Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
A que ritmo podem descer as taxas de juro?
Parece claro que teremos já atingido o pico da subida das taxas de juro por parte dos bancos centrais mais relevantes, e que o próximo sentido é para baixo. A Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu – embora de forma menos atrevida – já incorporaram nos seus discursos esta narrativa, e esta mesma perspetiva deverá começar a fazer-se sentir até ao verão. O primeiro corte será, sem dúvida, o mais simbólico. Porque sinaliza a inversão de um período complexo e que teve impacto nos rendimentos e custos das famílias, nas empresas e também em certa medida para os Estados Europeus, que tiverem de gerir um braço de ferro entre incentivos fiscais para apoiar a economia, e o controlo da inflação. Mas a dimensão do ciclo de descidas é sem dúvida igualmente importante, porque ajudará a antecipar um sentimento positivo relativamente ao ritmo a que as economias poderão recuperar durante o resto de 2024, e também definir o tom para 2025.
No entanto, e ao contrário do que é prática nos Estados Unidos, na Europa não existe uma clara orientação sobre as taxas diretoras da zona euro. E isso levanta um conjunto de preocupações, e que estão ligadas desde logo ao impacto positivo no desempenho macroeconómico da publicação de projeções dos observatórios relativamente aos custos financeiros, sobretudo porque ajudarão a reduzir a incerteza sobre a trajetória futura das taxas de juro. Ou seja, as famílias e as empresas poderão estar mais ansiosas por reagir às perspetivas de cortes nas taxas refletidas nestas projeções do que às que podem ser inferidas a partir dos mercados financeiros e que são inerentemente mais voláteis. Sobretudo, a incerteza relativamente à amplitude das taxas de juro é importante devido ao seu impacto negativo nas decisões das empresas.
No entanto, neste momento, o que pode ser retirado de alguns indicadores públicos aponta no sentido de uma descida relativamente importante das taxas de juro na Europa até ao final de 2025. Olhando para o consenso dos economistas e analistas que acompanham a política monetária do Banco Central Europeu (à data de final de março), a taxa de depósito (4%) atingirá os 3% no final deste ano, e os 2,25% em dezembro de 2025. Outra forma de analisar, com base na curva forward , ou seja, para contratos futuros aplicando taxas de juro de curto prazo em euros, os mercados financeiros indiciam em média uma descida da taxa de depósito de 85 pontos base (pb) até ao final deste ano, e de 150 pb até ao final de 2025. Ou seja, um valor entre os 2,25% e 2,5% será um valor que neste momento poderá ser um bom intervalo do que esperar até ao final de 2025, e que a verificar-se poderá constituir uma variável relevante para as economias europeias, e com particular interesse para Portugal, que detém uma elevada exposição das famílias e empresas a endividamento, e no caso do crédito hipotecário, a estruturas variáveis das taxas de juro.
Os sinais são, neste momento, ligeiramente favoráveis. O ciclo de descida de taxas parece ter chegado, e os sinais apontam para que, em 2025, as taxas de juro possam ter algum ímpeto de descida para níveis mais neutrais, compatíveis com cenários de estabilidade definidos como tal pelo BCE (2%). No entanto, o percurso ainda não está isento de obstáculos. Caberá ter aos países europeus, como Portugal, uma elevada preocupação com implementação do crescimento económico sustentável e digital, mas relativamente aos danos colaterais que esta transição pode trazer, nomeadamente no que diz respeito ao emprego e desigualdade. O combate pelo crescimento também deverá ser acompanhado sempre, por um combate pela coesão social.