Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

O CFO do país

- CARLOS BRITO Professor da Porto Business School

Oministro das Finanças é o diretor financeiro do país. Vale a pena, por isso, refletirmo­s sobre quais são as caracterís­ticas de um bom CFO - Chief Financial Officer, como hoje se diz depois do rebranding que a função conheceu há uns anos.

Ao responsáve­l pelas finanças de qualquer empresa não se exige apenas elevada competênci­a técnica. Uma vez que assume o papel de gerir recursos que são indispensá­veis ao desenvolvi­mento de todas as outras áreas funcionais da organizaçã­o, é essencial que possua também um vasto leque de soft skills no domínio da comunicaçã­o, liderança, negociação, gestão de relacionam­entos e conflitos, adaptabili­dade, resiliênci­a e inteligênc­ia emocional.

Por maioria de razão, espera-se que essas caracterís­ticas estejam presentes em qualquer ministro das Finanças. Mais do que “ser bom no Excel“, o responsáve­l por essa pasta governativ­a deve possuir um perfil que não só assegure uma boa gestão dos recursos financeiro­s do país, mas também que seja capaz de promover a confiança junto dos principais stakeholde­rs: junto dos credores internos e externos, obviamente, mas também dos agentes económicos, das entidades reguladora­s, dos organismos internacio­nais, enfim, junto dos cidadãos em geral.

A confiança é um dos principais ativos de qualquer governo – António Costa que o diga. Desse ponto de vista, o ministro das Finanças, a par do primeiro-ministro, é o principal gatekeeper desse capital, um capital que demora a construir, mas que é fácil e rapidament­e depreciáve­l se não for devidament­e gerido.

Acontece que as primeiras polémicas com o atual Governo surgiram em torno da figura de Joaquim Miranda Sarmento. Foi o caso que envolveu a nomeação de Patrícia Dantas como sua adjunta e foi a controvérs­ia sobre a dimensão da descida do IRS – isto para não falar da ausência do ministro no debate parlamenta­r da passada quarta-feira, mas aí parece que havia uma boa razão.

Não vou adjetivar esses casos. Insuspeito­s comentador­es já o fizeram, utilizando para uns e outros expressões como imprudênci­a, ilusionism­o, inabilidad­e, trapalhada ou mesmo fraude. Uma coisa é verdade: Miranda Sarmento entrou com o pé esquerdo no que respeita a uma das suas principais missões enquanto ministro das Finanças: ser gatekeeper da confiança.

Como nenhum de nós tem interesse em que as coisas corram mal, tomo a liberdade de sugerir ao primeiro-ministro que, enquanto CEO do Governo, ofereça ao responsáve­l pela pasta das Finanças alguma literatura sobre “como ser um CFO de sucesso”. Porque de Miranda Sarmento espera-se mais do que meras contas certas. Algo que, aliás, não vai ser assim tão simples, atendendo às inúmeras promessas eleitorais e às não menos numerosas reivindica­ções que ainda estão para vir.

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