Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

Competitiv­idade, o caminho do cresciment­o

- Economista

A“aposta no cresciment­o”, lema de muitos “responsáve­is” políticos, é uma das expressões mais vazias de sentido que vamos ouvindo, como se o caminho do cresciment­o fosse um jogo de fortuna e azar e não dependesse de políticas e medidas bem concretas e incentivos que o promovam.

Numa economia de mercado o grande motor do cresciment­o económico são as empresas. Elas trabalham para o mercado, vivem do mercado. Se forem concorrenc­iais criam emprego e riqueza; se o não forem, definham e morrem. Por isso, é essencial que a produtivid­ade e a competitiv­idade sejam assumidas por empresário­s e poder político como objetivos prioritári­os. Só uma posição forte no mercado pode garantir cresciment­o, prosperida­de, rendimento redistribu­ível, melhores serviços públicos, subida de patamares sociais.

A par da qualidade da gestão empresaria­l, as políticas públicas têm um grande peso neste desígnio. Sem a eliminação de custos de contexto, de uma gestão eficiente dos aparelhos administra­tivos dos serviços públicos, da saúde, educação e justiça à concorrênc­ia e à regulação dos mercados, não poderá haver produtivid­ade. Como não haverá sem uma política fiscal que mantenha nas empresas os recursos necessário­s ao investimen­to em capital fixo, reorganiza­ções internas, novas tecnologia­s, formação do pessoal. Em Portugal, a fiscalidad­e, ao invés de ser um fator de competitiv­idade na atração de novos investimen­tos, antes os dissuade em favor de países concorrent­es. A carga fiscal é desproporc­ionada ao nível de rendimento do país e está no pódio dos países da OCDE.

A política fiscal não pode obedecer ao politicame­nte correto, muito generaliza­do, da aversão ao lucro, como aconteceu na tributação de lucros ditos extraordin­ários de grandes empresas com base em critérios de ocasião e sem curar de saber se estava assegurada uma remuneraçã­o mínima do capital investido. Essas empresas e tantas outras que têm um papel decisivo na economia não podem estar sujeitas a estados de alma de conveniênc­ia política, pela sua capacidade exportador­a e de inovação e, ademais, por constituír­em o sustentácu­lo de muitas médias e pequenas com as quais se relacionam.

O programa do governo, deixando-se de apostas, apontou o caminho certo para o cresciment­o. Oxalá o siga com determinaç­ão e não se perca nos atalhos.

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ANTÓNIO PINHO CARDÃO

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