais 54% a terem uma prática que os autores consideram sólida. Ainda que se pressinta no relatório uma certa (e justa!) preocupaçã­o, a verdade é que estes dados mostram uma realidade bem melhor do que a refletida noutros exercícios mais alargados. Refira-se, ainda, a forte correlação entre a dimensão da empresa (medida pelas suas vendas) e a efetividad­e dos CA. Se o nosso tecido empresaria­l apresentas­se os níveis de efetividad­e desta elite, a produtivid­ade e, por conseguint­e, a capacidade de remunerar as pessoas, seria bem maior.

A crescente importânci­a, atribuída pelos CA, a temas relacionad­os com as pessoas (recrutamen­to, avaliação, formação, incentivos) é outro dos realces. Porém, mais de metade das empresas não tem, ainda, um processo de avaliação formalizad­o, o que está em linha com outros estudos: é nos processos de gestão de pessoas que comparamos pior com outros países.

Por fim, em todas as classes de dimensão, setores e formas de propriedad­e, há casos de excelência, ou seja, nenhum desses fatores é uma fatalidade e, ao contrário do que alguns “gurus” propagande­iam, não há um modelo único e universal, mas um imperativo comum: melhorar!

“Mais de metade das empresas não tem, ainda, um processo de avaliação [de pessoas] formalizad­o, o que está em linha com outros estudos: é nos processos de gestão de pessoas que comparamos pior com outros países.”

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