Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Especialista em edifícios inteligentes prepara expansão
Focada em smart buildings já dá cartas no mercado nacional há sete anos, com mais de 16 500 metros quadrados otimizados. Agora, tem Espanha, Brasil e Emirados Árabes Unidos debaixo de olho.
Depois de mais de 16 500 metros quadrados (m2) de edifícios otimizados, que resultaram numa redução de 215 toneladas de emissões de carbono (CO2), a startup portuguesa Bandora prepara-se para faturar dez vezes mais em 2024, reforçar a equipa e expandir o negócio além-fronteiras, confiando que mais um passo será dado no objetivo de liderar o mercado de smart buildings.
A empresa, fundada em 2017, no Porto, por Márcia Pereira, promete tornar os edifícios mais autónomos, confortáveis, eficientes e sustentáveis em apenas 96 horas, através de uma solução integrada para a gestão energética, que combina tecnologias de Inteligência Artificial (IA) – entre as quais machine learning e otimização –, simulação tridimensional e um “elevado conhecimento” no domínio do conforto térmico.
Na prática, a Bandora atua como um facility manager virtual, conectando-se com qualquer sistema IoT e utilizando IA para otimizar o seu funcionamento e equipamentos, como por exemplo o sistema de AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado). É desta forma que afirma ser capaz de assegurar um ambiente confortável para os ocupantes, ao mesmo tempo que reduz de forma significativa o consumo de energia e os custos associados.
“A ideia surgiu quando colaborava numa empresa focada no desenvolvimento de hardware para melhorar a eficiência energética dos sistemas de iluminação, e percebi que o principal problema estava, na verdade, no software e que o foco deveria ser nos sistemas de climatização, que representam cerca de 50% a 60% do consumo total de energia”, começa por contar a fundadora da startup, em entrevista ao Dinheiro Vivo.
Com soluções personalizadas para diferentes tipos de edifícios, o principal alvo da Bandora é o mercado business to business (B2B), designadamente os setores de retalho, hotelaria e restauração, onde “os desafios são mais prementes” e o consumo de energia é substancial, o que viabiliza um grande potencial de economia. Cadeias internacionais de fast-food, espaços de coworking e coliving, e o Factory no Hub Criativo do Beato, em Lisboa, são alguns dos casos onde o sistema da Bandora já faz sucesso.
No mercado residencial, por seu turno, “o argumento da poupança energética pode ter menos peso, já que as famílias têm maior controlo sobre os seus próprios consumos” – ainda assim, a empresa estima que a abordagem possa tornar-se uma realidade até 2026, através da participação no consórcio da Illiance, uma agenda do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) liderada pela Bosch, que visa alcançar a neutralidade carbónica no setor dos edifícios: “Vamos desenvolver uma solução direcionada para o business to consumer (B2C), adaptando a nossa plataforma para as casas inteligentes.”
Quanto ao modelo de negócio da startup, a flexibilidade impera, podendo o cliente optar entre uma assinatura mensal fixa e a opção savings as a service, na qual é partilhada a poupança de energia com o próprio. Já os preços “são competitivos e representam um investimento acessível com retorno rápido”, tendo em conta que o sistema é entregue pronto a funcionar em apenas uma semana.
“O setor dos edifícios inteligentes em Portugal regista uma tendência de crescimento, impulsionada pelo aumento da procura por residências inteligentes e pela necessidade cada vez maior sustentabilidade nos edifícios comerciais. Além disso, a recente subida dos preços da energia colocou a eficiência energética no topo das prioridades”, nota Márcia Pereira, ressaltando, contudo, os desafios que a conectividade dos dispostos impõe ao nível da segurança cibernética.
Desde a sua criação, a Bandora já conseguiu levantar cerca de 2,2 milhões de euros de investimento público, nomeadamente no âmbito do PRR, e 1,7 milhões de capital de risco. Devido à forte componente de investigação interna, a empresa tem colaborado ativamente com universidades e outras instituições de pesquisa, de modo a poder oferecer as melhores soluções aos clientes.
A equipa, composta atualmente por 13 pessoas, das quais 40% mulheres, vai crescer para 23 até ao final deste ano, abrangendo as áreas técnicas e de marketing, para suportar o crescimento e expansão internacional. Espanha é a prioridade para fechar os primeiros contratos, mas a Bandora também já estabeleceu um acordo de distribuição no Brasil, focado em supermercados e fast food, e está a conduzir duas provas de conceito nos Emirados Árabes Unidos, com planos de expansão para a Europa e América Latina em 2025 e 2026.
“Os contratos de distribuição para os mercados brasileiro e árabe surgiram como oportunidades que agarrámos imediatamente, pois já conhecíamos as empresas e os seus interlocutores, que se mostraram muito interessados no nosso produto e, principalmente, nos resultados alcançados com os nossos clientes”, explica a empreendedora.
Em termos de impacto ambiental, a meta passa por atingir 1500 edifícios até 2026, o que resultaria numa poupança mínima de 200 GWh de energia, o equivalente à capacidade de captura de CO2 de meio milhão de árvores.