Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Jovens e empresas: a mesma luta
Ora aí está, finalmente, o XXIV Governo Constitucional. O Executivo recém-empossado é composto, na generalidade, por pessoas de reconhecida competência e com provas dadas na vida pública portuguesa, em particular nos setores que tutelam. Por isso, as expectativas são boas, não obstante as condições periclitantes em que a governação se vai exercer.
Sobre a orgânica do novo Governo, há que saudar a criação do Ministério da Juventude e Modernização. Esta decisão parece ser um sinal de que o Executivo está preocupado com os jovens e pretende atacar os seus problemas, responder aos seus anseios, ir ao encontro das suas expectativas. Espero bem que assim seja, pois muitas das condicionantes socioeconómicas deste país tocam de perto a juventude: falta de perspetivas de carreira, baixos salários, tributação elevada, dificuldades de acesso a habitação, educação e saúde...
A juventude deve ser, de facto, uma prioridade nacional e um setor a privilegiar numa futura política de valorização dos rendimentos. Um estudo divulgado esta semana, da autoria do Instituto Universitário de Ciências da Saúde, indica que a maioria dos jovens (65,6%) recebe menos de mil euros líquidos mensais e trabalha 36 horas por semana. O salário médio sobe para 1144 euros quando a jornada de trabalho é de mais de 40 horas por semana, sendo que só um terço dos jovens recebe entre mil e três mil euros mensais.
Com salários tão modestos, é natural que os jovens revelem grandes dificuldades de acesso a habitação digna, tanto mais que o mercado imobiliário em Portugal tem estado em alta. No mesmo estudo é referido que 34% dos jovens moram em casa de família e cerca de 35% arrendam um imóvel, quedando-se pelos 20% os que possuem habitação própria. Mais preocupante é a precariedade habitacional dos jovens que vivem em quartos arrendados (10%), por um valor médio de 270 euros mensais.
Para combater esta proletarização dos jovens, que força muitos deles à emigração e acentua o envelhecimento do país, há que criar melhores condições quer para as empresas recrutarem pessoal e valorizarem salários, quer para a juventude portuguesa poder concretizar os seus projetos de empreendedorismo. Ora, facilitar a atividade empresarial obriga, necessariamente, a reformas em três áreas-chave: Administração Pública, sistema fiscal e justiça.
Que não haja dúvidas: para serem eficazes, as políticas para a juventude devem ser pensadas e executadas em articulação com medidas que melhorem o ambiente empresarial.