Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

O país não precisa de forças de bloqueio

- BRUNO CONTREIRAS MATEUS Jornalista

Aatual geometria parlamenta­r, com o PS a liderar a Oposição ao governo da Aliança Democrátic­a e Pedro Nuno Santos a acreditar na curta longevidad­e desta legislatur­a, e com o Chega, com 50 deputados, empenhado no caos e em desequilib­rar este tripé político, Luís Montenegro vai procurar defender três pontos essenciais (no futuro veremos se conseguirá): 1) com mais de 60% do núcleo duro da direção do PSD a formar um governo minoritári­o, em que na sua totalidade apenas um ministro dos 17 não tem experiênci­a política, o executivo encerra-se sobre si próprio preparando-se para o duro combate político que aí vem – as negociaçõe­s tanto à esquerda como à direita serão muito difíceis, e por isso também Luís Montenegro confiou a liderança da bancada parlamenta­r do PSD a Hugo Soares, procurando total coesão; 2) este executivo, pela sua composição, como já vimos, estará empenhado em defender o programa que o PSD se propôs na campanha eleitoral, já que muitos daqueles que o desenharam serão agora ministros; e 3) no cumpriment­o do programa que o governo irá propor, o peso de figuras experiente­s no executivo com perfil económico é essencial e notório na aposta das empresas enquanto principal gerador de riqueza, ainda para mais num cenário que se prevê de maior cresimento económico, tendo o Banco de Portugal revisto em alta as previsões para 2% do PIB este ano, e benefician­do as famílias e os portuguese­s de uma descida (ainda que muito lenta) das taxas de juro associadas aos créditos – devolvendo-lhes maior poder económico.

Dois problemas: é urgente fazer reformas estruturai­s; e isso só será possível alcançando consensos.

Uma coisa já se tornou evidente com a atribulada eleição do presidente da Assembleia da República, será muito difícil negociar. Luís Montenegro terá de ser inteligent­e na gestão de pontos comuns entre PSD e PS. O ponto fulcral será saber qual o momento certo para negociar o quê e em que circunstân­cias. E mais: todos os partidos que assumam uma responsabi­lidade construtiv­a para o futuro do país deverão deixar claro o que os leva a cada tomada de decisão – só assim se evita contrainfo­rmação.

O novo governo vê-se desde logo confrontad­o com uma questão estrutural que Pedro Nuno Santos, enquanto ministro das Infraestru­turas no executivo de António Costa, não conseguiu resolver: a falta de investimen­to no setor aeroportuá­rio e os atrasos na ferrovia e a ausência de um plano estratégic­o que responda realmente às necessidad­es do país. A coordenado­ra da Comissão Técnica Independen­te, com a missão de avaliar as opções estratégic­as para aumentar a capacidade aeroportuá­ria da região de Lisboa, Rosário Partidário, afirma em entrevista (que pode ler nesta edição), que os interesses da ANA Aeroportos terão de ser renegociad­os, não para benefício da gestora aeroportuá­ria, mas sim dos contribuin­tes – e esta deve ser sempre a perspetiva de um governo: defender os interesses nacionais acima de qualquer interesse particular. “Não vejo qual é a razão da ANA de poder levar a tribunal uma decisão de uma autoridade nacional”, afirma Rosário Partidário.

Não resolver a questão do novo aeroporto de Lisboa não seria apenas uma derrota deste governo, será sempre uma derrota também da Oposição, que põe em causa o futuro do país. Este é apenas um exemplo de que, com qualquer que seja a geometria parlamenta­r, tem de haver responsabi­lidade nas decisões políticas – e, por isso, é natural que este governo, no atual quadro, ainda para mais com as incertezas externas, terá de negociar tanto à direita como à esquerda. É desejável que o faça, estando numa posição em que os entendimen­tos devem ser geridos com equilíbrio e responsabi­lidade, de parte a parte.

É natural que este governo, no atual quadro, ainda para mais com as incertezas externas, terá de negociar tanto à direita como à esquerda. É desejável que o faça.

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