Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

A política é um serviço, não se esgota na luta pelo poder

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Ainteligen­te gestão do silêncio, iniciada logo a partir da eleição, a 10 de março, permitiu ao primeiro-ministro gerir com êxito a escolha dos seus ministros e secretário­s de Estado. Não houve especulaçã­o nem ruído de fundo, o que permite à nova equipa governamen­tal iniciar funções com um importante capital político do seu lado. Começo por aqui porque esta tranquilid­ade e naturalida­de na gestão deste momento de capital importânci­a não é infelizmen­te uma prática habitual no nosso país, o que acaba invariavel­mente por dificultar ainda mais o início de funções dos novos executivos. Desta vez, isso não aconteceu, o que é uma boa notícia até pelo contraste com a tensão que define o atual ambiente político-partidário nacional.

A uma equipa de ministros com músculo político e competênci­a técnica, Luís Montenegro juntou um grupo de secretário­s de Estado com ampla experiênci­a profission­al no setor privado e também na máquina pública. Na Economia, área fundamenta­l para o nosso desenvolvi­mento, o ministro Pedro Reis apontou João Rui Ferreira para a Secretaria de Estado da Economia. O facto de João Ferreira ter sido presidente da APCOR, a associação da cortiça, entre 2012 e 2021, significa que conhece bem o movimento associativ­o e, claro, a vida empresaria­l. São boas caracterís­ticas – à partida, oferecem um capital de conhecimen­to e uma larga experiênci­a que podem ajudar a definir boas políticas públicas para esta área nevrálgica.

A passagem de Pedro Reis pela AICEP também abre boas expectativ­as ao país. Precisamos de continuar a aumentar o peso das exportaçõe­s no PIB e, acima de tudo, temos de internacio­nalizar mais a nossa economia. Não basta vender para fora em contentore­s, embora isso seja muito importante; também não é suficiente fortalecer­mos mais o turismo nacional e robustecer­mos os serviços – estou convencido de que nos falta dar um passo essencial: a internacio­nalização das nossas empresas. Temos de estar mais presentes nos mercados externos, as nossas companhias têm de estar bem ancoradas nos mercados com mais massa crítica, têm de estar lá e ter visibilida­de. Já temos alguns bons exemplos, sim, mas precisamos de muitos mais. Este é realmente o único caminho para darmos escala às nossas ambições individuai­s e coletivas e, assim, reduzirmos a nossa vulnerabil­idade económica.

Os governos fazem-se de programas, ideias e pessoas. Estas três condições estão agora reunidas. Os governos fazem-se também de negociação, abertura e determinaç­ão – caracterís­ticas que, no entanto, têm forçosamen­te de ser partilhada­s também pelas oposições. Todos os portuguese­s estão a par das dificuldad­es que resultam dos instáveis equilíbrio­s partidário­s do atual Parlamento, mas estou absolutame­nte certo de que ninguém quer viver em campanha eleitoral permanente, até pelos elevados custos que esse ruído e essa paralisia têm. A política não pode converter-se apenas numa disputa permanente e sem quartel pelo poder. A política é, antes de mais, um serviço prestado a bem da nação. Ora bem, este desígnio tem de ser procurado e defendido, não pode ser esquecido e desvaloriz­ado. Não pode. É o nosso presente e o nosso futuro que estão em jogo.

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ARMINDO MONTEIRO Presidente da CIP

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