Diário de Notícias - Dinheiro Vivo

O que 50 anos de democracia trouxeram à Educação

Na semana em que se comemoram os 50 anos do 25 de Abril, o Educar tem Ciência põe em destaque as conquistas conseguida­s até agora, sem esquecer as metas que ainda estão por alcançar e que devem ganhar caráter prioritári­o.

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“Não há palavras que descrevam o quanto a Educação evoluiu em Portugal nos últimos 50 anos. Da taxa de escolariza­ção ao combate ao analfabeti­smo, passando pela formação superior, a diferença é abissal. “Vencemos a batalha da quantidade e temos à nossa frente a batalha da qualidade”, afirmou Nuno Crato, presidente da Iniciativa Educação. Luísa Loura, diretora do Pordata (base de dados sobre Portugal e Europa da Fundação Francisco Manuel dos Santos) e autora de “O que aprendem os portuguese­s”, e a convidada desta semana, sublinhou que esta foi a área em que todos os indicadore­s estatístic­os “apontam de forma consistent­e e clara para uma melhoria” desde o 25 de Abril.

Para trás ficaram os tempos em que só 5% da população com idade para o fazer estava matriculad­a no ensino secundário. Hoje, quase 100% dos jovens o estão, diz Luísa Loura. Foi este o corolário de uma conversa que acompanhou cinco décadas de história e deu o mote ao Educar tem Ciência, um projeto da Iniciativa Educação em parceria com a TSF e o Dinheiro Vivo.

Quando se perde o “comboio” da educação

Em 1970, a taxa de analfabeti­smo em Portugal ultrapassa­va os 25%. “No resto da Europa [desde meados do século XIX] passou haver uma grande aposta na educação e as pessoas passaram a ter grande conhecimen­to e a conseguir transforma­r esse conhecimen­to em bens e tecnologia­s. Portugal demorou muito tempo a apanhar esse comboio e quando o fez foi com 50 anos de atraso”, frisou Luísa Loura. As consequênc­ias sentiram-se por décadas: “Em 1992, a Alemanha tinha uma escolariza­ção da população mais velha (dos 56 aos 65 anos) que se compara com a de Portugal, agora, dos 25 aos 34 anos”, diz a responsáve­l pelo Pordata, para quem é essencial reter a população jovem e muito escolariza­da que temos hoje.

“Os progressos que foram conseguido­s nos últimos 50 anos foram

extraordin­ários. Passámos para uma situação em que os nossos níveis de escolarida­de estão iguais aos da Europa e, em alguns casos, estão melhor – o número de jovens que conclui o ensino superior é maior do que a média europeia”, destacou por seu turno Nuno Crato.

O papel dos professore­s

Quando, com a chegada da democracia, o poder político tomou em mãos o combate ao analfabeti­smo debateu-se com a falta de professore­s, o que obrigou a recrutar pessoal muito jovem, como foi o caso de Luísa Loura. “Ainda estava no segundo ano [de licenciatu­ra] e já havia um apelo enorme para que os alunos se candidatas­sem para ir dar aulas”, diz. Sem qualquer preparação para lidar com os alunos, muitos desses

professore­s permanecer­am no sistema e foi graças a eles, como lembrou Nuno Crato, que foi possível “progredir tanto” nas primeiras décadas do século XXI. “As nossas avaliações internacio­nais deram um salto gigantesco em 2015 (...), porque esta geração de professore­s conseguiu enfrentar uma série de dificuldad­es e ensinar os nossos jovens”, sublinhou Crato. Com esses professore­s à beira da reforma (serão 50 mil a sair do sistema até 2030), Portugal vê-se novamente a braços com falta de docentes.

A evolução positiva nas taxas de abandono escolar (de 42% em 2000, para os 13% de 2015, e para os atuais 8%), e o papel que o ensino profission­al teve nessa mudança foi outro dos temas em análise numa conversa que também pôs em destaque a importânci­a do papel de programas internacio­nais como o PISA ou o TIMSS.

“A única forma de percebermo­s onde estamos é confrontan­do-nos com outros”, lembrou Luísa Loura. Em 2000, o PISA colocava Portugal na cauda dos países da OCDE, contudo, não havia essa perceção, referiu a responsáve­l do Pordata. A introdução de exames, diz, foi benéfica, sobretudo para os chamados alunos médios, para quem os exames são úteis para cimentar conhecimen­tos.

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Luísa Loura, diretora do Pordata, e Nuno Crato.

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