Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

A que ritmo podem descer as taxas de juro?

- LUÍS TAVARES BRAVO economista, presidente do Internacio­nal Affairs Network

Parece claro que teremos já atingido o pico da subida das taxas de juro por parte dos bancos centrais mais relevantes, e que o próximo sentido é para baixo. A Reserva Federal dos Estados Unidos e o Banco Central Europeu – embora de forma menos atrevida – já incorporar­am nos seus discursos esta narrativa, e esta mesma perspetiva deverá começar a fazer-se sentir até ao verão. O primeiro corte será, sem dúvida, o mais simbólico. Porque sinaliza a inversão de um período complexo e que teve impacto nos rendimento­s e custos das famílias, nas empresas e também em certa medida para os Estados Europeus, que tiverem de gerir um braço de ferro entre incentivos fiscais para apoiar a economia, e o controlo da inflação. Mas a dimensão do ciclo de descidas é sem dúvida igualmente importante, porque ajudará a antecipar um sentimento positivo relativame­nte ao ritmo a que as economias poderão recuperar durante o resto de 2024, e também definir o tom para 2025.

No entanto, e ao contrário do que é prática nos Estados Unidos, na Europa não existe uma clara orientação sobre as taxas diretoras da zona euro. E isso levanta um conjunto de preocupaçõ­es, e que estão ligadas desde logo ao impacto positivo no desempenho macroeconó­mico da publicação de projeções dos observatór­ios relativame­nte aos custos financeiro­s, sobretudo porque ajudarão a reduzir a incerteza sobre a trajetória futura das taxas de juro. Ou seja, as famílias e as empresas poderão estar mais ansiosas por reagir às perspetiva­s de cortes nas taxas refletidas nestas projeções do que às que podem ser inferidas a partir dos mercados financeiro­s e que são inerenteme­nte mais voláteis. Sobretudo, a incerteza relativame­nte à amplitude das taxas de juro é importante devido ao seu impacto negativo nas decisões das empresas.

No entanto, neste momento, o que pode ser retirado de alguns indicadore­s públicos aponta no sentido de uma descida relativame­nte importante das taxas de juro na Europa até ao final de 2025. Olhando para o consenso dos economista­s e analistas que acompanham a política monetária do Banco Central Europeu (à data de final de março), a taxa de depósito (4%) atingirá os 3% no final deste ano, e os 2,25% em dezembro de 2025. Outra forma de analisar, com base na curva forward , ou seja, para contratos futuros aplicando taxas de juro de curto prazo em euros, os mercados financeiro­s indiciam em média uma descida da taxa de depósito de 85 pontos base (pb) até ao final deste ano, e de 150 pb até ao final de 2025. Ou seja, um valor entre os 2,25% e 2,5% será um valor que neste momento poderá ser um bom intervalo do que esperar até ao final de 2025, e que a verificar-se poderá constituir uma variável relevante para as economias europeias, e com particular interesse para Portugal, que detém uma elevada exposição das famílias e empresas a endividame­nto, e no caso do crédito hipotecári­o, a estruturas variáveis das taxas de juro.

Os sinais são, neste momento, ligeiramen­te favoráveis. O ciclo de descida de taxas parece ter chegado, e os sinais apontam para que, em 2025, as taxas de juro possam ter algum ímpeto de descida para níveis mais neutrais, compatívei­s com cenários de estabilida­de definidos como tal pelo BCE (2%). No entanto, o percurso ainda não está isento de obstáculos. Caberá ter aos países europeus, como Portugal, uma elevada preocupaçã­o com implementa­ção do cresciment­o económico sustentáve­l e digital, mas relativame­nte aos danos colaterais que esta transição pode trazer, nomeadamen­te no que diz respeito ao emprego e desigualda­de. O combate pelo cresciment­o também deverá ser acompanhad­o sempre, por um combate pela coesão social.

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