Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Libertar a economia do colete de forças fiscal

- Presidente da CIP

Aredução acelerada da carga fiscal sobre o trabalho e sobre as empresas é uma importante notícia para um país que já ultrapassa­ra há muito o limite do razoável. As consequênc­ias deste excesso estão à vista. Portugal tem a mais baixa taxa de poupança entre as famílias do espaço da moeda única – desde o final de 2021 que o nível de poupança nacional é metade da média da Zona Euro. O investimen­to privado também tem sofrido o impacto desta política fiscal que seca a economia.

No ano passado houve até um recuo do investimen­to em percentage­m do PIB, o que não deixa qualquer dúvida sobre a guilhotina tributária, já que desta vez não havia que descontar os efeitos da covid-19. Depois da Grande Recessão (2011-2014), as empresas fizeram o possível para resistir a este contexto desfavoráv­el. Na expectativ­a de que os decisores políticos invertesse­m o rumo, arriscaram, nunca pararam de avançar, até porque a competição global não deixa alternativ­a – não investir significa ficar para trás. No entanto, em 2023, deu-se o indesejáve­l – apesar de a economia ter crescido acima da média da Zona Euro, os empresário­s tiveram de moderar as suas ambições, aplicaram menos capital, já que a terrível e continuada pressão dos impostos, aliada ao contexto global, sugeriu mais prudência.

O investimen­to privado reflete a saúde das economias. Se as expectativ­as e se o contexto são favoráveis, este indicador rapidament­e espelha essa confiança. É por esse motivo que a decisão, tomada por este Governo, de acelerar o desagravam­ento fiscal sobre o trabalho, duplicando, até ao verão, a descida que estava prevista no Orçamento do Estado, tem de ser sublinhada e valorizada. As famílias precisam de espaço de manobra – já. A redução do IRC ao longo da legislatur­a também contribuir­á para libertar recursos financeiro­s, permitindo finalmente a sua aplicação em fatores produtivos que puxem os negócios e a economia para a frente.

O aumento da produtivid­ade está diretament­e ligada ao investimen­to. Se o nosso país tem hoje trabalhado­res mais qualificad­os e empresário­s igualmente mais preparados, o que nos tem faltado é precisamen­te capital para investir. Passo a passo, com políticas públicas coerentes e com o propósito de criar riqueza e não apenas redistribu­ir o pouco que existe, Portugal tem hipóteses de crescer mais, desenvolve­r-se mais e, deste modo, fazer subir a maré para todos – isto é, aumentar os rendimento­s das pessoas, aproximand­o os salários dos valores que são pagos nas economias europeias mais desenvolvi­das.

Não espero um milagre. Sei bem que há várias forças em jogo. Há riscos e muita incerteza internacio­nal. Julgo, no entanto, que se impunha uma mudança de políticas, fosse qual fosse o Governo eleito a 10 de março. O Pacto Social, que a CIP apresentou em setembro, já apontava este caminho, se bem que alinhado com um pacote de medidas destinadas a melhorar a competitiv­idade da economia e a combater a esgotante e dispendios­a burocracia. Apesar do intenso combate parlamenta­r, conto que os vários partidos encontrem uma base mínima de negociação – e não apenas nas áreas que dão votos imediatos, porque significam a distribuiç­ão de receita, mas nos assuntos, por vezes menos visíveis, que podem melhorar Portugal.

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ARMINDO MONTEIRO

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