Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Há um Portugal por cumprir
ACIP - Confederação Empresarial de Portugal é filha da revolução. Nascemos há precisamente 50 anos – escassas semanas após o 25 de abril – filhos da sociedade civil que começou logo a organizar-se para responder às novas ambições individuais e coletivas que a liberdade finalmente permitia, desejava e estimulava. Até esse dia, mesmo na área empresarial, éramos um país amorfo, analfabeto, paroquial, sem visão do mundo, castrado no pensamento e na vontade por um regime caduco. Num só dia, em apenas 24 horas, as velhas amarras soltaram-se e as comportas abriram-se. A livre iniciativa privada – até então não era empresário quem queria –, apesar das dificuldades, deu logo um passo em frente com a criação da CIP.
Evoluímos muito nestes anos, fizemos um caminho importante que tem de ser valorizado; valorizado apesar dos problemas que existem, uns antigos, outros novos, vários deles estruturais, que nos impedem de concretizar o nosso potencial. É nisso que me quero concentrar aqui – o passado e a história devem ser celebrados, a sua importância tem de ser reconhecida e sublinhada, como milhares e milhares de pessoas, de todos os quadrantes políticos, da Esquerda à Direita, fizeram na quinta-feira pelo país inteiro. Penso, no entanto, que é preciso mais para honrar e continuar Abril de 74 e Novembro de 75. Temos de dar expressão concreta a esta energia coletiva e ao poderoso sinal que ela nos transmite. As pessoas querem viver melhor, querem um país com mais oportunidades, menos desigualdade, um país menos vulnerável, mais competitivo, mais solidário e com mais futuro.
Os portugueses têm hoje sonhos e ambições maiores, os nossos horizontes abriram-se, as expectativas cresceram. Na economia, a concorrência global também se intensificou, o que significa que a nossa afirmação no mundo enfrenta novos obstáculos, exige mais de nós. O desafio da qualificação dos portugueses, incluindo naturalmente empresários e gestores, continua a ser um investimento fundamental e permanente, e oferece-nos uma robusta base de crescimento. O potencial humano, o talento e as competências que desenvolvemos ao longo destes anos são obviamente a base que nos permite pensar maior, com escala, tornando possível a concretização das ambições de cada um de nós, homens e mulheres, mais novos e mais velhos.
A nossa democracia tem fragilidades e problemas, sim, mas é seguramente o melhor dos sistemas. Dito isto, compete a cada um de nós concretizar e avançar com ideias que tragam soluções objetivas. Desistir não é opção. Aos decisores políticos compete construir o contexto mais adequado, não sobrecarregar as pessoas e as empresas de impostos, obrigações e burocracias inúteis. Sim, a desconfiança é hoje um dos maiores problemas da nossa sociedade. O Estado desconfia de todos. As pessoas desconfiam do Estado. Representantes de empregadores e representantes de trabalhadores, os Parceiros Sociais (reparem bem, parceiros – “entidades que estão em parceria com outras para atingir o mesmo objetivo”, hesitam em cooperar por desconfiança estratégica quanto aos objetivos de cada um.
As instituições estão fragilizadas. As relações estão demasiadas vezes minadas por este excessivo ambiente de ceticismo e suspeita. A celebração nacional do cinquentenário do início da revolução deve-nos convidar a mudar esta cultura da descrença e tem de servir de impulso para que juntemos as nossas forças com os olhos postos em objetivos comuns. É este o desígnio de Portugal que está por cumprir.