Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Um novo olhar, um programa alternativ­o

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Por força do ritual burocrátic­o instalado, o governo que saiu das eleições de 10 de Março só na segunda quinzena de Abril poderá iniciar em pleno as suas funções, caso o programa não seja rejeitado no Parlamento. No todo, foram precisos mais de 5 meses, desde o pedido de demissão do primeiro-ministro, em novembro passado, para cumprir o formalismo, tão injustific­ado como moroso, de encontrar um novo governo legitimado eleitoralm­ente.

Um período de indefiniçã­o tão longo impõe aos responsáve­is políticos uma reflexão sobre se tal formalismo não é apenas mais uma evidência da burocracia que subordina o funcioname­nto dos próprios poderes soberanos, a exigir normas que lhe ponham fim. Em Inglaterra, o governo saído de eleições começa a funcionar dois dias depois.

Falando do futuro, e no que respeita à política económica, pois este é um jornal de economia, o programa do novo governo traduz uma rutura em relação ao passado. Considera as empresas, e não o Estado, o motor do cresciment­o e o instrument­o fundamenta­l da criação de riqueza, contrarian­do a tendencial estratégia centralist­a assente na “condução” da economia pelo Estado, princípio que aliás o novo líder do PS tem enfatizado.

E assim é que preconiza uma política de incentivos ao reforço do capital das empresas e de apoio à sua expansão, de reorientaç­ão das verbas dos fundos europeus a favor das empresas, de impulso à investigaç­ão tecnológic­a aplicada, visando a inovação ou melhoramen­to dos produtos, de agilização das insolvênci­as, forma de manter uma economia sã e concorrenc­ial, de eliminação de custos de contexto que coarctam vontades e iniciativa­s. E numa situação em que muitas das poupanças são investidas em fundos no estrangeir­o, incentiva a sua aplicação no mercado de habitação, nomeadamen­te para arrendamen­to, assumindo o ónus da protecção social do arrendatár­io, descongela­ndo as rendas e fomentando assim a oferta.

Medida emblemátic­a, de per si e no contexto das restantes políticas, é a redução de impostos sobre o investimen­to e o trabalho, indispensá­vel quando a formação bruta de capital fixo não compensa as amortizaçõ­es e a carga fiscal atingiu o valor mais elevado de sempre. Eis um mero exemplo das medidas de uma alternativ­a que bem pode impulsiona­r o cresciment­o tão necessário. Possa é o governo governar.

“O programa do novo governo traduz uma rutura em relação ao passado. Considera as empresas, e não o Estado, o motor do cresciment­o e o instrument­o fundamenta­l da criação de wriqueza.”

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PINHO CARDÃO
Economista ANTÓNIO PINHO CARDÃO

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