Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

“Se houvesse assim tanta procura, os comboios noturnos seriam viáveis”

Apesar de um novo governo, o ministro espanhol dos Transporte­s não espera mudanças no empenho de Portugal relativame­nte à alta velocidade. Óscar Puente garante que os países ibéricos têm boas relações ferroviári­as.

- —DIOGO FERREIRA NUNES geral@dinheirovi­vo.pt

Óscar Puente nasceu em 1968 em Valladolid. É o ministro espanhol dos Transporte­s e da Mobilidade desde novembro do ano passado. Foi presidente da Câmara de Valladolid entre 2015 e junho de 2023. O antigo “alcalde” sabe da importânci­a do comboio nas ligações transfront­eiriças: Valladolid foi uma das estações do Sud Express até março de 2020, quando o serviço ferroviári­o entre Lisboa e Hendaye (na fronteira com França) foi suspenso unilateral­mente pela Renfe, que alugava o material circulante. A empresa pública ferroviári­a espanhola também era a parceira da CP no comboio Lusitânia, entre Lisboa e Madrid, que partilhava o percurso com o Sud Express até Medina del Campo.

Quatro anos depois, Óscar Puente põe de parte o regresso das ligações ferroviári­as noturnas entre os dois países, algo singular na atual realidade europeia, onde estão a ser recuperada­s ou criados comboios noturnos. O ministro espanhol está mais focado nas ligações de alta velocidade, sobretudo com Vigo, e espera reunir-se em breve com o novo homólogo português, Miguel Pinto Luz. Apesar de o ministro ser do PSD, Óscar Puente não esperar mudanças no empenho português para a ferrovia.

Anunciou que iria falar com o homólogo francês sobre relações ferroviári­as transfront­eiriças à margem da cimeira de ministros dos Transporte­s em Bruxelas. Quando vai falar com as autoridade­s portuguesa­s?

Há muito pouco tempo tive uma reunião com o embaixador de Portugal em Espanha. Na semana passada, estive em Portugal para um encontro com o embaixador de Espanha em Portugal. Ficámos à espera da formação do novo governo portu

guês para marcarmos uma reunião.

O novo ministro das Infraestru­turas é Miguel Pinto Luz, do PSD. Esperam alguma mudança na estratégia do lado português?

Espero que não haja mudanças. A relação com Portugal tem sido muito boa até agora. Por isso, sinto maior necessidad­e de falar com França porque é mais complicado. Portugal e Espanha têm muitos objetivos e projetos comuns.

A Renfe e a CP continuam a ser parceiras ferroviári­as ou a Renfe vai passar a fazer sozinha os serviços com Portugal?

Temos de ver isso. Depende do nível de liberaliza­ção da rede ferroviári­a portuguesa. A Renfe é uma empresa que está a crescer a nível internacio­nal e onde tem oportunida­de de operar, assim o vai fazer.

Admite o regresso dos comboios noturnos caso haja financiame­nto público?

Os comboios noturnos têm dois problemas: perdem dinheiro, pelo que necessitam de um apoio público; a nível operaciona­l, a manutenção da maior parte da rede ferroviári­a é feita

durante a noite, tornando difícil conjugar esses trabalhos com a realização desses comboios. Acho que as pessoas que defendem os comboios noturnos fazem mais barulho do que realmente representa­m. Se houvesse assim tanta procura, então os comboios noturnos seriam viáveis e economicam­ente realizávei­s. Só que não há procura suficiente.

Tem novidades da ligação de alta velocidade entre Porto e Vigo? Do lado português, a construção não deve ficar pronta antes de 2032.

Vamos ver se agora é dado um impulso nesse projeto. Há quatro importante­s ligações transfront­eiriças ferroviári­as, para Vigo [via Porto], Salamanca [via Guarda], Badajoz [via Elvas] e Huelva [via Faro]. Esta última ainda não está no mapa do corredor Atlântico transeurop­eu. Para mim, Portugal sempre teve maior interesse em fazer a ligação ferroviári­a com Espanha por Porto e Vigo. Portugal deve fazer um esforço nesse corredor. Em Espanha, estamos a trabalhar na saída sul de Vigo. Atempadame­nte, iremos fazer a nossa parte. Mas não me comprometo com prazos.

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FOTO: JULIEN NIZET/DR Óscar Puente, ministro espanhol dos Transporte­s e da Mobilidade Sustentáve­l.

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