Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Países que permitem alternativas à nicotina registam maior redução de fumadores
Estudo da consultora Povaddo para a Philip Morris International conclui que é necessária mais informação científica sobre as alternativas aos cigarros. Porque ter 0% de fumadores não é um cenário realista.
Os portugueses têm uma mente aberta ao conceito da redução dos efeitos nocivos do tabaco e à utilização de meios alternativos. Foi desta forma que William Stewart, presidente e fundador da Povaddo, em entrevista ao Dinheiro Vivo, caracterizou Portugal, tendo por base um estudo que a empresa fez para a Philip Morris International (PMI), dona da portuguesa Tabaqueira, sobre a abordagem política da União Europeia ao controlo do tabaco. Para o responsável, Portugal sobressai, de forma positiva, em muitas das questões do inquérito, o que significa que “há mais recetividade e abertura de espírito”.
Um dado que surpreendeu o presidente da Povaddo foi o referente ao comércio ilícito. Enquanto na média dos 14 países estudados o valor é de 38%, Portugal regista um dos números mais baixos: apenas cerca de 20% dos inquiridos portugueses revelaram ter visto ou ouvido falar de comércio ilícito de tabaco. Este é um “flagelo” que existe em todo o lado. E que não só causa prejuízo aos cofres do Estado, dado que este não fatura os impostos devidos, como à saúde pública, uma vez que o tabaco, ao entrar em circuitos alternativos, não tem assegurada a qualidade e higiene. “Não há controlos no comércio ilícito”, aponta o presidente da empresa, que acredita que a questão tem de ser trabalhada de forma mais eficaz.
Os números registados em Portugal indiciam que o comércio ilícito não está tão disseminado como nos outros países. Embora os inquiridos reconheçam que há um problema, este não é tão visível como se pensa.
Por outro lado, os números do mercado nacional revelam que os consumidores dão importância à ciência (uma tendência que também se verifica nos outros países, mas que é mais acentuada em Portugal). Isto significa que há uma credibilização da ciência e que os cidadãos estão mais dispostos a aceitar medidas impostas pelo governo, desde que estas se baseiem em factos científicos e tenham como objetivo proporcionar uma melhor qualidade de vida e levar os cidadãos a tomarem decisões para uma vida mais saudável. Como aponta William Stewart, no geral, cerca de 59% dos inquiridos concordam com essa noção, mas, em Portugal, o valor é mais elevado: cerca de 65%. Por outro lado, o gestor realça que esta valorização da ciência ocorre mesmo em temas não relacionados com o tabaco.
O estudo também revelou uma espécie de estagnação no que concerne ao mercado do produto. A explicação, para William Stewart, reside no facto de, nos últimos tempos, não ter havido nenhuma inovação (ou polémica) de grande dimensão que tenha levado a uma alteração de opinião dos consumidores, e nomeadamente dos fumadores.
Mas talvez o que realmente distingue Portugal dos restantes países, na opinião de William Stewart, é a sua abertura de espírito quanto ao conceito da redução dos efeitos nocivos do tabaco e à existência de alternativas. Para o administrador, Portugal, mais do que registar uma diferença ao longo do tempo, tem-se diferenciado dos outros países de uma forma positiva, mesmo com as dificuldades de comunicação, dado que o país tem leis estritas sobre a divulgação de informação relacionada com o tabaco. Sobre isto, a opinião do empresário é categórica: a indústria está a fazer o possível. “Os governos têm de ser mais proativos”. Para o dirigente, o objetivo é a erradicação do tabaco e ter uma estratégica unicamente proibitiva não é algo realista. Mesmo porque “é impossível ter zero fumadores”, diz.
UE legisla sem ouvir os fumadores
Esta foi a grande ilação retirada do estudo levado a cabo pela Povaddo. 65% dos fumadores na União Europeia acreditam que os decisores na UE, quando legislam e regulam produtos que contêm tabaco e nicotina, não consideram o impacto que tais decisões têm neles. Em causa, o facto de os governos tomarem decisões ao nível da equiparação, da proibição ou da taxação de produtos alternativos.
Na apresentação dos resultados do estudo, William Stewart revelou que os países que permitem alternativas à nicotina foram os que registaram uma maior diminuição de fumadores, com a Suécia a assumir a liderança: menos 50% no período compreendido entre 2014 e 2022. Em sentido contrário, encontra-se a Turquia, que baniu as alternativas à nicotina e que registou, no mesmo período, apenas uma diminuição de 2% de fumadores.
O estudo revela também que há falta de informação sobre as alternativas à nicotina e os seus alegados benefícios. A generalidade dos inquiridos considera que há falta de informação e, concretamente, informação científica, que lhes permita tornar decisões informadas.
A Suécia é considerada um caso de sucesso, em grande medida devido à comercialização do “snus”, que levou a uma queda significativa da venda de cigarros. Segundo a Swedish Match, estima-se que, em 1982, vendiam-se cerca de 600 milhões de pacotes e, em 2021, o valor era ligeiramente superior aos 200 milhões. Números que permitiram, entre outras coisas, diminuir significativamente o número de fatalidades atribuídas ao tabaco. Segundo o HO Global Report Mortality Attributable to Tobacco
56%
Afirmam que o comércio ilícito de produtos de tabaco e nicotina torna menos provável que os fumadores adultos abandonem totalmente o hábito ou que mudem para melhores alternativas, ao garantir o fornecimento constante de cigarros a preços mais baratos.
2012, a Suécia tem 173 fatalidades em cada 100 mil, enquanto os números na União Europeia variam entre 14 e 690. Entretanto, o governo sueco anunciou que, este ano, o imposto sobre o “snus” será reduzido em 20%, enquanto o imposto sobre os cigarros será aumentado em 9%.
A França optou por um caminho completamente diferente. E com resultados distintos. O país considerou que o problema do tabaco poderia ser resolvido com uma nova taxa. O resultado não foi definitivamente o esperado. Se, em 2022, como apontou Olivier Babeau, presidente do Institut Sapiens, o comércio ilícito rondava os 32%, dois anos depois, os valores subiram para 40%. Não só o governo francês deixou de receber vários milhões em receitas, como está em causa uma questão de “saúde pública”.
O ideal seria, efetivamente, deixar de fumar. Não o conseguindo, como refere Anders Milton, CEO do Milton Consulting and Chair of the Snus Commission, na Suécia, o melhor é usar uma alternativa, que não é tão prejudicial à saúde como o cigarro, segundo refere.
Aos fumadores adultos deve ser disponibilizada informação precisa e cientificamente fundamentada de que as alternativas sem fumo apresentam menor risco do que continuar a fumar cigarros, mesmo que não sejam isentas de riscos, defendem 69% dos inquiridos.
Os governos podem ajudar a melhorar a saúde pública, apoiando políticas que incentivem os fumadores adultos que não abandonam totalmente os produtos de tabaco e nicotina a mudar para alternativas inovadoras sem fumo que tenham o potencial de ser menos prejudiciais do que continuar a fumar, apontam 67% das repostas.
A UE deve dedicar tempo e recursos à erradicação do consumo de cigarros, incentivando todos os fumadores a abandonar completamente ou a mudar para uma alternativa de menor risco, cientificamente fundamentada, sugerem 67% das opiniões.
Já 74% concordam que a proibição de certos produtos de tabaco e que contêm nicotina não conduzirá realmente a uma redução do consumo. Ao invés, os consumidores irão apenas procurar estes produtos no mercado negro.
Cerca de 65% consideram que o comércio ilícito de tabaco e produtos que contêm nicotina prejudica os esforços para reduzir as taxas de tabagismo.
E 73% admitem que o comércio ilícito de produtos de tabaco e/ou nicotina pode ter consequências negativas graves para a segurança, proteção e saúde pública nos seus respetivos países.
Metodologia do estudo
A PMI comissariou à Povaddo a realização do inquérito nos seguintes países: Bélgica, Bulgária, Croácia, República Checa, França, Grécia, Itália, Lituânia, Polónia, Portugal, Roménia, Eslováquia, Espanha e Ucrânia. Um total de 14 119 entrevistas foram realizadas entre maiores de idade, adultos que representam a população em geral (aproximadamente 1000 por país), no período entre 29 de dezembro de 2023 e 31 de janeiro de 2024. Os dados foram ponderados por país em termos de idade, género e consumo de produtos de tabaco/nicotina para refletir as estatísticas da população nacional.
A pesquisa apresenta uma margem de erro geral de +/- 1% no intervalo de confiança de 95%. Os resultados estão disponíveis tanto a nível global (14 países) como a nível de cada país. Os resultados a nível nacional apresentam uma margem de erro de +/- 3% no intervalo de confiança de 95%.