Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
A milionária Premier League caiu na Champions. Porquê?
Cansaço imposto pela liga doméstica é uma explicação, mas, se os clubes ingleses são os mais ricos, os seus carrascos não são propriamente pobrezinhos.
No último fim de semana, o habitualmente impecável Ederson passou a bola, com força a mais e em zona perigosa, para o tradicionalmente fiável Matheus Nunes, que, ao não conseguir controlá-la, permitiu o golo do Luton Town na casa do Manchester City, a que ambos pertencem. O ex-Benfica e o ex-Sporting, porém, não estão sozinhos: nessa jornada da Premier League foram registados 18 erros individuais, o maior número das últimas seis épocas, segundo o site The Analyst. Pode esse dado estar relacionado com a ausência de clubes da melhor liga do mundo nas meias-finais da Champions League?
Pode, porque não há, de acordo ainda com aquele site, pernas mais cansadas e mentes mais exaustas na Europa do que as dos atletas da Premier League. No campeonato inglês, até o 15. classificado Brentford tem um plantel mais valioso, segundo o site Transfermarkt, do que os de Benfica, Sporting e FC Porto. Nas ligas espanhola, alemã ou francesa, os gigantes locais podem dar-se ao luxo, aqui e ali, de descansar atletas nalguns jogos.
Por outro lado, nas meias-finais da Champions continuam dois clubes alemães, Bayern e Borussia Dortmund, que já sabiam, há meses, que a Bundesliga estava entregue a um rival com larga vantagem na classificação, o Bayer Leverkusen, e por isso deram prioridade à competição internacional. E um clube espanhol, Real Madrid, e outro francês, Paris Saint-Germain, que, por terem La Liga e Ligue 1 no papo, se têm concentrado, também, nos desafios europeus.
Pelo contrário, Manchester City e Arsenal, batidos por merengues e bávaros respetivamente, têm de dividir o foco, físico e mental, com a luta, palmo a palmo, pela Premier League entre eles e o Liverpool, que, não por acaso, fraquejou na Liga Europa.
Nos exauridos Gunners, aliás, aqueles erros individuais por cansaço físico ou mental, como o de Ederson e Matheus Nunes, são 25% do total da Premier League, diz o The Analyst.
Por outras palavras, a qualidade da Premier League é uma bênção, mas também uma maldição: se é a causa do domínio geral dos clubes no continente, graças a um poderio financeiro incomparável, também é razão, por culpa do excesso de competitividade doméstica, para fiascos pontuais, como esta ausência, apenas a segunda desde 2017, das meias-finais da Champions.
As derrotas de City e Arsenal para Real e Bayern, entretanto, dificilmente podem ser consideradas surpresas, desde logo, porque os dois vencedores somam 20 Champions League, 14 o clube de Madrid e seis o de Munique. E, se os dois ingleses ocupam a primeira (City) e segunda (Arsenal) posições no ranking dos planteis mais valiosos, na contabilidade do Transfermarkt, os seus carrascos também não são, propriamente, pobrezinhos: Carlo Ancelotti lidera o terceiro elenco mais caro e Thomas Tuchel, o quinto.
Entre eles está, em quarto lugar, o PSG, outro semifinalista, após bater o Barcelona, em oitavo lugar. O ponto fora da curva é, pois, o Dortmund, “apenas” o 21. plantel mais caro do mundo, avaliado em 463,7 milhões de euros. Mas nem por isso se pode dizer que o triunfo nos quartos-de-final sobre o Atlético Madrid tenha sido chocante porque a equipa espanhola está abaixo, em 24. , nessa lista.
As eliminações inglesas, entretanto, trarão consequências: as duas vagas em aberto na Champions, devido ao novo formato da prova a partir de 2024/25, devem cair no colo da Alemanha, com 50% dos semifinalistas na prova rainha, e da Itália, com três sobreviventes nas demais competições europeias. O sonho do quinto inglês na Champions esfuma-se.
Não há, de acordo com o site The Analyst, pernas mais cansadas e mentes mais exaustas na Europa do que as dos atletas da Premier League.