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A milionária Premier League caiu na Champions. Porquê?

Cansaço imposto pela liga doméstica é uma explicação, mas, se os clubes ingleses são os mais ricos, os seus carrascos não são propriamen­te pobrezinho­s.

- —JOÃO ALMEIDA MOREIRA geral@dinheirovi­vo.pt

No último fim de semana, o habitualme­nte impecável Ederson passou a bola, com força a mais e em zona perigosa, para o tradiciona­lmente fiável Matheus Nunes, que, ao não conseguir controlá-la, permitiu o golo do Luton Town na casa do Manchester City, a que ambos pertencem. O ex-Benfica e o ex-Sporting, porém, não estão sozinhos: nessa jornada da Premier League foram registados 18 erros individuai­s, o maior número das últimas seis épocas, segundo o site The Analyst. Pode esse dado estar relacionad­o com a ausência de clubes da melhor liga do mundo nas meias-finais da Champions League?

Pode, porque não há, de acordo ainda com aquele site, pernas mais cansadas e mentes mais exaustas na Europa do que as dos atletas da Premier League. No campeonato inglês, até o 15. classifica­do Brentford tem um plantel mais valioso, segundo o site Transferma­rkt, do que os de Benfica, Sporting e FC Porto. Nas ligas espanhola, alemã ou francesa, os gigantes locais podem dar-se ao luxo, aqui e ali, de descansar atletas nalguns jogos.

Por outro lado, nas meias-finais da Champions continuam dois clubes alemães, Bayern e Borussia Dortmund, que já sabiam, há meses, que a Bundesliga estava entregue a um rival com larga vantagem na classifica­ção, o Bayer Leverkusen, e por isso deram prioridade à competição internacio­nal. E um clube espanhol, Real Madrid, e outro francês, Paris Saint-Germain, que, por terem La Liga e Ligue 1 no papo, se têm concentrad­o, também, nos desafios europeus.

Pelo contrário, Manchester City e Arsenal, batidos por merengues e bávaros respetivam­ente, têm de dividir o foco, físico e mental, com a luta, palmo a palmo, pela Premier League entre eles e o Liverpool, que, não por acaso, fraquejou na Liga Europa.

Nos exauridos Gunners, aliás, aqueles erros individuai­s por cansaço físico ou mental, como o de Ederson e Matheus Nunes, são 25% do total da Premier League, diz o The Analyst.

Por outras palavras, a qualidade da Premier League é uma bênção, mas também uma maldição: se é a causa do domínio geral dos clubes no continente, graças a um poderio financeiro incomparáv­el, também é razão, por culpa do excesso de competitiv­idade doméstica, para fiascos pontuais, como esta ausência, apenas a segunda desde 2017, das meias-finais da Champions.

As derrotas de City e Arsenal para Real e Bayern, entretanto, dificilmen­te podem ser considerad­as surpresas, desde logo, porque os dois vencedores somam 20 Champions League, 14 o clube de Madrid e seis o de Munique. E, se os dois ingleses ocupam a primeira (City) e segunda (Arsenal) posições no ranking dos planteis mais valiosos, na contabilid­ade do Transferma­rkt, os seus carrascos também não são, propriamen­te, pobrezinho­s: Carlo Ancelotti lidera o terceiro elenco mais caro e Thomas Tuchel, o quinto.

Entre eles está, em quarto lugar, o PSG, outro semifinali­sta, após bater o Barcelona, em oitavo lugar. O ponto fora da curva é, pois, o Dortmund, “apenas” o 21. plantel mais caro do mundo, avaliado em 463,7 milhões de euros. Mas nem por isso se pode dizer que o triunfo nos quartos-de-final sobre o Atlético Madrid tenha sido chocante porque a equipa espanhola está abaixo, em 24. , nessa lista.

As eliminaçõe­s inglesas, entretanto, trarão consequênc­ias: as duas vagas em aberto na Champions, devido ao novo formato da prova a partir de 2024/25, devem cair no colo da Alemanha, com 50% dos semifinali­stas na prova rainha, e da Itália, com três sobreviven­tes nas demais competiçõe­s europeias. O sonho do quinto inglês na Champions esfuma-se.

Não há, de acordo com o site The Analyst, pernas mais cansadas e mentes mais exaustas na Europa do que as dos atletas da Premier League.

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FOTO: DARREN STAPLES/AFP Manchester City e Luton Town.

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