Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
50 anos depois continua a valer a pena
“A“Muito do que foi atingido nestes indicadores de bem-estar se deve ao esforço e à capacidade do país, que logrou concretizar, em larga medida, um dos três D’s da revolução: o desenvolvimento.”
paz, o pão, habitação, saúde, educação”, cantava Sérgio Godinho em 1974, resumindo aquelas que eram as grandes aspirações do povo português à época. Hoje, 50 anos passados desde o 25 de Abril, podemos afirmar que essas aspirações foram em grande parte satisfeitas. A partir desse “dia inicial inteiro e limpo”, que desencadeou o processo de democratização do país, Portugal alcançou valores nos principais indicadores de bem-estar que o colocam entre as nações desenvolvidas.
O PIB per capita mais do que duplicou, passando de 9,5 mil euros, em 1974, para 19,3 mil euros, em 2022. As exportações de bens e serviços aumentaram de 20,4%, em 1974, para 50,2%, em 2022. Os ativos das instituições financeiras monetárias evoluíram de 120% do PIB, em
1974, para 230%, em 2022. Em 1974, Portugal tinha uma das maiores taxas de analfabetismo da Europa, acima dos 25%, mas, em 2021, o valor era de apenas 3,1% (menos de 300 mil pessoas). A nossa taxa de mortalidade infantil é hoje uma das mais baixas do mundo e o país tem um dos mais elevados rácios de médicos por milhar de habitantes da Europa. Atualmente, o saneamento chega a mais de 99% das habitações, enquanto nos anos 70 só 60% das casas tinham ligação à rede de esgotos.
É claro que tudo isto também resultou da integração de Portugal na Europa comunitária, em 1986, e da própria evolução do mundo. Mas também é verdade que muito do que foi atingido nestes indicadores de bem-estar se deve ao esforço e à capacidade do país, que logrou concretizar, em larga medida, um dos três D’s da revolução: o desenvolvimento. Isto apesar dos atuais problemas no acesso à habitação, das disfuncionalidades do SNS, da perda de qualidade do ensino público, do défice de competitividade, produtividade e escala do tecido empresarial, do atraso na ferrovia e da falta de um novo aeroporto internacional, da emigração de jovens qualificados ou do acelerado envelhecimento populacional.
Portugal está hoje francamente melhor e tem em liberdade e democracia – no seio da UE e como país atlantista e com especiais relações com África – condições de excelência para elevar os seus níveis de desenvolvimento. Numa altura de grandes transformações no mundo, há que saber aproveitar as oportunidades abertas pela ciência e a tecnologia. Ora, isto só se faz com uma transição geracional, que traga para os centros de decisão uma nova geração de portugueses reconhecidamente bem preparados e qualificados.