Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Montenegro dá a volta, mas há perigos nas europeias

- BRUNO CONTREIRAS MATEUS Jornalista

Esta semana lembrei-me de umas declaraçõe­s recentes de Sebastião Bugalho, na SIC Notícias, que depois fui recuperar. A 28 de março, o comentador dizia, minutos antes de se conhecer toda a composição do novo governo, enquanto se especulava à volta de nove nomes que este canal de televisão dava como certos, que “não há ninguém que venha dar peso político ao ponto de derrubar o governo significar um enorme perigo para quem o derrubar”, uma vez que as escolhas de Luís Montenegro denotavam uma “clara ligação direta” entre a direção do PSD, os nomes para a Assembleia da República e o próprio executivo governamen­tal. “Luís Montenegro pode achar que para sobreviver à tempestade precisa de uma tripulação com resistênci­a para o mau tempo, ou seja, com bons braços para remar. Muitas vezes subestimam­os o julgamento político de Montenegro, presumimos que ele está errado e ele acaba por estar correto”, concluiu Sebastião Bugalho.

Nem um mês passou e deduzo o que pensa Sebastião Bugalho sobre o candidato (ainda sem peso político) às europeias, Sebastião Bugalho, de 28 anos, como número 1 da lista da Aliança Democrátic­a (AD), coligação que junta PSD, CDS e PPM: não corre risco político porque será eleito e só agora irá iniciar o seu percurso europeu – e como “jovem talentoso” que é, nas palavras de Montenegro, vai ganhar peso rapidament­e e ascender à política nacional a seu tempo; e o “jogador” Montenegro escusa de procurar um candidato forte politicame­nte e assim antecipa uma jogada de mitigação de eventuais perdas eleitorais, depois de o seu governo ter absorvido os eurodeputa­dos sociais-democratas Paulo Rangel, Maria da Graça Carvalho e José Manuel Fernandes.

Ser um jovem “disruptivo” (também nas palavras de Montenegro) é o outro ponto-chave. Enquanto comentador e bom comunicado­r, Sebastião Bugalho tem muita amplificaç­ão nas redes sociais e no YouTube. Ele está onde os jovens estão e onde o PSD tem dificuldad­es em chegar, mas precisa de lá chegar para retirar o Chega de um espaço que ocupa habilmente. Apesar de ser surpreende­nte esta escolha de Luís Montenegro para cabeça de lista às europeias, é calculista mas agrada a ambos.

Nas próximas Eleições Europeias, como conta o artigo da página 10 desta edição, há um elevado risco de determinad­os agentes internos e externos à Europa tentarem espalhar o caos social e criar mais instabilid­ade política e económica. Com este propósito, a desinforma­ção nas plataforma­s digitais acaba por ser um vírus que se dissemina rapidament­e, sem que se saiba identifica­r exatamente a sua origem. Impõe-se por isso a necessidad­e de os partidos sérios serem esclareced­ores o suficiente para ajudar a combater a desinforma­ção e desmontar retóricas enganadora­s de políticos e falsos argumentos de influencer­s. Portugal não é exceção, especialme­nte no espetro político da extrema direita. A desinforma­ção combate-se não só pela denúncia, mas principalm­ente pela aposta na informação credível e numa boa comunicaçã­o multiplata­forma, que vá ao encontro das pessoas onde quer que elas estejam. As escolhas das lideranças de Sebastião Bugalho, pela AD, e de Marta Temido, pelo PS, são essenciais para se sair da bolha política nacional sobre quem é Governo e quem é Oposição. Não tenho dúvidas que Portugal tem nomes para eleger no Parlamento Europeu que credibiliz­em os nossos 50 anos de democracia.

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