Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
O CFO do país
Oministro das Finanças é o diretor financeiro do país. Vale a pena, por isso, refletirmos sobre quais são as características de um bom CFO - Chief Financial Officer, como hoje se diz depois do rebranding que a função conheceu há uns anos.
Ao responsável pelas finanças de qualquer empresa não se exige apenas elevada competência técnica. Uma vez que assume o papel de gerir recursos que são indispensáveis ao desenvolvimento de todas as outras áreas funcionais da organização, é essencial que possua também um vasto leque de soft skills no domínio da comunicação, liderança, negociação, gestão de relacionamentos e conflitos, adaptabilidade, resiliência e inteligência emocional.
Por maioria de razão, espera-se que essas características estejam presentes em qualquer ministro das Finanças. Mais do que “ser bom no Excel“, o responsável por essa pasta governativa deve possuir um perfil que não só assegure uma boa gestão dos recursos financeiros do país, mas também que seja capaz de promover a confiança junto dos principais stakeholders: junto dos credores internos e externos, obviamente, mas também dos agentes económicos, das entidades reguladoras, dos organismos internacionais, enfim, junto dos cidadãos em geral.
A confiança é um dos principais ativos de qualquer governo – António Costa que o diga. Desse ponto de vista, o ministro das Finanças, a par do primeiro-ministro, é o principal gatekeeper desse capital, um capital que demora a construir, mas que é fácil e rapidamente depreciável se não for devidamente gerido.
Acontece que as primeiras polémicas com o atual Governo surgiram em torno da figura de Joaquim Miranda Sarmento. Foi o caso que envolveu a nomeação de Patrícia Dantas como sua adjunta e foi a controvérsia sobre a dimensão da descida do IRS – isto para não falar da ausência do ministro no debate parlamentar da passada quarta-feira, mas aí parece que havia uma boa razão.
Não vou adjetivar esses casos. Insuspeitos comentadores já o fizeram, utilizando para uns e outros expressões como imprudência, ilusionismo, inabilidade, trapalhada ou mesmo fraude. Uma coisa é verdade: Miranda Sarmento entrou com o pé esquerdo no que respeita a uma das suas principais missões enquanto ministro das Finanças: ser gatekeeper da confiança.
Como nenhum de nós tem interesse em que as coisas corram mal, tomo a liberdade de sugerir ao primeiro-ministro que, enquanto CEO do Governo, ofereça ao responsável pela pasta das Finanças alguma literatura sobre “como ser um CFO de sucesso”. Porque de Miranda Sarmento espera-se mais do que meras contas certas. Algo que, aliás, não vai ser assim tão simples, atendendo às inúmeras promessas eleitorais e às não menos numerosas reivindicações que ainda estão para vir.